Christian Faricelli (à esquerda) e Tiago Ring, gestores da Absolute Investimentos (Leandro Fonseca/Exame)
Beatriz Quesada
Publicado em 7 de abril de 2022 às 07h15.
Última atualização em 7 de abril de 2022 às 08h32.
Investir em ações no Brasil exige que o gestor esteja atento ao cenário macroeconômico, segundo Christian Faricelli, sócio e gestor de ações do Absolute Pace. O produto foi o vencedor da categoria Fundos de Ações – Long Bias na premiação Melhores do Mercado da EXAME, o ranking mais tradicional da indústria de fundos de investimento do país.
Para Faricelli, parte do resultado do fundo vem justamente do olhar atento ao que está acontecendo fora dos balanços das empresas. “Investir no Brasil é estar às vezes na Suíça e, em outras, na Venezuela. Para lidar com a volatilidade, acreditamos que é importante trazer premissas da área macroeconômica para compor a estratégia de análise fundamentalista”, disse o gestor à EXAME Invest.
Confira os principais trechos da entrevista, em que o gestor comentou o desempenho do fundo no último ano e as perspectivas para 2022.
O que explica o desempenho do Absolute Pace em 2021?
A indústria de fundos brasileira performou muito mal em 2021, com vários fundos de bom histórico apresentando rentabilidade negativa. Na minha leitura, uma das explicações é o fenômeno de que algumas ações viram consenso no Brasil, com 90% dos gestores comprados no papel. O nosso diferencial foi justamente ter uma cabeça proprietária.
Qual o diferencial da estratégia adotada pela gestora?
Nossa estratégia é essencialmente fundamentalista: entender o que está barato e o que está caro de acordo com os fundamentos de cada empresa. É o nosso carro-chefe. Mas, diferentemente de outras casas, adotamos o cenário macroeconômico como orientação de médio a longo prazo. Ou seja, usamos premissas da área macro e observamos como isso influencia o aspecto microeconômico das empresas. É algo muito importante, ainda mais operando no Brasil.
Em que o Brasil se difere de outros mercados?
Investir no Brasil é estar às vezes na Suíça e, em outras, na Venezuela. Para lidar com a volatilidade, acreditamos que é importante trazer premissas da área macroeconômica para compor a estratégia de análise fundamentalista. Essa postura se torna ainda mais relevante para este ano, quando teremos eleições, inflação e um PIB baixo.
No exterior, um cenário global incerto, com conflitos geopolíticos na Ucrânia e elevação da taxa básica de juros nos Estados Unidos. É uma conjuntura que favorece a junção das análises macro e microeconômica, que é uma das principais características do Absolute Pace.
Quais eram as principais posições do fundo no último ano? De onde vieram os ganhos?
Em primeiro lugar, tínhamos uma posição relevante em commodities na carteira, cerca de um terço do nosso portfólio estava voltado para o setor. Tivemos ganhos principalmente com petróleo, mineração e proteína animal. As ações de tecnologia no exterior também tiveram bom desempenho no ano passado e ajudaram nossa carteira.
Além disso, apostamos contra as queridinhas e fizemos muito dinheiro com operações vendidas [em que o investidor aposta na queda da cotação de um determinada ação], principalmente nos setores de adquirentes, e-commerce, bancos digitais e empresas aéreas. A bolsa caiu 17% no segundo semestre de 2021, e entregamos 5% de rentabilidade no mesmo período apenas com operações de short.
E para este ano, qual a estratégia do fundo?
Para 2022, o cenário macroeconômico está mais complicado e estamos menos otimistas com a bolsa americana – reduzimos, por exemplo, nossa posição em techs nos EUA. Não temos mais posições vendidas convictas, mas mantivemos outra estratégia que foi vencedora no último ano: manter commodities como um risco relevante da carteira. Algumas empresas ainda estão baratas e olhamos com atenção para setores como energia e transportes.