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Ricardo Schweitzer: 'Compare bananas com bananas'

Yields de dividendos não são diretamente comparáveis com rentabilidades de renda fixa. Entenda o porquê

'Tenho percebido um número crescente de investidores comparando os dividend yields de ações com o retorno da renda fixa' (Germano Lüders/Exame)

'Tenho percebido um número crescente de investidores comparando os dividend yields de ações com o retorno da renda fixa' (Germano Lüders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 30 de abril de 2022 às 08h30.

Última atualização em 30 de abril de 2022 às 11h31.

Por Ricardo Schweitzer*

Passamos recentemente por um período de taxas de juros excepcionalmente baixas no Brasil. Mas eis que, reafirmando nossa sina de eterno país do futuro, logo tratamos de voltar a nosso status quo de juros nominais de dois dígitos.

Durante o período de baixa da Selic, muitos investidores buscaram em ações pagadoras de dividendos (e, a bem da verdade, também em fundos imobiliários) alternativas de geração de renda recorrente. A bem da verdade, o período de baixa dos juros foi importante para ampliar o acesso do investidor brasileiro à bolsa de maneira mais ampla – mas hoje, especificamente, vamos nos ater aos investidores cujo foco era renda.

Pois bem: com o retorno da renda fixa pós-fixada a patamares percebidos como mais atrativos, tenho percebido um número crescente de investidores comparando os dividend yields de ações com o retorno da renda fixa e, constatando que a Selic é maior, concluindo que é mais vantajoso voltar a seu lugar de origem.

Há um problema nessa comparação. E é dele que me ocupo neste artigo para a EXAME Invest.

Sobre a renda fixa, tem-se, primeiro: ressalvadas exceções muito específicas, das quais é desnecessário nos ocuparmos aqui, os investimentos em renda fixa têm prazo definido. Um CDB, por exemplo, remunera o capital aplicado do momento da aplicação até seu prazo de vencimento – que, quando alcançado, pode dar lugar a uma nova aplicação idêntica, é verdade, mas ainda assim tem prazo.

Segundo: findo o prazo, o investimento em renda fixa devolve ao credor o valor principal. Na hipótese de se tratar de um produto indexado (que paga, por exemplo, IPCA+X% a.a.), o principal é corrigido (no exemplo acima, pela inflação expressa pelo referido índice). Mas, ainda assim, é o principal.

Com relação ao primeiro ponto, o fato é que, numa ação que paga dividendos, o prazo é indeterminado: aquele ativo gerará um fluxo de proventos para seu detentor enquanto a empresa existir e for economicamente saudável a ponto de remunerar seus acionistas. Se acreditamos que o dinheiro tem valor no tempo, então investimentos com prazos diferentes (no caso, um determinado e outro indeterminado – para não dizer infinito), então as taxas não são comparáveis entre si.

Com relação ao segundo ponto, a diferença é ainda mais latente: supondo que você decida manter uma ação por um prazo determinado e, então, a venda, o valor da venda não é o mesmo que o principal, como na renda fixa, mas sim o preço da ação na ocasião – que, se acreditarmos na tal convergência de preço e valor no longo prazo, equivalerá ao valor presente esperado do fluxo de dividendos esperado dali para a frente.

E é esse segundo ponto que produz a maior diferença entre um investimento em renda fixa carregado até o vencimento e um investimento em ações pagadoras de dividendos: enquanto, no primeiro caso, o retorno total é dado pelos juros, no segundo ele é uma combinação de proventos e potencial ganho de capital decorrente da incorporação, nos preços, das expectativas sobre os fluxos posteriores à venda da ação.

Portanto, não dá para comparar rentabilidade de renda fixa com yield de ação, pois o yield é somente parte do retorno total potencial – a outra parte corresponde a ganho de capital.

Por óbvio, também, são investimentos com riscos diferentes. Mas isso acho que está suficientemente claro a ponto de dispensar maiores explicações.

Outra ideia muito comum é a de que dividendo não gera valor ao acionista, pois seu montante é descontado do preço de mercado da ação na data ex.

Essa visão é bastante equivocada e também merece explicações – mas essa eu deixarei para a próxima oportunidade.

Enquanto isso, sigo participando do debate público sobre investimentos por meio das minhas redes sociais – nas quais a sua companhia, caso assim deseje, será mais do que bem-vinda.

Até a próxima!

*Ricardo Schweitzer é analista CNPI, consultor CVM e investidor profissional. Escreve para a EXAME Invest a cada duas semanas.

Twitter: @_rschweitzer
Instagram: @ricardoschweitzer

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