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Open banking tem desafio de marketing à frente

Pesquisa realizada em maio apontou que 56% dos brasileiros com acesso à internet não conhecem ou nunca ouviram falar sobre o open banking

O open banking tem o potencial de reduzir o custo do dinheiro a milhões de brasileiros, com base no acesso de seu histórico por instituições financeiras | Foto: Carla Nichiata/Getty Images (Carla Nichiata/Getty Images)

O open banking tem o potencial de reduzir o custo do dinheiro a milhões de brasileiros, com base no acesso de seu histórico por instituições financeiras | Foto: Carla Nichiata/Getty Images (Carla Nichiata/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 27 de junho de 2021 às 17h20.

Por Maxnaun Gutierrez*

Em poucas semanas, os brasileiros poderão decidir se compartilham com instituições financeiras seus dados cadastrais e informações sobre transações em suas contas, cartão de crédito e produtos de crédito contratados. Em 15 de julho, começa, no Brasil, a segunda fase do open banking, plataforma baseada em uma infraestrutura tecnológica que permitirá ao cliente compartilhar seus dados com uma grande variedade de instituições financeiras.

O novo sistema é transformador. Pela primeira vez, uma estrutura oficial se ergue no segmento financeiro para dizer que os dados que os clientes cedem às empresas são de propriedade dos próprios clientes, e não das empresas.

Hoje, um banco ou uma instituição de pagamento não consegue saber como um consumidor se relaciona com outras empresas do sistema bancário brasileiro. O histórico que o cliente constrói com a instituição não o acompanha quando ele parte para outra. Difícil saber, por exemplo, se ele é um bom pagador ou quanto de crédito teve aprovado em outra instituição. Segundo o Banco Mundial, cerca de 20% dos adultos no Brasil não têm informações disponíveis nos birôs privados de crédito.

Com o open banking, essa dificuldade em conhecer o consumidor tende a ser imensamente reduzida. Nos casos em que o consumidor autorizar, por um período determinado e uma finalidade específica, ele poderá simplesmente carregar suas informações de uma instituição financeira para outra, caso enxergue vantagens nisso.

O principal benefício para o cidadão, como defendem as entidades que estão implementando o open banking em diversas partes do mundo, é a possibilidade de ter acesso a ofertas de produtos e serviços mais adequados ao próprio perfil, a custos mais acessíveis e de forma ágil e segura.

Para os estudiosos do tema, empreendedores interessados em criar novos serviços financeiros e em especial para as instituições financeiras que buscam avançar na relação com clientes que pouco conhecem, isso tudo desperta entusiasmo.

Na mesma medida em que é descrito como “revolucionário” por especialistas, o open banking é um total desconhecido dos brasileiros. A poucas semanas de ser implementado, a realidade é que o consumidor ainda não entendeu o novo sistema.

Segundo pesquisa C6 Bank/Ipec, 56% dos brasileiros com acesso à internet não conhecem ou nunca ouviram falar sobre o open banking. Quando apresentados a alternativas para definirem o novo sistema, 37% dos entrevistados disseram que o open banking é um novo banco digital; 23% não souberam definir, outros 12% acreditam se tratar de agências bancárias abertas 24 horas por dia e 1% disse que é um evento com comida e bebida liberadas.

Embora 23% dos brasileiros estejam interessados em compartilhar dados pessoais com instituições financeiras em troca de economia com tarifas e taxa de juros, parte significativa ainda desconhece as vantagens do sistema financeiro aberto.

Segundo o estudo, 33% não têm interesse em compartilhar seus dados e 44% não sabem dizer se querem ou não abrir seus dados. A pesquisa foi feita entre os dias 20 e 27 de maio deste ano, com 2.000 brasileiros das classes A, B e C com acesso à internet. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

A dificuldade de entendimento sobre o sistema não acontece só no Brasil. A novidade é recente no mundo todo e demorou a ganhar terreno até no Reino Unido, o pioneiro do open banking. No Canadá, uma pesquisa qualitativa publicada pelo governo em março de 2019 também indicou que a população tinha dificuldades para entender o novo sistema.

O Banco Central tem feito um trabalho exemplar para reunir informações nos seus canais oficiais, participar de eventos de divulgação do sistema e explicar o open banking para a população. Entidades que reúnem instituições financeiras no Brasil também estão empenhadas em disseminar o conhecimento sobre a nova tecnologia. Mas o entendimento desse novo cenário ainda é limitado.

Diferentemente do Pix, que é um produto para transferir dinheiro, com vantagens muito claras e que já conquistou em larga escala a população, o open banking é um ambiente que inaugura um jeito diferente de lidar com a vida financeira das pessoas.

Tornar esse ambiente tangível para o consumidor final vai depender da adoção do sistema no mercado. Espera-se que, com as portas abertas para o deslocamento dos dados, várias iniciativas financeiras inovadoras surjam, de agregadores de tarifas de serviços a soluções que permitirão atividades antes restritas apenas ao ambiente da instituição onde o cliente tem conta. As possibilidades de inovação são ilimitadas.

À medida que o conceito for traduzido em soluções concretas e as fases da implementação do open banking no país avançarem, a resistência à novidade deve diminuir. Até lá, fica o desafio para todos nós, os atores do sistema financeiro, de mostrar para os brasileiros o que significa o novo sistema.

*Maxnaun Gutierrez é head de produtos e pessoa física do C6 Bank.

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