BlackRock: É impossível prever, porém, quando exatamente uma temporada de desvalorização das bolsas dará lugar a uma trajetória de valorização (Bloomberg/Bloomberg)
Karla Mamona
Publicado em 12 de agosto de 2022 às 09h23.
O mercado de capitais passa por um momento de grande volatilidade. Depois da pandemia de covid-19 e da invasão da Ucrânia, a escalada inflacionária fez bancos centrais de diversos países trocarem políticas expansionistas por aperto monetário. No entanto, as incertezas – sobre a magnitude da inflação, a persistência de juros elevados e seus impactos no crescimento das principais economias mundiais - persistem. Essas incertezas têm causado uma queda em ações e títulos de renda fixa ao mesmo tempo, o que não é comum. Um reflexo de muitas dúvidas e ansiedade entre investidores.
Ações são investimentos de longo prazo. Há ciclos de alta e de baixa, mas com o passar dos anos o resultado geralmente é positivo. É impossível prever, porém, quando exatamente uma temporada de desvalorização das bolsas dará lugar a uma trajetória de valorização. Para não perder o ponto de virada, a melhor estratégia é permanecer no mercado.
Mesmo em épocas de incerteza, é possível identificar atividades com potencial para melhorar o desempenho das carteiras em médio e longo prazos. A BlackRock enxerga cinco movimentos que vão promover transformações significativas na economia mundial nas próximas décadas, as “megatendências”. São elas: mudanças climáticas, mudanças demográficas e sociais, mudanças de poder econômico, rápida urbanização e avanços tecnológicos.
Verdadeiras estradas para o futuro, as megatendências apontam para modificações permanentes em grandes áreas como a indústria, o setor de saúde e o mercado de consumo. Transformações assim geram oportunidades atraentes ao longo de vários ciclos econômicos.
Dentro de cada uma existem temas de investimento que podem ser encampados imediatamente, como energia limpa e veículos elétricos, para redução de emissões; avanços na medicina e alimentos saudáveis, com uma população mais velha e exigente; expansão da economia digital, com o fortalecimento do consumo em países emergentes; melhor infraestrutura e maior mobilidade, necessárias para a crescente urbanização; e tecnologias de inteligência artificial e robótica, para tornar os empreendimentos mais eficientes.
Muitos processos foram acelerados na pandemia, como a digitalização dos negócios e a introdução de novos medicamentos. Das primeiras pesquisas ao uso, o desenvolvimento de vacinas contra covid-19 foi dez vezes mais rápido do que a média histórica do setor, segundo a consultoria McKinsey. O exemplo mostra que o ritmo de descobertas da medicina tende a ser cada vez maior.
A pandemia exacerbou também gargalos de logística e nas cadeias mundiais de abastecimento. O transporte de cargas da Ásia à América do Norte ficou 125% mais demorado, de acordo com a revista American Shipper. Os preços dos fretes aumentaram consideravelmente, assim como os custos das matérias-primas.
Neste cenário, indústrias dos Estados Unidos estão retomando a produção local e diversificando fornecedores, mas ao mesmo tempo há escassez de mão de obra.
Estes fatores impulsionam a demanda por infraestrutura mais moderna, meios de transporte eficientes e automação. Tecnologias físicas têm agora que alcançar o patamar de avanço das digitais.
As megatendências são palpáveis. Estão em andamento faz algum tempo, vão continuar em trajetória de crescimento - provavelmente acelerado - e terão efeitos duradouros. São temas que o investidor pode abraçar com convicção em meio à volatilidade, pois ajudam a filtrar os ruídos que geram tantas incertezas.
Profissionais do mercado têm condições de criar índices e carteiras temáticas norteadas pelas megatendências, ajudando o investidor a navegar as turbulências. Algumas das opções de veículos são os ETFs, mais conhecidos como “fundos de índices”, e BDRs de ETFs, recibos de fundos negociados lá fora. Eles dão acesso a cestas de ações ou títulos capazes de capturar o potencial de retorno destes movimentos de forma ampla, democrática, com transparência e baixo custo.
*Head da BlackRock no Brasil