Fundos quantitativos: o ponto de conexão está no método para abordar os dados: a ciência, com rigor técnico, replicabilidade e análise estatística (Divulgação/Shutterstock)
Juliana Machado*
Publicado em 22 de junho de 2022 às 16h53.
A gestão quantitativa se diferencia da gestão discricionária somente porque utiliza diretamente algoritmos e método científico – e não somente a visão de um ser humano – na decisão do investimento. O processo é imperfeito, mas é melhor do que investir apenas de maneira discricionária, por melhor que seja a capacidade analítica do gestor. Essa é a conclusão de um grupo de gestoras quantitativas, umas com mais uso de discricionariedade, outras menos, em evento organizado pelo BTG Pactual para tratar do tema, o Quant Day.
Na mesa de debate, alguns dos nomes mais proeminentes da gestão quanti no Brasil – Newfoundland, DAO Capital, Clave Capital, Enter Capital e Kadima – dedicaram algumas horas para explicar a pouco intuitiva diferença entre as casas que utilizam modelos quanti no seu processo de investimento. Por maior que sejam as semelhanças entre elas, a ponto de existir um segmento de investimento chamado de “quanti” na maioria das corretoras, a verdade é que cada gestora implementa a análise dos dados de forma diferente. O ponto de conexão está no método para abordar os dados: a ciência, com rigor técnico, replicabilidade e análise estatística.
“Fundos sistemáticos não são iguais entre si. Só por serem classificados como sistemáticos não quer dizer que sejam iguais”, afirma Sergio Blank, sócio e fundador da Kadima Asset Management. “Em 15 anos de asset, por exemplo, reunimos uma biblioteca de modelos que nos permite ofertar produtos long only, long & short, inflação.”
“É um sistema imperfeito, mas é melhor do que o ser humano tomando uma decisão no calor do momento. Eu confio mais na nossa diversificação e sistematização para tirar posições da carteira do que no meu julgamento. A nossa parte discricionária está na construção do modelo, depois eu saio da frente. Preferimos desse jeito”, diz Fabio Motta, sócio fundador da DAO Capital.
A despeito dos fundos quanti usarem metodologia científica e ciência de dados de forma bem mais intensa do que fundos “convencionais”, a verdade é que todos os fundos são quantitativos em alguma medida – afinal, todos os gestores precisam usar análise de dados, em maior ou menor grau, aliado à pesquisa. Justamente por isso é incorreto tratar a gestão quantitativa como uma classe: “quanti” não é ativo, e sim uma abordagem, usada em ativos como câmbio, juros, ações, com mais concentração em um ou outro e com finalidades diferentes.
“Todas as gestoras são quantitativas, o que muda é o tamanho do uso [de algoritmos]. A beleza é a combinação das duas formas de gestão, quantitativa e discricionária, porque elas tratam problemas diferentes”, afirma Moacir Fernandes, diretor de investimentos sistemáticos da Clave Capital.
Renato Naigeborin, sócio e codiretor de investimentos da Enter Capital, segue raciocínio semelhante. “Não tem certo e errado, são abordagens diferentes. No começo do nosso fundo, a cada 5 ideias novas, 2 passavam no crivo”, afirma. “Precisa de background de mercado também, não só para ter as ideias, mas para ser capaz de criticá-las. No começo, tínhamos 2 estratégias, agora temos 30.”
“Esse tipo de fundo cumpre um papel, não é um passeio aleatório, são fundos com capacidade de geração de alfa e com um importante papel de descorrelação, além de melhora do sharpe do portfólio, porque essa maneira de abordar [ativos no mercado financeiro] você não costuma ter na sua carteira”, afirma Eric Fonseca, cofundador e gestor da Newfoundland.
*Juliana Machado é analista CNPI de fundos de investimento e integra o time de análise e seleção de fundos do BTG Pactual. Antes, atuou na área de análise de fundos da Exame, para onde escreve regularmente. É jornalista de formação, pós-graduada em economia brasileira e escreveu por quatro anos para o Valor Econômico.