Para especialistas, não há motivo para resgates, mas, sim, cautela na alocação daqui para a frente (Spencer Platt/Getty Images)
Marília Almeida
Publicado em 21 de abril de 2022 às 08h00.
Depois de atingir recordes de pontuação no fim do ano passado, os principais índices de ações das bolsas americanas, bem como o dólar, passaram a se desvalorizar desde o início de 2022.
Desde o fim de 2021 até a sessão da última terça-feira, dia 19 de abril, o S&P 500 perdeu cerca de 6,5% em pontuação. Já o índice Nasdaq 100 desvalorizou cerca de 13% no mesmo período. O dólar, cotado a R$ 5,58 no fechamento do ano passado, encerrou a sessão da terça negociado a R$ 4,67, uma queda de 16,3%.
Os índices ensaiam uma recuperação em meio à precificação do aperto monetário iniciado pelo Fed. O banco central americano subiu a taxa de juros em 0,25 ponto percentual em março e sinalizou mais seis aumentos ao longo do ano.
Mas aumentam as apostas de que a escalada dos juros possa ser mais agressiva, com aumentos de 0,50 ponto percentual, em razão da inflação em níveis mais elevados que o esperado. E isso aumenta a volatilidade no mercado.
Nesse cenário, investidores que começaram a investir lá fora em anos recentes, em um momento de mercado em alta, podem se perguntar se ainda vale a pena continuar a aplicar no exterior. Para especialistas, não restam dúvidas de que sim.
William Eid, professor do Centro de Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Cef), afirmou à EXAME Invest que entre as vantagens do investimento do exterior está a diversificação do risco econômico e político, além do acesso a mercados inexistentes no país. "A economia americana é uma das mais pujantes mundo. Nos últimos cinco anos, o S&P 500 (índice que reúne 500 das maiores empresas americanas) dobrou."
Para Willian Castro Alves, sócio da Avenue, muitos clientes enxergaram no momento de baixa do mercado uma oportunidade. Como consequência, a corretora voltada para o investimento de brasileiros no exterior registrou recorde de captação em março, de R$ 500 milhões, atingindo R$ 1,5 bilhão em ativos sob gestão.
"Muita gente estava esperando o dólar cair para começar a investir ou aplicar mais. Com o real mais valorizado, é possível pagar menos por uma ação que já está mais barata. É um duplo desconto", afirmou.
A diversificação de investimentos, disse Castro, é uma tendência global. "O americano diversifica seus investimentos em mais de um país. Por que o brasileiro não iria fazer isso? O rating do Brasil é semelhante ao de Bangladesh, e não ao dos Estados Unidos e da Dinamarca. Nós corremos risco por aqui."
"O país é emergente: cresce pouco e volta e meia passa por crises econômicas. Já temos nossa renda futura atrelada ao Brasil, no mercado de trabalho. Por que ter todos os investimentos aqui também?", questionou.
Eid ressaltou que a alocação de parte do patrimônio no exterior deve ter objetivos de longo prazo. "Quem tenta achar a hora certa de entrar e sair do dólar erra sempre: poucos acertam. O câmbio só é neutro em períodos mais longos. Quem investe no curto prazo não usufrui desse benefício", disse o professor da FGV-Cef.
Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de ações e derivativos do BTG Pactual, aconselhou cautela na escolha dos setores para os quais direcionar os investimentos no exterior agora. "A alta dos juros [pelo Fed] busca controlar a inflação, e isso impacta alguns setores bem mais do que outros."
Ele citou como exemplo o setor de tecnologia. "Na última década, as ações de tecnologia registraram as maiores altas na bolsa americana, mas o setor é o mais afetado agora. Isso porque, além de dependerem de um crescimento econômico mais robusto, as empresas do segmento são mais alavancadas porque estão em expansão."
Portanto, aconselhou o especialista, é o momento de fugir de ações "da moda" ou do investimento em índices genéricos. "Como as empresas de tecnologia têm maior peso nos índices, isso afeta o desempenho desses produtos e o investidor fica mais exposto a elas." A fatia de investimentos lá fora, afirmou, deve seguir em renda variável. "Muitos investidores olham agora para empresas da velha economia. Grandes petrolíferas e bancos lá fora vêm performando bem."