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Queda da Selic está pouquíssimo precificada na bolsa, diz Paulo Abreu, da Mantaro Capital

Gestor acredita que o momento de se posicionar em bolsa é agora, antes do início dos cortes de juros

 (Mantaro Capital/Divulgação)

(Mantaro Capital/Divulgação)

Guilherme Guilherme
Guilherme Guilherme

Repórter de Invest

Publicado em 15 de julho de 2023 às 07h00.

 O início do ciclo queda de juros no Brasil, previsto para o início de agosto, deverá ser o gatilho para altas expressivas na bolsa de valores. Esta é a expectativa de Paulo Abreu, gestor e sócio da Mantaro Capital. Por isso, o momento de se pocionar em ações é agora, disse em entrevista à Exame Invest

"Tem quem diga que o gatilho mais relevante será quando a renda fixa passar a pagar menos de 1% ao mês. Mas quando isso acontecer, o mercado já terá antecipado."

O Ibovespa acumula cerca de 7% de alta desde o início do ano. Mas a alta, segundo Abreu, reflete apenas a redução da percepção de risco atrelada ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A esperada queda de juros, afirmou, "parece estar muito, muito pouco precificada". Porém, dada a concentração do Ibovespa em commodities, Abreu avalia que o grande potencial da bolsa no segundo semestre será em empresas e setores específicos. "Vai precisar ser bem seletivo." 

Um dos setores que, na visão do gstor, deverão se beneficiar do novo cenário o de construtoras de baixa renda, especialmente por mudanças no programa "Minha Casa, Minha Vida". "Foram, realmente, transformacionais. Não à toa que a Direcional e a MRV estão captando para construir."

Carioca. Paulo Abreu iniciou sua carreira como gestor em 2005 na Opportunity, onde permaneceu até 2011, quando saiu para montar a Pacífico. No ano passado, a Pacífico se dividiu em duas gestoras, sendo uma delas a Mantaro Capital. Os fundos e a equipe de renda variável da Pacífico foram transferidos para a Mantaro. A gestora tem R$ 600 milhões sob gestão dividos em três categorias de fundos: long only, long biased e hedge equity. Responsável pelo long biased, Paulo Abreu revelou que tem posicionado suas peças em modo de ataque.

Confira a entrevista com Paulo Abreu, gestor e sócio da Mantaro Capital.

Temos visto bancos e corretoras revisando para cima as projeções para a Ibovespa. Qual é o espaço para a bolsa subir, depois de toda a valorização do primeiro semestre? 

Acho que ainda tem um bom espaço. Olhando em momento de ciclo, tivemos apenas uma descontração. A bolsa já começou a subir um pouco, mas é um movimento ainda muito tímido. Reflete só a redução da percepção de que o governo seria extremamente irresponsável fiscalmente. Isso já começou a sair do preço. 

Mas, nessa história, há uma sinalização evidente de mudança no ciclo monetário. Agora, vamos passar por um momento de queda de juros e esses momentos de transição nos chamam muita atenção. Isso parece estar muito, muito pouco precificado. Então, tem ativos com um potencial de crescimento bem grande em um cenário um pouco mais positivo, e não em um em que o patamar de juros é insustentável de tão alto.

 Tendo em vista a concentração do Ibovespa em commodities. Será preciso ser mais seletivo no segundo semestre?

 Vai precisar ser bem seletivo. O Ibovespa tem peso relevante de commodity e estamos menos otimistas com minério de ferro e celulose. Estamos ligeiramente otimistas com o preço do petróleo. Mas temos preferência pela PetroRio [com menor participação no Ibovespa], porque uma alta muito forte do petróleo poderia não ser tão favorável para a Petrobras, já que poderia afetar o repasse de preço. O Ibovespa tem um bom espaço de alta, mas acho que as carteiras ativas, diferentemente do que aconteceu nos últimos 24 meses, terão um grande espaço para superar o índice. 

 O início do ciclo de queda de juros, que o mercado já espera para a decisão de agosto, poderá ser o gatilho para a alta da bolsa? 

Acredito que esse será o gatilho para a bolsa subir ainda mais. Tem quem diga que o gatilho mais relevante será quando a renda fixa passar a pagar menos de 1% ao mês. Mas quando isso acontecer, o mercado já terá antecipado. Quando estiver muito óbvio, a bolsa já vai ter subido. É o jogo da bolsa, o jogo de expectativa sobre o futuro. Não é um jogo de economia corrente. O mercado antecipa, por isso o momento de estar posicionado é agora.

 De quanto será o período entre o Banco Central começar a cortar juros e as empresas sentirem os efeitos no balanço, seja na linha da receita ou na de despesas financeiras? 

O efeito direto no resultado financeiro será só quando a taxa de juros cair de fato. Mas o efeito na demanda é mais difícil de prever. Às vezes, se houver um ambiente mais positivo, os bancos poderão se antecipar e aumentar a oferta de crédito. 

O grande foco será avaliar os discursos das empresas, porque os números ainda deverão vir fracos. É nesses momentos que a bolsa vai bem, antes mesmo dos resultados aparecerem.

Nesse cenário de queda de juros que já se vislumbra, quais ações e setores sairão vitoriosos?

A carteira não é só um tema, há vários. Os pró-cíclicos são os que achamos que irão melhor. A parte do setor financeiro achamos que há muito para expandir. Temos BTG, XP e B3 e uma parcela em Itaú também, mas por motivos diferentes. 

Parte relevante de todos esses resgates de fundos e menor participação de pessoa física tem a ver com juro e com o custo de oportunidade das pessoas. É difícil competir com o CDI acima de 13. É um patamar extremamente elevado e  contracionista. Mas a nossa visão é que, com a reversão do ciclo de aperto monetário, há muito espaço para empresas como, XP, BTG e Nubank se beneficiarem. Os clientes dessas empresas, vão migrar para produtos com mais volatilidade. Só essa troca já gera um ganho para XP e para o BTG, com produtos com taxas maiores.Outro tema que deve performar bem nesse cenário é o varejo.

Como vocês estão posicionados no setor de varejo?

Temos empresas voltadas para o público de renda um pouco mais alta, como Vivara e Arezzo. São empresas com controladores muito bons. Também temos ação da Renner, que está sendo negociada a 10x preço/lucro para 2024. A empresa tem sofrido com a concorrência da Shein, que tem vantagens tributárias que chegam a ser danosas para a indústria local. Isso ainda deverá ser endereçado. A Renner também tem feito investimentos internos, que ainda aparecem como despesas. Mas quando a demanda ensaiar uma retomada, começaremos a ver os frutos. O mercado  pode estar subestimando o potencial de ganho da Renner. É uma empresa muito boa e que está à frente de seus concorrentes. 

Em empresas com demanda mais elástica e potencialmente mais arriscadas, como Magazine Luiza e Via, vocês têm alguma posição? 

Os riscos são relevantes para essas empresas. Quanto mais elástica é a empresa em relação à situação econômica, maior é o carrego negativo. O tempo joga contra até acontecer essa retomada, mas também são as que mais podem se beneficiar da retomada. Dessas, temos uma posição pequena Magalu. A posição é pequena porque tenho que me preocupar com o quanto podemos perder em cada caso de investimento, não só em quanto podemos ganhar. É uma posição que tem muito a se beneficiar, mas está numa posição mais frágil, apesar de todas as qualidades da empresa. É um setor bastante difícil, extremamente cíclico.

 Em conversa recente, o  senhor disse que o novo “Minha Casa, Minha Vida” é transformacional para empresas do setor. Poderia explicar a tese. 

Claro. O “Minha Casa, Minha Vida” é um programa nacional num país que tem uma demanda quase infinita pelo produto. O déficit habitacional no Brasil é muito relevante e crescente. É um programa que existe há bastante tempo e funcionou muito bem, só que ficou muito tempo sem ajuste, especialmente no momento que houve um choque inflacionário. O segmento sofreu muito com a inflação, já que a empresa não consegue repassar essa inflação para os consumidores, porque o programa tem um determinado teto. E ela sofre também porque o público é mais sensível à inflação.

Desde o ano passado, começamos a ver algumas mudanças no programa. Mas o que para nós foi realmente transformacional foi a mudança feita por este novo governo. Eles aumentaram o subsídio para o programa, reduziram a taxa de financiamento com prazos mais alongados e elevaram o preço máximo em todo o Brasil. Tinham muitas construtoras listadas que estavam lançando fora do programa. Falta a condição de entregar o produto de forma rentável e isso o programa está endereçando bem. É, de fato, transformacional para o setor. Não à toa que a Direcional e a MRV estão captando para construir. 

Disse que no setor financeiro a Mantaro tem posição relevante no Itaú. É a maior aposta do fundo? 

Sim. Esse cenário mais construtivo vai ter que passar também por uma melhora no cenário de crédito O consumo e investimento passa por crédito e o Itaú tem uma vantagem enorme, que é ser um banco muito bem estruturado, com uma carteira de crédito muito boa e sem grande risco. Isso tudo com a ação sendo negociada a 7x o lucro estimado para 2024. Se o cenário macro que estamos projetando estiver correto, o Itaú terá anos de crescimento pela frente, O potencial de valorização é bem interessante. Vemos uma grande assimetria no preço, o que também reduz o potencial de queda. 

Qual é a posição mais defensiva do fundo? E ofensiva?

Eu diria que é a Equatorial, com uma taxa interna de retorno (TIR) de 11% real, enquanto uma NTN-B está rodando perto de 5%. É um componente mais defensivo da carteira, apesar de ainda ser atrelado ao risco-Brasil.

De atacante, eu diria BTG e XP. Mas há uma posição que ainda estamos montando que deverá ser a mais arriscada do fundo.

Hoje, o senhor diria que o fundo está jogando mais no ataque do que na defesa?

Hoje o time está mais um ataque do que na defesa.
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