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Quarto trimestre chegou: o que o mercado espera?

Último período do ano chega com Ibovespa em 116.565 pontos e dólar a R$ 5,027; entenda o que acompanhar

Ibovespa: mercado acompanha de perto juros americanos e economia chinesa (Edson Souza/Getty Images)

Ibovespa: mercado acompanha de perto juros americanos e economia chinesa (Edson Souza/Getty Images)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 1 de outubro de 2023 às 08h00.

Última atualização em 3 de outubro de 2023 às 17h35.

Neste domingo, 1º de outubro, marca o início do quarto trimestre de 2023. O último período chega com o Ibovespa em 116.565 pontos, o dólar a R$ 5,027, a Selic em 12,75% e o retorno dos títulos do Tesouro americano em uma alta que não era vista há 16 anos, na casa dos 4,6%.

No Brasil, muitos movimentos impactaram a bolsa no terceiro trimestre, com o Ibovespa fechando em queda durante 13 pregões seguidos durante agosto, fato nunca antes visto desde a criação do índice, em 1968, segundo dados da Economatica. O acontecimento chamou a atenção, pois a expectativa era que, com a queda de juros, a bolsa apresentasse um rali.

Contudo, o cenário externo impactou fortemente a bolsa brasileira. Por conta disso, os especialistas explicam que, no quarto trimestre, o mercado se preocupa, principalmente, com os títulos americanos e com os próximos passos da China. “O mercado brasileiro tem andado a reboque do ambiente externo. De um ponto de vista fundamental, as ações brasileiras parecem baratas, mas apenas se as incertezas no ambiente externo diminuírem. Neste caso, poderíamos ver uma normalização desses preços, com os múltiplos voltando para patamares próximos (mas ainda abaixo) da média histórica”, afirma Luís Moran, head da EQI Research.

O que o investidor deve ficar de olho…

Nos EUA

Pela segunda vez, ao longo do último trimestre, o Fomc, comitê do Federal Reserve (Fed) responsável por decidir os juros nos Estados Unidos, manteve a taxa na faixa dos 5,25% a 5,50% ao ano. O movimento já era consenso no mercado, mas o que não era esperado, segundo Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, era o discurso hawkish (duro) do presidente do Fed, Jerome Powell.

“Powell citou o incômodo em relação à inflação nos EUA, que apesar de ter desacelerado no acumulado dos últimos 12 meses, mostra um núcleo ainda persistente. Com isso, deixou em aberto uma nova alta de juros ainda esse ano, sendo que o mercado acreditava que não teria mais altas”, afirma o especialista, que ainda cita que o mercado diverge sobre os juros caírem em 2024.

Essa quebra de expectativa causou uma forte abertura na curva de juros futuro americana, com o retorno do título com vencimento em 10 anos (T-10) alcançando os 4,66%, número que não era visto desde 2007. " Segundo Fernandes, o que ocorreu foi que, em agosto, o Tesouro norte-americano emitiu em grande volume títulos, em um esforço de recomposição do seu caixa, que estava excepcionalmente baixo após as discussões para a elevação do teto do endividamento no Congresso.

Assim, o mercado acompanhará de perto no quarto trimestre a rentabilidade desses títulos. Isso porque os EUA é visto como um lugar seguro para o investidor e, quando há retornos atrativos, há uma ida de capital estrangeiro para lá.

“Se a explicação para o movimento dos últimos dois meses for realmente a recomposição do caixa do Tesouro dos EUA, que está praticamente de volta ao nível normal, os juros podem começar a refluir e os mercados de risco podem voltar a subir rapidamente, com bolsa brasileira dentre eles”, diz Moran, que acrescenta: “Mas existe a chance de o movimento ser reflexo de algo mais duradouro, como o temor de inflação elevada por mais tempo.”

Para Rodrigo Cabraitz, gestor de portfólio da Principal Claritas, o Fed deve continuar vigilante aos novos dados, com a possibilidade de mais uma alta ainda esse ano - apesar de não ser o cenário base do mercado. “O tom duro da última reunião fez com que o consenso precificasse uma queda de juros apenas no segundo semestre de 2024, o que gerou uma reação ruim no mercado”, comenta.

Na China

O segundo fator que os investidores estão de olho no quarto trimestre é a China. Isso porque o país é o maior parceiro comercial do Brasil, sendo importador de diversos produtos, como o minério de ferro, produto da Vale (VALE3) - que tem grande peso no Ibovespa.

O que acontece, de acordo com os especialistas, é que o país teve uma reabertura da economia que decepcionou o mercado e mostra que está com dificuldade em gerar crescimento. Cabraitz destaca que a meta do governo chinês era crescer em torno de 5% em 2023, mas o mercado acha o número bastante desafiador.

“A China enfrenta um alto desemprego entre os mais jovens, alto nível de poupança entre as famílias na casa dos 40% do PIB (Produto Interno Bruto) e boa parte do PIB ainda concentrado no setor imobiliário, que hoje passa por bastante dificuldade”, comenta Cabraitz.

Esses desafios citados pelo especialista em relação ao setor imobiliário são relativos aos casos de grandes incorporadoras, como Country Garden e Evergrande. “A Evergrande, um dos maiores grupos de real estate na China, passou a não pagar os juros dos seus bonds, e enfrenta crises com seus credores. Além disso, nesse fim de trimestre, o presidente da empresa passou a ser investigado por supostos crimes cometidos, o que levou à suspensão da negociação das ações da empresa na bolsa chinesa”, acrescenta Fernandes.

Para tentar contornar a situação, desde o início do trimestre, a China vem anunciando diversos estímulos para a economia. Contudo, apesar do pacote de incentivos, os especialistas ouvidos pela EXAME Invest ilustram que nem o próprio governo chinês, nem o mercado mundial têm visto efeitos que sinalizem uma retomada da economia.

No Brasil

Já no Brasil, apesar do terceiro trimestre ter sido marcado por avanços no arcabouço fiscal e na reforma tributária, o que deu um fôlego para o mercado, ainda pairam dúvidas. Moran explica que o mercado está receoso em relação à sustentabilidade do plano do governo para ancorar as expectativas fiscais de arrecadação, já que o resultado depende de medidas que precisam de aprovação pelo Legislativo.

Fernandes acrescenta que o mercado também acompanha as metas de inflação estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que podem sofrer mudanças e causar um forte desalinhamento sobre o que é esperado para a inflação.

“Mas em um cenário mais otimista [para o quarto trimestre], os cortes na Selic podem passar a impactar positivamente o balanço das empresas, com um custo de crédito e despesas financeiras menores, refletindo positivamente também nas cotações das empresas”, destaca Fernandes.

O quarto trimestre conta com mais dois encontros do Copom. Para Cabraitz, a ata do último encontro foi bastante clara quanto ao ritmo dos próximos cortes, que deve permanecer em 0,50 p.p. (ponto porcentual). “Mas o fato dos juros permanecerem mais altos por mais tempo nos EUA diminui o espaço para uma aceleração de ritmo aqui. Depois da reunião dura do Fed, as curvas de juros no Brasil precificam uma Selic terminal em 10,25% - antes dessa reunião, a precificação era em torno de 9%”, diz.

Além dos juros e das questões políticas-fiscais, o Banco Central também acompanha de perto o petróleo e as implicações das próximas reuniões da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Isso porque outubro chega com o preço do combustível em alta, já que há uma restrição da oferta restrita do petróleo e derivados devido às incertezas em relação à suspensão de exportações russas. “Novos cortes de produção e o barril passando da casa dos US$ 100 podem dificultar as coisas”, comenta Cabraitz.

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