(Marcello Casal jr/Agência Brasil)
Bianca Alvarenga
Publicado em 2 de fevereiro de 2022 às 06h11.
Última atualização em 2 de fevereiro de 2022 às 20h59.
Na renda fixa, o que faz os olhos do investidor brilhar são os prêmios. É o quanto uma aplicação rende além do índice de referência (na maior parte dos casos, o CDI, o principal indexador da renda fixa). É o famoso rendimento de "100% e alguma coisa a mais" do CDI. Mas investir em títulos dessa categoria, em especial os pós-fixados, tem significado encontrar prêmios cada vez mais magros.
Com a forte alta da taxa Selic, que passou de 2% ano em março de 2021 para os atuais 9,25%, bancos e outros emissores de título de crédito privado observaram disparar o custo de captação de recursos e, como consequência, reduziram as promessas de retorno. Por outro lado, como os juros subiram, o rendimento bruto aumentou. Em outras palavras: 100% do CDI hoje representa, em termos absolutos, muito mais do que 120% do CDI há um ano.
Um levantamento feito pela plataforma de investimentos Yubb, a pedido da EXAME Invest, mostra que os prêmios atingiram o pico no fim de 2020 e que, desde então, começaram a cair. Veja abaixo:
Em 2020, era possível, por exemplo, encontrar Certificados de Depósito Bancário (CDB) com vencimento em 1 ano com rendimento superior a 120%. Hoje, esses mesmos títulos rendem pouco mais de 100% do CDI. Mas a importância de não olhar só para os prêmios está no que, de fato, a taxa representa: 120% do CDI em 2020 era equivalente a 2,4% ao ano, enquanto 100% do CDI agora equivale um retorno anual de mais de 9%.
"O investidor precisa analisar a rentabilidade nominal e real. Não adianta ter uma aplicação com retorno de 200% do CDI se a inflação está muito acima da Selic. Foi exatamente isso que ocorreu no ano passado", explica Bernardo Pascowitch, CEO da Yubb.
Em 2021, a inflação terminou o ano em 10%, enquanto o acumulado do CDI ficou em 4,4%. Mesmo o investidor que encontrou prêmios interessantes acabou com juros reais negativos, o que significa uma perda de poder de compra e uma redução do patrimônio, em termos reais.
A disparada dos juros deixou cada ponto percentual do CDI mais valioso. Dez pontos percentuais no prêmio (por exemplo: um rendimento de 110% do CDI versus 120% do CDI) representará, em 2022, cerca de 1 ponto percentual a mais de retorno bruto no final do ano.
No entanto, é importante olhar para um horizonte maior do que esse, principalmente se, claro, o vencimento do título for além dos 12 meses. A reprecificação dos ativos de renda fixa e a compressão dos prêmios afetou também as aplicações de médio e longo prazo. Veja abaixo os dados levantados pela Yubb:
Ao lado dos CDBs, as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) são um dos títulos queridinhos dos investidores. O rendimento bruto dessas aplicações é menor, em relação aos CDBs, pois há isenção tributária sobre o lucro, no resgate.
"A vantagem de investir em um LCI pós-fixado, por exemplo, é que, por ser isento, o investidor conseguer resgatar sem pagar impostos. E melhor ainda se o título em questão for de curto prazo, pois isso dá flexibilidade para uma saída rápida da aplicação, caso o cenário de juros mude", diz Lucas Taxweiller consultor de investimentos da gestora Magnetis.
Ele diz que outra opção é aplicar em um título prefixado, dado que as taxas de boa parte dessas aplicações está acima da Selic atual. No entanto, o especialista adverte que há chances de a taxa básica de juros subir mais do que o esperado, o que faria os títulos pós-fixados saltarem à frente nessa disputa.
"Hoje os principais riscos são políticos e fiscal. O Brasil terá eleições presidenciais em 2022 e existe pressão para o aumento de gastos do governo. São fatores que influenciam diretamente a curva de juros e o rendimento das aplicações", explica Taxweiller.
Como são emitidos por instituições financeiras, CDBs e LCIs contam com a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). O FGC é uma espécie de seguro que protege o investidor de perdas, em caso de falência das instituições emissoras dos títulos.
O FGC garante a restituição de valores de aplicações financeiras com valor de até 250 mil reais por CPF ou CNPJ.
A restituição inclui o valor inicial aplicado e a rentabilidade do título até o momento de falência da instituição financeira. Baseado nos últimos episódios em que o FGC foi acionado, o prazo para devolução do dinheiro aos investidores varia de 15 a 30 dias.
Embora o FGC cubra todas as aplicações em CDB e LCI, é recomendado que o investidor avalie o risco da instituição emissora. A melhor forma de fazer isso é observando o chamado Índice de Basileia.
O Índice de Basileia serve para avaliar a solvência dos bancos, financeiras e entidades de crédito. Com base nos dados operacionais divulgados pelas instituições, o Banco Central elabora uma "nota" para a situação financeira de cada uma delas.
Nessa conta, são levados em conta fatores como o volume de recursos emprestados, a quantidade de dinheiro em caixa e o perfil de risco das dívidas contratadas pelo banco. O resultado final será uma porcentagem que varia de 0% a 100%.
Explicando de maneira simplificada, quanto menor o percentual no Índice de Basileia, maior o risco de contratar um CDB ou qualquer outro título dessa instituição financeira.
O ideal é buscar bancos, financeiras e entidades de crédito que tenham um Índice de Basileia acima de 8%. O valor considerado ideal está entre 11% e 18%, que é a média da nota das instituições financeiras brasileiras no Índice de Basileia.
Vale lembrar, no entanto, que um Índice de Basileia muito alto significa que o banco tem poucos recursos emprestados, o que pode ser um obstáculo para a geração de caixa e até um sinal de outros problemas financeiros da instituição.
É possível encontrar o Índice de Basileia de cada instituição no site do Banco Central ou em plataformas de comparação de investimentos, como Yubb e Magnetis.