Remuneração mensal torna a poupança menos líquida e, portanto, mais arriscada | Foto: Lai leng Yiap/Thinkstock (Lai leng Yiap/Thinkstock)
Marília Almeida
Publicado em 7 de dezembro de 2021 às 06h20.
Última atualização em 8 de dezembro de 2021 às 18h49.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central inicia nesta terça-feira, dia 7, a última reunião do ano para ditar os rumos da Selic. A expectativa consensual de analistas é que seja anunciado amanhã um aumento de 1,5 ponto porcentual na taxa básica de juros. Ou seja, a taxa deve sair do patamar de 7,75% para 9,25% ao ano.
Caso o prognóstico seja confirmado, uma das mais tradicionais aplicações do brasileiro, a poupança, passará por mudanças em seu cálculo de rendimento.
Quando a Selic fica acima de 8,5% ao ano – nível que não é superado desde setembro de 2017 –, depósitos feitos na caderneta depois de 2012 voltam a ter remuneração de 0,5% ao mês, mais a taxa referencial (TR), hoje zerada.
Quando os juros estão abaixo de 8,5% ao ano, como tem sido o caso desde setembro de 2017, os recursos depositados na poupança rendem o equivalente a 70% da Selic, acrescidos da TR (igualmente zerada neste momento).
Em termos práticos e já fazendo os cálculos: com a Selic igual ou acima de 8,5% ao ano, o rendimento anual da caderneta de poupança será de 6,17% ao ano, acrescido da TR.
Atualmente com a Selic em 7,75% ao ano, o rendimento anual da poupança é de 5,43% em 12 meses para novas aplicações. Para efeito de comparação, a inflação ao consumidor medida pelo IPCA ficou em 10,67% nos 12 meses encerrados em outubro. Ou seja, quem tem dinheiro na poupança está perdendo poder de compra.
Apesar da ligeira melhora do rendimento, especialistas explicam que isso não torna a caderneta de poupança mais vantajosa do que aplicações de renda fixa, como títulos do Tesouro Selic, CDBs e até fundos DI.
Veja abaixo a simulação sobre o rendimento de aplicações de renda fixa com a Selic a 9,25% ao ano -- patamar provável a partir desta quarta-feira, dia 8.
No cálculo foi considerada uma aplicação de R$ 1.000 e a taxa da curva de juros vigente no dia da publicação desta matéria (a curva de juros muda diariamente). Os valores da simulação já descontam o Imposto de renda, cobrado em todas as aplicações, exceto na poupança, que é isenta.
Prazo | Poupança | CDB de grandes bancos que pagam 90% do CDI | CDB de bancos médios que pagam 110% do CDI | Fundo DI com taxa de administração de 0,5% | Tesouro Selic (aplicações menores do que R$ 10 mil) |
6 meses | R$ 1.034,26 | R$ 1.036,61 | R$ 1.046,55 | R$ 1.038,74 | R$ 1.039,67 |
12 meses | R$ 1.069,70 | R$ 1.081,50 | R$ 1.104,14 | R$ 1.086,56 | R$ 1.088,56 |
18 meses | R$ 1.106,35 | R$ 1.128,34 | R$ 1.164,90 | R$ 1.136,46 | R$ 1.139,69 |
24 meses | R$ 1.144,26 | R$ 1.177,37 | R$ 1.229,21 | R$ 1.188,69 | R$ 1.193,33 |
30 meses | R$ 1.183,46 | R$ 1.223,40 | R$ 1.290,30 | R$ 1.237,80 | R$ 1.243,84 |
Como mostra a simulação, em qualquer prazo, a poupança é menos vantajosa do que qualquer aplicação financeira.
Isso acontece porque a alta da Selic não impacta somente a rentabilidade da poupança mas também a de outros ativos pós-fixados atrelados ao CDI e à taxa básica de juros, explica Arley Matos da Silva Junior, analista de investimentos do Santander. "A rentabilidade da poupança fica limitada a 0,50% ao mês mais a TR, enquanto os produtos pós-fixados atrelados à Selic e ao CDI irão acompanhar o movimento dos juros futuro."
Outra característica que influi no rendimento da poupança em relação a outras aplicações é a sua falta de liquidez. Enquanto a remuneração da poupança é mensal (ou seja, caso o investidor resgate o dinheiro antes da data de aniversário da caderneta, ele fica sem o rendimento daquele mês), a forma de remuneração de CDBs e do Tesouro Selic é diária.
Ou seja, a caderneta é ainda mais desvantajosa para quem precisar do dinheiro de forma rápida. "Caso o investidor retire o dinheiro e perca a rentabilidade de metade do mês, a poupança pode ficar ainda menos atrativa na comparação com CDBs e o Tesouro Selic", afirma Michel Viriato, estrategista da Casa do Investidor.
Por isso, deixar o dinheiro parado em uma conta que renda o equivalente a 100% do CDI ainda é melhor do que colocar dinheiro na poupança, mesmo que isso seja algo cômodo, diz o estrategista. "Geralmente a remuneração dessas contas é lastreada em títulos públicos. Ou seja, elas não oferecem um risco muito distinto do da poupança."
A discrepância entre a caderneta e outras aplicações de renda fixa deve aumentar no próximo ano. A projeção predominante no mercado é que a Selic alcance o patamar de 11,25% ao ano no primeiro trimestre de 2022 e encerre o ano nesse patamar, algo que já está precificado na curva de juros futuro.
Por fim, há um componente adicional a ser observado: a TR, hoje zerada. É possível que haja alguma mudança, pois historicamente a taxa fica positiva nesse patamar da Selic. Mas é provável que a taxa não alcance um nível que diminua a atratividade dos investimentos que acompanham os juros, dado o nível esperado para a Selic, diz Silva Junior.
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