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Por que a Legacy prefere o risco de crédito ao de bolsa quando o assunto é Brasil

Gestora vê oportunidades em renda fixa com queda de juros, mas mantém desconfiança com mercado acionário

Gustavo Pessoa, sócio fundador e gestor de renda fixa da Legacy (esquerda) e Leonardo Ono, gestor de renda fixa e crédito privado da gestora (direita) (Legacy/Montagem EXAME/Divulgação)

Gustavo Pessoa, sócio fundador e gestor de renda fixa da Legacy (esquerda) e Leonardo Ono, gestor de renda fixa e crédito privado da gestora (direita) (Legacy/Montagem EXAME/Divulgação)

Beatriz Quesada
Beatriz Quesada

Repórter de Invest

Publicado em 18 de setembro de 2023 às 06h15.

Última atualização em 18 de setembro de 2023 às 11h49.

A semana começa com expectativa no mercado brasileiro antes de uma nova decisão do Copom que deve continuar a tendência de corte de juros. No entanto, segundo a Legacy, gestora com R$ 28 bilhões em patrimônio sob gestão, as oportunidades não são suficientes para voltar a olhar com bons olhos para a bolsa. O grande foco da casa para aproveitar o cenário é a renda fixa, especialmente o crédito privado

“Existe muita oportunidade nas empresas brasileiras. Mas, hoje, considerando a incerteza com a regulação, avaliamos que é melhor ser remunerado em crédito do que via ações”, avaliou Gustavo Pessoa, sócio fundador e gestor de renda fixa da Legacy, em entrevista à EXAME Invest.

O temor da gestora é que o governo aumente as cobranças sobre as empresas para custear o novo arcabouço fiscal, que depende de um incremento das receitas do governo. A missão é entregar um déficit primário zerado em 2024, em um cenário desafiador no qual a arrecadação está perdendo força e não há sinalização de novos cortes nos gastos públicos.

“Existe uma agenda tributária muito incerta. Nessa conta entram o fim do JCP, a tributação de dividendos, a reforma tributária – muitos fatores que podem ser detratores de lucros e causam um peso em cima da bolsa”, disse.

Entre os pontos listados por Pessoa, o de risco mais imediato é o fim dos juros sobre capital próprio (JCP), que estão ameaçados por um projeto de lei encabeçado pelo governo. A remuneração aos acionistas não é tributada antes da distribuição, o que favorece as empresas. O projeto de lei quer eliminar essa forma de remuneração para engordar as contas públicas. 

“A bolsa brasileira já não é boa estruturalmente. Se o governo quer aumentar as taxas sobre as empresas, fica mais difícil que ela avance”, completou Pessoa. Em seus fundos multimercados, a gestora mantém exposição pequena em ações nacionais, apenas na estratégia long & short, e opta por papéis de setores mais defensivos, como os de utilidade pública (utilities) e de infraestrutura. 

Por que as oportunidades estão no mercado de crédito

Se a queda de juros não é suficiente para alimentar uma alta da bolsa, o mesmo não pode ser dito do crédito privado. A Legacy, que tem um produto específico para o segmento, defende que há um espaço para a retomada do crédito após a crise do início do ano com o calote da dívida da Americanas

Entre os indícios, estão as operações de aumento de capital via oferta secundária de ações (follow-ons) e também a venda de ativos – transações que vêm aumentando desde maio no mercado brasileiro, quando se consolidou a expectativa de corte de juros. Foram 15 operações de follow-on até agosto deste ano, com mais da metade deles vindo a mercado nos últimos três meses.

“A venda da Aesop pela Natura e os follow-ons de Localiza, Movida, BR Foods e tantas outras empresas são movimentos muito favoráveis aos credores porque é um indício de equilíbrio de capital”, afirmou Leonardo Ono, gestor de renda fixa e crédito privado da Legacy.

As transações minimizam o temor de que as companhias não vão ter caixa para cumprir suas obrigações financeiras. “A tendência de queda de juros nos deixou mais otimistas de que não vai haver uma quebradeira entre as empresas brasileiras. É muito mais fácil apostar que as empresas não vão quebrar do que ter a convicção de que vão conseguir aumentar os lucros”, disse.

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