Taxação de Trump: especialista avalia impactos e possibilidades de investimentos (Anna Moneymaker/AFP)
Redatora
Publicado em 16 de julho de 2025 às 17h27.
Na última semana (9), o presidente dos Estados Unidos Donald Trump surpreendeu o mercado ao anunciar uma nova tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil.
Se confirmada, a medida passa a valer em 1º de agosto e eleva substancialmente a carga tarifária que já havia sido iniciada em abril, quando Trump impôs um imposto de 10% sobre importações globais.
A decisão foi comunicada formalmente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva por meio de uma carta oficial, na qual Trump afirma que a medida é uma resposta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e às decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) contra plataformas americanas de redes sociais.
Trump argumenta que as tarifas servem como instrumento de defesa dos Estados Unidos contra países que “atacam sua soberania”, e deixou claro que o Brasil sofrerá retaliação “imediata” se tentar responder com tarifas equivalentes.
Para o professor Sérgio Santos, especialista em mercado financeiro da Saint Paul Escola de Negócios, o impacto da medida vai além do Brasil e pode ser severo para a própria economia americana.
“Os Estados Unidos correspondem a 25% do PIB mundial. Qualquer movimento deles tem um impacto global”, afirma. Ao impor uma tarifa tão agressiva, o professor explica que Trump corre o risco de criar um cenário de inflação alta com crescimento estagnado.
Isso porque as taxações encarecem os preços dos produtos importados até mesmo para o consumidor americano.
“Se o produto fica mais caro, o consumidor compra menos. Isso pressiona a inflação e derruba a atividade econômica”, explica Sérgio. “Não adianta você adotar uma política e atirar no seu próprio pé.”
As tarifas recaem com mais força sobre os itens que o Brasil mais exporta para os Estados Unidos: commodities como café, carne bovina, minério de ferro, celulose e papel.
Segundo o professor, as empresas brasileiras desses setores perdem competitividade no mercado americano. “Ou elas baixam o preço e reduzem a margem de lucro, ou param de vender. Se sobrar estoque, vão tentar vender aqui dentro, o que pode derrubar os preços no Brasil”, avalia.
Apesar da provocação, Sérgio Santos acredita que o governo Lula não deve responder com tarifas equivalentes. “Se o Brasil aplicar 50% também, encarece os produtos americanos aqui dentro e gera inflação. Acredito mais numa resposta seletiva”, afirma, citando como possíveis alvos o etanol americano e os serviços das big techs.
No mercado, a reação inicial foi volátil. “O Ibovespa (principal índice da bolsa de valores brasileira) caiu, mas já retornou ao nível de antes do anúncio”, diz.
Diante do cenário, o professor Sérgio Santos oferece sugestões para investidores de diferentes perfis.
O professor pondera que, com a alta da taxa de juros brasileira e sem previsão de queda a curto prazo, esse é um bom momento para investir em renda fixa, especialmente pra quem não quer se arriscar.
“Com a Selic a 15% ao ano, o investidor conservador tem uma ótima rentabilidade real de cerca de 10%. Isso é raro. Fique no CDI, Tesouro Selic ou produtos atrelados à taxa básica”, recomenda.
Santos acredita que ações continuam sendo boas opções, mas é preciso estratégia. “Talvez seja o momento de reduzir o contato com empresas muito expostas à exportação para os EUA, como papel e minério”, alerta.
E aponta setores promissores: “O setor bancário está com ações muito descontadas, ou seja, baratas. Vale a pena olhar com atenção, especialmente para bancos públicos, como o Banco do Brasil”.
“Não é hora de fazer estripulia”, conclui o professor. O ideal, segundo ele, é montar uma carteira equilibrada: parte em renda fixa de curto prazo (para emergências), parte em ativos de longo prazo e uma fatia em ações, desde que com conhecimento e disciplina.
O cenário é complexo. Tarifas internacionais, variações cambiais, políticas monetárias e decisões políticas impactam diretamente o valor do seu dinheiro, mesmo que você não atue no mercado financeiro.
Entender os principais conceitos de finanças, como noções de economia, matemática financeira, análise de performances empresariais e tipos de aplicações em renda fixa e variável é essencial para qualquer profissional.
Pensando nisso, a EXAME e a Saint Paul Escola de Negócios desenvolveram o curso de educação executiva Finanças Para Profissionais Não Financeiros.
O curso é ministrado por professores reconhecidos e experientes no mercado: Lucas Dreves Gimenes, doutor em finanças pela FGV, Renato Monteiro da Silva, mestre em controladoria empresarial pelo Mackenzie e Mauricio Godoi, mestre em ciências contábeis pela PUC.