Petróleo: produção diária média de petróleo nos EUA recuou 8% em 2020; maior queda da série histórica iniciada em 1940 (Daniel Acker/Bloomberg)
A Administração de Informação de Energia (EIA, na sigla em inglês) do Departamento de Energia (DoE) americano comunicou nesta terça-feira, 9, que a produção diária média de petróleo nos Estados Unidos recuou 8% em 2020 frente ao ano de 2019.
Foi a maior queda da série histórica iniciada em 1940. De acordo com Louis Gave, sócio-fundador e diretor executivo da Gavekal Research, em 2020 aconteceram dois fatos importantes para a indústria do petróleo. O primeiro fato é que a produção de petróleo dos EUA registrou uma queda de 2 milhões a 2,5 milhões de barris por dia.
O relatório de uma das maiores casas independentes de análise do mundo, que no Brasil tem uma parceria de exclusividade com a EXAME Invest Pro, destacou que devido à escassez de investimentos na indústria de extração de petróleo dos Estados Unidos, essa tendência de contração da produção deve acontecer durante 2021 e talvez perdure até 2022.
O segundo fato pontuado por Gave é que os preços do petróleo, que estavam em queda entre o final de 2018 e o início de 2020, estão agora em uma tendência de alta.
"Os preços subiram acima de suas médias móveis de 200 dias e a inclinação da média móvel de 200 dias é positiva", afirmou em Gave.
Por que isso é importante? Porque a combinação de queda da produção de petróleo nos EUA e o aumento das cotações da commodity podem contribuir para o aumento do déficit comercial da maior economia do mundo e isso se associar a um dólar enfraquecido, na contramão das condições verificadas ao longo dos anos 2010.
O relatório da EXAME Gavekal Research também listou três tipos de produtores de petróleo que existem atualmente:
É uma lista que inclui países como Canadá, México, Brasil e Colômbia. "À medida que os preços do petróleo e/ou seus volumes de exportação aumentam, os produtores desses países acabam com mais dólares americanos, que eles reinvestem em ativos ou serviços americanos (imóveis em Miami, educação universitária nos Estados Unidos) ou, alternativamente, vendem no mercado para suas moedas locais (sugestão de aumento do dólar canadense, peso mexicano ou real brasileiro)", afirmou Gave em relatório.
Os países nessa categoria incluem Arábia Saudita, Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Catar e Nigéria. "À medida que os preços do petróleo e/ou as exportações aumentam, parte do dinheiro é automaticamente investida nos títulos do Tesouro dos Estados Unidos para defender suas indexações", destacou Gave.
Os países nessa categoria incluem historicamente Venezuela, Rússia, Irã, Iraque e Líbia. "Esses países normalmente transferem todos os dólares americanos que ganham para outro destino o mais rapidamente possível", afirmou o sócio fundador da Gavekal Research.
Na década de 2000, as compras dos exportadores de petróleo impulsionaram a alta do euro. Gave destacou algumas questões que considera relevantes para o momento do mercado de óleo e gás e o mercado de câmbio.
"Quem, em uma época de superávits comerciais recorde da China, venderá renminbi (moeda chinesa) aos exportadores de energia (petróleo)? Ou, em algum momento, alguns dos exportadores de energia decidirão que estão fartos de ver suas reservas em dólares americanos se depreciarem? Nesse caso, eles escolherão vender sua energia diretamente para a China por renminbi em vez de dólares americanos, mesmo que apenas para ter acesso ao renminbi?"
"E, por fim, se agora estamos entrando em um ambiente de aumento estrutural dos preços do petróleo e do renminbi estruturalmente crescente, de onde virá a deflação de amanhã?", questionou o sócio-fundador da Gavekal Research.