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Nova leva de fundos globais chega ao Brasil de olho em mudança regulatória

HMC Itajubá reduz valor mínimo de investimento em fundos como Bridgewater e Oaktree para 500 reais; Fundsmith chega ao Brasil pelo BTG Pactual

O investidor bilionário Ray Dalio, sócio-fundador da Bridgewater, maior fundo hedge do mundo | Foto: Kimberly White/Getty Images (Kimberly White/Getty Images)

O investidor bilionário Ray Dalio, sócio-fundador da Bridgewater, maior fundo hedge do mundo | Foto: Kimberly White/Getty Images (Kimberly White/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 26 de maio de 2021 às 06h40.

Por Juliana Machado*

Nos últimos anos, o crescimento da base de pessoas físicas na bolsa de valores saltou aos olhos do mercado financeiro. Mas esse movimento deu força para um segundo, também relevante: a procura dos pequenos investidores por alternativas internacionais para diversificação. Quem procura essa internacionalização via fundos de investimento, no entanto, dá de cara com a porta: por definição regulatória, fundos oferecidos ao varejo só podem concentrar até 20% do seu patrimônio em ativos fora do Brasil. E aí?

De olho na evolução do próprio mercado, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já pautou uma série de mudanças, atualmente sob discussão em audiência pública, para elevar esse percentual -- o que deve abrir um sem-fim de novas oportunidades às pessoas físicas. E é justamente de olho nisso que algumas casas já estão se movimentando para trazer alternativas acessíveis ao mercado brasileiro.

Uma das principais pontes entre o mercado local e os maiores gestores globais é a HMC Itajubá, que há uma década trabalha na oferta de feeders (fundos que servem para captar recursos a um outro produto central) internacionais.

A empresa, fruto de uma joint venture entre a chilena HMC Capital e o escritório de agentes autônomos Itajubá Investimentos, é especializada em firmar parcerias de longo prazo com gestoras internacionais interessadas em ampliar sua base de investidores -- e que veem na América Latina um espaço de crescimento. No total, são 30 profissionais lotados no escritório da Itajubá em São Paulo e mais 80 em escritórios no Chile, no Peru, na Colômbia e no México.

Em um movimento para se antecipar às mudanças regulatórias, a Itajubá reduziu para 500 reais a aplicação mínima dos feeders trazidos por ela ao país. Entre os nomes já na prateleira das principais corretoras e plataformas de investimento já é possível encontrar: Bridgewater, do megainvestidor Ray Dalio; Man Group, empresa de investimentos com mais de dois séculos de história; Acadian, fundada por acadêmicos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, em inglês); e Oaktree, fundada pelo admirado gestor Howard Marks.

Ao longo deste ano, a Itajubá pretende engordar a oferta de produtos com estratégias diferenciadas dessas gestoras, sempre oferecendo aos investidores opções com hedge (com proteção contra a variação cambial) e sem hedge (sujeito à variação cambial).

“Nossa ideia sempre foi trazer aqueles gestores que estão dispostos a ter uma visão estratégica com o Brasil. A ideia não é só ‘tomar um sol’ e ir embora, é pensar no Brasil como um mercado de longo prazo”, afirma Bernardo Queima, sócio da HMC Itajubá.

Atualmente, qualquer investidor interessado em aportar recursos em fundos com concentração fora do Brasil, como é o caso de todos os produtos citados acima, precisa fazer parte de um seleto grupo chamado investidor qualificado, ou seja, que tem mais de 1 milhão de reais em investimentos. Dependendo da complexidade do produto e do seu desenho, ele pode chegar no Brasil ainda mais restrito, voltado somente a público profissional (com mais de 10 milhões de reais).

Com o avanço das alternativas para a pessoa física, como operar desde criptoativos até utilizar corretoras estrangeiras, os reguladores do mercado de capitais compreenderam que há urgência em flexibilizar algumas regras.

O primeiro movimento relevante nesse sentido veio em agosto do ano passado, quando a CVM liberou a negociação de BDRs (recibos lastreados em ações estrangeiras) para o varejo -- antes, eles também só eram permitidos aos investidores qualificados. A mudança colocou gigantes da tecnologia como Alibaba, Apple, Amazon e Facebook ao alcance do home broker da pessoa física.

Em abril, a Anbima, entidade que reúne instituições financeiras e atua como autorregulador do mercado de capitais, encaminhou uma manifestação para a audiência pública conduzida pela CVM, em que reúne algumas sugestões de alterações regulatórias.

Entre elas está justamente permitir que os fundos ofertados ao varejo apliquem até 100% em ativos que já sejam ou possam ser lastro de BDRs. Se aceita, essa mudança colocaria centenas de nomes relevantes do mundo à disposição do pequeno investidor.

“Durante muitos anos, a posição em Brasil dependia de estar ‘bom ou ruim’, mudar para cá ou para lá. Agora, investimento em Brasil virou estrutural. É uma mudança que faz parte da construção do portfólio, ainda é pequena, mas é estrutural”, diz Queima.

Fundsmith, o Oráculo do Reino Unido, ao alcance da mão

Movimento semelhante fez o próprio BTG Pactual (BPAC11, do mesmo grupo que controla a EXAME) ao trazer para a prateleira de produtos internacionais o famoso Fundsmith Equity Fund. A gestora Fundsmith foi fundada em 2010 por Terry Smith -- cuja carreira “fora do eixo” começa com uma graduação em História na Universidade de Cardiff em 1974.

Desde então, Smith transitou pelo mercado financeiro e se especializou no chamado investimento de valor (value investing, em inglês), uma estratégia em ações tão simples quanto sofisticada: buscar empresas com foco no quanto elas valem, e não no seu preço, para obter rentabilidade a partir das assimetrias entre esses dois conceitos.

Um conhecido representante dessa escola de investimento é Warren Buffett, o lendário investidor da Berkshire Hathaway, chamado de “óraculo de Omaha” pela sua capacidade de investir e enriquecer sempre investindo nos melhores negócios a longo prazo. “Preço é o que você paga, valor é o que você leva”, resume.

Smith, menos conhecido, tem um mote semelhante: “compre boas empresas, não pague caro, não faça nada”. Parece simples, mas ideias geniais não aparecem sempre e são difíceis de serem identificadas -- daí a maestria de um fundo cuja rentabilidade soma, lá fora, 494,8% de retorno entre novembro de 2011 e abril de 2021, contra 123,5% do índice das maiores empresas globais MSCI ACWI no mesmo intervalo. Os dados são da Bloomberg.

Se quiser ler mais a respeito do assunto, não deixe de acessar o meu relatório completo aqui.

*Juliana Machado é jornalista e analista CNPI especializada em fundos de investimento.

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