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Nos 30 anos do real, não veja só um lado da moeda

Não devemos esquecer que ainda há um longo caminho para que a inflação seja definitivamente um problema do passado

Comparando o Brasil antes e depois do Real, certamente temos motivos para celebrar. (Bloomberg/Getty Images)

Comparando o Brasil antes e depois do Real, certamente temos motivos para celebrar. (Bloomberg/Getty Images)

Publicado em 3 de julho de 2024 às 14h00.

Última atualização em 10 de julho de 2024 às 10h48.

Na semana em que os brasileiros deveriam estar celebrando o aniversário do Plano Real, nossa moeda passa por um momento emblemático — infelizmente, para o lado negativo. O dia 1º de julho, que marca oficialmente os 30 anos do bem-sucedido plano de combate à hiperinflação, foi marcado por mais uma alta do dólar, que vem se valorizando de forma mais intensa em relação à moeda brasileira do que outras emergentes, e chegamos à cotação de R$ 5,65 para US$ 1,00. O cenário atual é marcado por ruídos políticos e preocupações fiscais, mas é fato que a tendência histórica é de desvalorização.

Como começou o Plano Real?

Primeiro, um pouco de história. Entre 1980 e 1994, a inflação média no Brasil atingiu 95.302.476% ao ano. Quem nasceu da década de 1990 para frente talvez não entenda a dimensão disso, mas, para quem, como eu, recorda como era administrar as finanças antes da chegada do Real, a estabilidade monetária é uma conquista de imenso valor. Planejar o futuro era uma tarefa ingrata, com decisões de consumo e investimento sendo tomadas sob uma densa névoa de incertezas.

O Plano Real não foi a primeira tentativa de vencer esse cenário, mas foi a única que obteve o efeito esperado, ao combinar ajustes fiscais com um engenhoso mecanismo para quebrar a inércia nos ajustes de preços (por meio da URV) e uma ancoragem cambial (câmbio fixo). Além disso, identificou reformas estruturais essenciais para sustentar a estabilidade monetária a longo prazo. Adaptações ao longo do caminho foram necessárias, culminando na transição para um regime de câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário no final dos anos 1990, constituindo o tripé macroeconômico das décadas seguintes.

Mas será que a missão está completa? Comparando o Brasil antes e depois do Real, certamente temos motivos para celebrar. Entretanto, olhando criticamente, fica claro que ainda há desafios a superar.

Além da desvalorização da nossa moeda, (que, como lembramos no início desta coluna, passou de R$ 1,00/US$ 1,00 para os atuais R$ 5,65 ao longo desses 30 anos), mesmo controlada, a inflação no Brasil frequentemente superou a dos EUA, como evidenciado no gráfico abaixo.

Longe do cenário que eu mesmo enfrentei na minha juventude, não dá para dizer que essa evolução dos preços é previsível: o fantasma da instabilidade continua rondando a economia brasileira.

Em resumo, é justo celebrar os 30 anos do Plano Real e redobrar esforços para manter a estabilidade de nossa moeda. Contudo, não devemos esquecer que ainda há um longo caminho para que a inflação seja definitivamente um problema do passado e para que o real possa ser considerado uma das moedas fortes do mundo.

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