MST capta recursos no mercado para financiar a produção de alimentos por agricultores | Foto: Matheus Alves/Levante Popular da Juventude/Divulgação (Matheus Alves Levante Popular da Juventude/Divulgação)
O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) concluiu na última quarta-feira, dia 15, uma emissão de certificados de recebíveis do agronegócio (CRAs) que captou 17,5 milhões de reais.
A operação foi realizada por sete cooperativas associadas ao MST e, segundo o movimento, beneficiará 13.000 agricultores.
Os CRAs foram emitidos com base da instrução 400 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e têm como lastro a produção futura das cooperativas.
Do montante total captado, 14,5 milhões de reais receberam aportes de 1.518 pessoas físicas que não são investidores profissionais (ou seja, com um tíquete médio de 9.552 reais por pessoa física). Os restantes 3 milhões de reais foram emitidos com base da instrução 476 da CVM, ou seja, em colocação privada, e receberam aportes de um só investidor.
Os títulos de renda fixa tiveram uma demanda três vezes superior à oferta, com 4.794 pessoas que abriram contas para realizar a operação.
A taxa de retorno dos CRA foi de 5,5% ao ano, com vencimento de cinco anos.
Essa é uma taxa que poderia parecer baixa se comparada com a inflação atual, de 9,68% no acumulado dos últimos 12 meses, segundo o IPCA. Assim como é menor do que a taxa Selic, que atualmente está em 5,25% ao ano, mas que, segundo o boletim Focus do Banco Central (BC), que compila as estimativas do mercado, deverá chegar a 8% até o fim deste ano, permanecendo nesse mesmo patamar em 2022.
Entretanto, para João Paulo Pacífico, presidente da Gaia Securitizadora, que estruturou a operação, "essa taxa não é baixa".
"No que uma pessoa normal, que tem 100 reais ou 1.000 reais, pode investir seu dinheiro com uma taxa dessas? Uma rentabilidade de 5,5% não é ruim. Uma pessoa física não consegue coisas assim em banco ou em corretoras", disse Pacífico em entrevista à EXAME Invest.
"Tanto que quase 5.000 pessoas acreditaram nesse projeto. Foi algo surreal, considerando que não teve marketing envolvido, nenhum banco envolvido, nenhum assessor de investimento envolvido. Fizemos apenas uma live para 2.500 pessoas, foi tudo no boca a boca. E deu certo", disse Pacífico.
Questionado sobre o fato de que os investidores perderão dinheiro em termos reais com esse tipo de aplicação, já que a inflação vai corroer o poder de compra dos recursos investidos nos CRAs, Pacífico disse não concordar.
"Esse é um novo paradigma do mercado, que estamos abrindo, e que a Faria Lima e os bancões não entenderam ainda", explicou o gestor.
Segundo ele, "as pessoas estão olhando apenas para o risco/retorno de seus investimentos, e isso é errado, pois assim estão se tornando mais egoístas e egocêntricas, e o resto que se dane. É necessário considerar o risco, o retorno e o impacto".
"Por exemplo, se uma pessoa investe na Petrobras (PETR3, PETR4), que hoje não tem quase nada de energia limpa, ou em empresas de bebida, de armas etc... não está considerando o impacto. Nosso CRA financia a geração de emprego, a agricultura familiar, a produção de alimentos biológicos etc. Isso acredito que será o futuro: colocar na conta o impacto que você está causando", diz ele.
Segundo o gestor, esse sucesso vai permitir que mais operações desse tipo possam ser realizadas no futuro.
*Carlo Cauti é Editor Multimídia da EXAME Invest.