Fernando Vallada, agora CEO do family office e da unidade de advisory do Julius Baer no país, e Beatriz Sánchez, diretora para as Américas (Leandro Fonseca/Exame)
Marília Almeida
Publicado em 7 de abril de 2022 às 06h10.
O multifamily office do Julius Baer acaba de anunciar uma nova liderança no Brasil: Fernando Vallada, que é o CEO da consultoria de valores mobiliários do grupo suíço no país, o Advisory Office. Sob a mesma liderança, os negócios continuam com estruturas segregadas.
Vallada gerencia o Julius Baer Advisory Office desde que foi criado há um ano. O negócio funciona como um meio de aumentar a fatia do grupo no país, com atendimento a clientes que desejam aconselhamento para investir no exterior dentro e fora do family office. O intuito é dar acesso à plataforma do banco na Suíça, mas com o auxílio de um de seus cinco gerentes de relacionamento locais.
O multifamily office, negócio mais maduro do grupo no país, composto por 250 gerentes de relacionamento, foi iniciado em 2011 a partir da aquisição de uma fatia de 30% da gestora de fortunas GPS. Essa fatia foi aumentando ao longo do tempo, até a aquisição total.
Posteriormente, em 2018, o grupo também adquiriu a Reliance. A GPS e a Reliance eram os maiores escritórios de gestão de fortunas independentes do país. As aquisições, portanto, concederam o posto ao grupo suíço.
O Julius Baer é o terceiro maior banco da Suíça e está presente em 26 países. Tem 132 anos de história e US$ 500 bilhões sob gestão. No Brasil, seus negócios atendem clientes com mais de R$ 10 milhões investidos.
Para Beatriz Sanchez, diretora para as Américas do Julius Baer e a segunda mulher a ocupar o conselho do grupo financeiro, apesar de o cenário macroeconômico no Brasil ser geralmente imprevisível, o microeconômico é extremamente atraente.
"Continuamos a ver um interesse dos investidores no país, que é mais estável do que seus vizinhos e deve continuar a ser, não importa quem vença a eleição presidencial neste ano", disse Sanchez à EXAME Invest.
Para exemplificar a atração do cenário microeconômico, Vallada citou recentes operações que envolveram a venda de empresas de saúde no país. "Os empresários que vendem seus negócios se vêem diante de uma quantidade de dinheiro significativa e precisam de ajuda para gerenciar a liquidez desse patrimônio para as próximas gerações."
Nesse ambiente favorável, Sanchez apontou que o plano do grupo é se posicionar entre os cinco maiores escritórios de gestão de fortunas do país, em ranking que também inclua bancos. E, para atingir o objetivo, o Julius Baer irá continuar a mirar possíveis aquisições locais.
O grupo suíço não abre dados sobre a operação regional e se limita a dizer que registrou crescimento nas Américas mesmo durante a crise da covid-19. "O Brasil é o nosso grande foco na América Latina. Continuamos também a olhar para o Chile, o México e o Colômbia, onde dobramos o tamanho de nosso escritório no último ano", contou Sanchez em recente visita ao Brasil.
Investidores globais precisam de mais aconselhamento, análise e informação porque lidam com grandes riscos geopolíticos e um ambiente inflacionário global, na visão de Sanchez. "Isso torna o gerenciamento do patrimônio cada vez mais complexo."
Em um cenário global incerto, Sanchez argumentou que a única certeza é que a inflação global irá continuar a crescer. "Nesse cenário, o investidor precisa aplicar no mercado imobiliário ou em operações de private equity como forma de se proteger, além de investir em países desenvolvidos e seguros, com riscos geopolíticos minimizados."
Diante de um aumento de preços generalizado, clientes que tenham patrimônio no exterior, em dólar e euro, mas concentrem seu portfólio no Brasil, ficam expostos a um descasamento entre ativos e passivos, disse Vallada. "Por isso vemos cada vez mais a complementaridade dos nossos dois negócios. Queremos aproveitar as sinergias entre eles."
Em 2019, o Julius Baer adquiriu uma fatia minoritária na gestora digital Magnetis. A operação fez parte de uma estratégia adotada globalmente pelo banco que tem como objetivo aprender novas maneiras de se comunicar digitalmente com clientes, especialmente aqueles com menor patrimônio e mais jovens.
Além da Magnetis no Brasil, o grupo adquiriu recentemente uma fatia na startup suíça Seba Crypto, contou Sanchez. "Queremos aprender a transacionar criptoativos mas também conhecer mais sobre a tecnologia blockchain e o ambiente financeiro descentralizado."
Além de aprimorar seu canal digital, o multifamily office vem buscando criar comunidades que tratam de temas como ESG e sustentabiidade, temas também caros a clientes mais jovens. "Esses clientes querem rapidez, mas também gostam de ser educados. Por isso, temos consciência de que nunca seremos uma organização digital. Continuaremos a ter um toque humano."
A medida certa da digitalização, ressaltou Vallada, é um desafio maior para escritórios que lidam com grandes fortunas. "Existem diversas discussões sobre governança."