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Gestora diz que big techs são boa aposta mesmo com alta do juro

Gestora aproveita quedas recentes para aumentar aposta em bolsas americanas, mas prevê turbulência no curto prazo

Marcelo Ferman: CEO e co-fundador da Parcitas | Foto: Divulgação (Parcitas/Divulgação)

Marcelo Ferman: CEO e co-fundador da Parcitas | Foto: Divulgação (Parcitas/Divulgação)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 1 de fevereiro de 2022 às 08h15.

Última atualização em 1 de fevereiro de 2022 às 09h18.

As expectativas cada vez mais consensuais de que o Federal Reserve (Fed) comece a elevar a taxa de juros pela primeira vez desde 2018 provocou perdas históricas nas bolsas americanas em janeiro.

O índice Nasdaq, composto pelas maiores empresas de tecnologia do mundo, caiu 9,5% e teve seu pior mês desde março de 2020, com investidores temendo de que o aperto monetário afete o crescimento das companhias.

Mas, para Marcelo Ferman, CEO e fundador da Parcitas Investimentos, a desvalorização das techs é uma oportunidade de compra para aumentar a aposta.

"Várias empresas de tecnologia têm linhas de negócio que crescem 40% ou 50% ao ano. Muda muito pouco o juro americano subir 1 ponto percentual a mais do que o esperado", disse o gestor em entrevista à EXAME Invest.

Economista formado na PUC-RJ, Ferman é PhD pela London School of Economics e utiliza abordagens macroeconômicas, que desenvolveu ao longo de sua trajetória, com passagens pelo Bank of England e pelas gestoras Brevan Howard e Ibiúna Investimentos.

O debate em torno da alta do juro americano, para o economista, é uma "briga entre o longo e o curto prazo" e pode representar uma oportunidade para investidores que miram horizontes maiores. "É promoção para ganhar mais no futuro", afirmou.

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Enquanto aumenta a posição nos Estados Unidos, Ferman se mantém distante do Brasil. Inflação, crescimento baixo e incertezas eleitorais o levam a adotar maior cautela em relação à bolsa local desde o ano passado.

Os preços, segundo ele, ainda não compensam o risco. O CEO da Parcitas também está mais pessimista com o câmbio, apesar da recente valorização do real para o patamar de 5,30 reais, o mais baixo em quatro meses. O cenário para moedas emergentes, diz, tende a piorar com a alta de juros nos Estados Unidos.

Confira a seguir a entrevista com Marcelo Ferman, CEO e fundador da Parcitas.

Como o senhor resume a filosofia de investimento da Parcitas?

Gostamos de filtrar as informações para focar no que realmente importa para o longo prazo. Fazemos isso com uma abordagem macroeconômica. Investimos como se fosse nosso o dinheiro. Não ficamos olhando a rentabilidade todo dia. Alguns movimentos de mercado geram mais ruído do que substância. 

Não temos pré-alocação de risco. Então, não temos a necessidade de investir no Brasil a todo o momento. Vamos para onde vemos as oportunidades. No ano passado, praticamente não tivemos posição no país -- e continuamos com essa visão para este ano. Acreditamos que será muito volátil devido às eleições.

Estamos perdendo esse rali. Por mais que, no curto prazo, o Brasil pareça ir bem, no longo, a economia não cresce há vários anos, a inflação continua alta e surpreendendo para cima e o juro real já vai bater 7%. Resolvemos ficar de fora e buscar oportunidade em outros lugares. 

As recentes quedas das bolsas americanas podem ser encaradas como uma oportunidade de compra?

O momento para comprar é uma incógnita. As ações de tecnologia já caíram bastante, 12%, 15%. São empresas super saudáveis, que crescem brutalmente. Mas elas podem cair mais. O mercado está se adaptando ao Fed mais hawkish.

No longo prazo, é ótimo, porque alguém precisa controlar a inflação para que empresas continuem sendo bons investimentos. Elas não vão bem com a inflação alta, precisam de um equilíbrio. No curto prazo, pesa um pouco, mas eu acho que é para comprar. Eu estou comprando, só que o momento exato depende do estômago de cada um. 

É difícil falar sobre o timing. O mais importante é que a economia cresce de forma saudável lá fora. Tem o problema da inflação, que pode ser dividido em dois: um é ligado à covid e a empecilhos de oferta no mundo. Faltam chips e isso gera choque de inflação. Porém isso vai passar relativamente rápido, em alguns meses.

Outro fator é a demanda, que aumentou como resposta aos estímulos feitos em 2020 e 2021. Do lado fiscal, os governos precisam parar de dar novos estímulos; do monetário, o Fed tem que começar a se mexer -- e já começou.

Vejo isso como briga entre longo e curto prazo. Se o Fed mantivesse o discurso de inflação temporária e ficasse parado, eu estaria mais otimista no curto prazo e os preços estariam mais altos na bolsa americana neste ano. No entanto eu estaria mais pessimista para o longo prazo, com a inflação a 7% e o Fed sem mexer. 

Quais são as maiores posições da Parcitas?

Ainda é em bolsa internacional. O fundo está sofrendo com a reprecificação de empresas de crescimento, mas entendemos que essas são as melhores empresas da atualidade. Elas entregam tudo que demandamos em termos de crescimento e não são caras. A ação da Google não está cara.

Elas podem sofrer no curto prazo pela questão do Fed. Mas, no longo prazo, são um bom investimento. Várias dessas empresas de tecnologia têm linhas de negócio que crescem 40% ou 50% ao ano. Muda muito pouco o juro americano subir 1 ponto percentual a mais do que o esperado.

O único cenário que preocupa é se o Fed não conseguir segurar a inflação e ter que subir muito os juros para domá-la. Não acho que isso vai acontecer. Vai ser um pouco acima do precificado pelo mercado, mas não será coisa de outro mundo. Para empresas que crescem demais todos os anos, se o juro é um pouco mais alto, muda muito pouco. É outra ordem de magnitude.

Por isso, é importante o Fed aumentar os juros no curto prazo, para que, no longo, seja mais suave. O Fed mais hawkish aumenta a chance de um ambiente de longo prazo mais benigno. 

Como a Parcitas tem se aproveitado do pessimismo internacional?

Estamos tentando tirar vantagem da queda aumentando a posição em bolsa. Alguns papéis caíram muito e já justificam o aumento de posição. No longo prazo, será uma decisão muito acertada. São empresas muito boas que o mercado descontou demais por causa do medo. É promoção para ganhar mais no futuro.

Tínhamos um hedge grande na abertura das taxas de juro americanas. Elas subiram neste início de ano e começamos a diminuir um pouco. Não estamos comprando hedge agora. Hedge se compra quando o mercado está tranquilo. No ano passado, também fizemos opções de venda do S&P e montamos posições vendidas em emergentes. 

As moedas emergentes têm se valorizado contra o dólar neste início de ano. O que explica esse movimento? Essa dinâmica deve persistir mesmo com a alta de juros nos EUA?

O momento em que o Fed sobe juros, em geral, não é o melhor para moedas emergentes. O ambiente internacional mais inóspito aumenta a proporção das crises domésticas, pois o pano de fundo é ruim. 

O que beneficiou os emergentes neste início de ano foram as commodities, que continuam muito fortes, pelo menos até agora. Isso favorece moedas emergentes no curto prazo. Mas, no médio prazo, com o Fed subindo juros e levando à desaceleração do crescimento global, tende a acontecer uma acomodação do mercado de commodity, piorando o cenário para moedas emergentes. 

Outro vetor que ajuda especialmente o real é que os emergentes também estão sinalizando aperto de juros e ainda maior que os Estados Unidos. 

O Fed vai subir juros duas, três, quatros vezes no ano, talvez mais. Esse vetor do Fed vai ganhar potência, e o de commodities, perder. Já o vetor da política monetária doméstica deve permanecer forte. Com o Fed subindo juros, os emergentes não vão poder se furtar de subir juros também. O Brasil saiu na frente de outros emergentes e ainda não se beneficiou do ambiente mais favorável ao real devido aos ruídos fiscais e ao cenário eleitoral, que começaram a melhorar um pouco. 

As pesquisas eleitorais mostram pouca adesão a uma terceira via. Isso é ruim para o mercado?

A recente reação da bolsa brasileira tem a ver com o mercado enxergando certa melhora no discurso do ex-presidente Lula. Até o momento, a probabilidade está indicando forte chance de o Lula ganhar. Mas são coisas difíceis de prever.

Acho que o mercado vai ficar oscilando. Agora está tudo bem, mas, daqui a duas semanas, pode ir tudo mal. Por isso, estamos fora do Brasil. O ambiente é de baixa visibilidade, o país cresce muito pouco e vem tendo um viés mais populista em suas políticas desde o ano passado.

A Parcitas pretende ficar de fora do Brasil até as eleições?

Não, depende dos preços. Se o preço estiver bom, vamos entrar, até antes da eleição. Enquanto o preço não estiver tão bom e tiver muito ruído, vamos estar apenas olhando. Acho plausível o início de um governo Lula ser mais ameno ao mercado ou até positivo. Só não vamos embarcar nessa tese até as eleições. É importante ressaltar que o pragmatismo do Lula é no início do mandato, depois as coisas vão acontecendo. 

O Brasil subiu juros mais cedo, mas vem sofrendo ainda mais com a inflação. O BC vai conseguir controlar a alta de preços? 

Não se sabe muito bem em que patamar a inflação vai se acomodar. Achávamos que já era para ter arrefecido. Mas a inflação tem surpreendido significativamente. O Banco Central já subiu bastante os juros, porém o processo inflacionário está surpreendentemente difícil de resolver. O BC está fazendo a parte deles. Uma hora isso vai virar, mas está demorando mais que o esperado.

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