Construtoras: gestores de recursos têm mantido o discurso otimista em relação aos nomes do setor
Agência de notícias
Publicado em 13 de outubro de 2023 às 12h45.
As ações de empresas de construção viviam um forte rali depois de alguns anos negativos, sob o impulso das expectativas de que o Banco Central começaria a cortar os juros e estimular a economia. Mas, quando o Copom deu início a um dos primeiros ciclos de flexibilização monetária do planeta, em agosto, essa mesma recuperação dos papéis passou a minguar.
No mesmo período, as preocupações dos investidores sobre a situação fiscal do país voltaram à mesa. E, na sequência, a venda generalizada de títulos do Tesouro dos Estados Unidos, que fez disparar os yields, elevou a pressão sobre os ativos dos mercados emergentes — já enfraquecidos pela perspectiva de que os juros globais teriam de permanecer altos e pelo crescimento decepcionante na China.
A mudança foi rápida. Embora algumas ações de construtoras permaneçam entre os ativos com os melhores desempenhos no Ibovespa este ano, empresas como Cyrela e EzTEC viram os ganhos de mais de 85% encolherem para cerca de 30%.
Os gestores de recursos, ainda assim, têm mantido o discurso otimista em relação aos nomes do setor. Eles apostam que as taxas de juros futuros negociadas no mercado retomarão uma tendência de queda consistente, conforme o sentimento de risco global se ameniza e o BC segue seu plano de voo de cortar a Selic em 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões. Os analistas do setor também mantiveram suas recomendações e nenhum dos consultados pela Bloomberg rebaixou a recomendação de uma grande construtora brasileira ao longo segundo semestre do ano, a despeito do esfriamento dos ganhos.
“A queda que vimos no setor de construção foi em linha com a reprecificação de juros aqui no Brasil”, disse Ana Paula Moreno, sócia e co-gestora da Apex Capital. “Ainda temos no cenário que a Selic vai para 9,75% nesse ciclo e esse setor, tanto baixa renda quanto também alta renda, vai performar bem.”
A preocupação com a disposição do governo de cumprir com suas metas fiscais, que cresceu a partir de agosto, ajudou a empurrar a taxa Selic precificada na curva de juros para o fim do ano de 2024 acima de 10,25% atualmente, de cerca de 9,25% naquele mês. Os temores sobre a sustentabilidade do arcabouço fiscal também pesaram sobre as taxas de longo prazo, e levaram os juros do contrato para janeiro de 2023 a avanços de até 0,8 ponto percentual nos últimos dois meses.
Apesar do cenário macroeconômico desafiador, Christian Walter, gestor de ações do Opportunity Total, disse que não enxerga “nada estrutural” que influenciará negativamente os papéis no médio prazo — o fundo, inclusive, detém uma posição em MRV. “As teses otimistas para os papéis do setor estão intactas”, afirmou, ao citar a perspectiva de corte de juros e o cenário positivo derivado do programa Minha Casa, Minha Vida.
O programa fornece impulso às empresas focadas na construção de moradias de baixa renda, como a MRV, que se recuperaram dos altos custos e das margens pressionadas durante a pandemia. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva reduziu as taxas de financiamento para famílias com renda mensal de até R$ 2.000 e aumentou o preço máximo das casas que podem ser adquiridas no programa.
“A baixa renda continuará sendo um destaque importante do ponto de vista de vendas, porque agora veremos uma aceleração muito forte devido às melhores condições do programa”, disse Fanny Oreng, responsável pela área de análise de ações de mercado imobiliário do Santander, que tem recomendação de compra para todas as três ações do setor no Ibovespa.
Desde que os juros futuros iniciaram um viés de alta, há dois meses, o Ibovespa registrou perdas de cerca de 4%, o que reduziu seus ganhos no acumulado do ano para 6,3%. Mas a economia brasileira continua resiliente aos elevados juros, impulsionada por um mercado de trabalho forte, um setor de serviços robusto e uma safra agrícola maior do que as expectativas. O BC prevê que o país crescerá 2,9% este ano, embora a autoridade avalie que a política monetária restritiva irá se manter nos próximos trimestres.
E mesmo com o enfraquecimento dos ganhos para os construtoras residenciais, um índice que acompanha o setor continua a subir cerca de 30% em 2023, a caminho de registrar o seu primeiro ano positivo desde 2019.
“As perspectivas para o próximo ano continuam positivas”, disse Tiago Cunha, gestor de ações da Ace Capital. “Temos um cenário de forte demanda tanto em empresas de baixa renda quanto de alta renda. E um cenário de redução de juros mais rápido do que no exterior, isso também ajuda o financiamento habitacional.”