FIDCs: número de fundos deve superar número de agências bancárias até 2030 (beast01/Getty Images)
Repórter de finanças
Publicado em 1 de outubro de 2025 às 06h00.
Com os juros da economia no maior patamar em quase 20 anos, a renda fixa parece ser a escolha mais óbvia do investidor brasileiro. E é — ao menos por enquanto. Mas tem um outro investimento ficando cada vez mais popular e com chances de roubar esse protagonismo nos próximos anos: os Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDCs).
Esse é um instrumento conhecido por gerir recebíveis, que variam de uma dívida de uma empresa à carteira de uma operadora de cartões de crédito.
Em agosto deste ano, de acordo o último boletim da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o patrimônio líquido (PL) dos FIDCs somava R$ 715,92 bilhões, contra R$ 612,3 bilhões dos Fundos de Investimentos em Ações (FIAs) e R$ 974,22 bilhões dos Fundo de Investimento em Participações (FIPs).
“Os FIDCs rapidamente se tornarão o principal instrumento de crédito. Já ultrapassaram os FIAs e rapidamente vão passar os FIPs”, diz João Baptista Peixoto Neto, CEO da Ouro Preto, que conta com 128 fundos ativos e R$ 13 bilhões sob gestão.
Já os fundos de renda fixa, que podem investir até 20% dos recursos em FIDCs, detinham R$ 4,16 trilhões no período.
Nos últimos 12 meses até agosto, os FIDCs registraram uma captação líquida de R$ 122,17 bilhões, quase três vezes mais que a renda fixa, que captou R$ 42,68 bilhões. Com exceção do próprio mês e janeiro de 2025, todos os outros meses desde abril de 2024 registraram entrada líquida de capital.
Um dos fatores é justamente a migração de capital de outros fundos, como multimercados e da própria renda fixa, para outros investimentos. Segundo um estudo da Ouro Preto, a renda fixa representava 48% do patrimônio líquido (PL) dos fundos em 2016. Esse percentual caiu para 37,8% em 2023 e deve recuar para 23,1% até 2030, segundo projeções da casa.
Já os FIDCs, que em 2016 respondiam somente por 2,5% do patrimônio dos fundos, dobrou de participação em 2023 — e, pelas estimativas da Ouro Preto, deve chegar a 17,4% em cinco anos.
O atrativo dos FIDCs tem sido justamente a combinação de alta rentabilidade com riscos mais diluídos. O rendimento desses fundos paga o CDI (praticamente os 15% da Selic) e mais um percentual de risco. Nos últimos cinco anos, os FDICs renderam 58,65%, enquanto o Ibovespa teve rentabilidade de 29,94% no período.
“Os juros no Brasil são altos e continuarão sendo altos e os FIDCs oferecem um retorno bem acima do CDI. Não à toa, os fundos de pensão estão muito pouco expostos à renda variável”, lembra Peixoto.
Apesar da queda de juros prevista para ano que vem afetar a rentabilidade desses fundos, a redução do custo de capital, por outro lado, melhora a capacidade de pagamento das empresas, principalmente das que possuem endividamento mais elevado. Isso tende a reduzir a inadimplência e melhorar o risco de crédito dos emissores.
“Para os FIDCs, esse cenário é extremamente favorável, porque aumenta ainda mais a qualidade das carteiras e abre espaço para maior volume de operações com spreads ainda interessantes”, diz Leandro Turaça, sócio-diretor da Ouro Preto investimentos.
Os FIDCs, via de regra, era uma aplicação para investidores qualificados. A norma CVM 175, porém, abriu essa mercado para outros perfis. Hoje, é possível comprar uma cota de FIDC com R$ 1 mil.
Em 2016, somente 12,7 mil investidores detinham FIDCs em suas carteiras e em julho deste ano, o número saltou para 266.780, um aumento de 2.000%. Na renda fixa, esse número saltou de 6.439.021 para 15.476.746, um aumento de 140%.
Com o crescimento exponencial do interesse das pessoas físicas, a projeção da Ouro Preto é de que, até 2030, o número de FIDCs ofertados no mercado praticamente seja quatro vezes maior que o do fechamento de 2024, passando de 3.003 para 10.768 fundos.
A perspectiva é de que o patrimônio líquido chegue a R$ 2,584 trilhões nos próximos cinco anos.