Para investir no exterior, basta abrir uma conta global em uma corretora de valores e fazer as transações pelo aplicativo.
EXAME Solutions
Publicado em 10 de maio de 2024 às 10h30.
Última atualização em 12 de junho de 2024 às 11h59.
Concentrar investimentos em ativos domésticos, ou seja, dentro de um país, de forma desproporcional, é o que o mercado chama de viés doméstico.
Esse comportamento acaba não considerando o risco e retorno dos ativos, e leva em conta, principalmente, a sensação de conhecer melhor a realidade nacional, explica Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, fintech que oferece aos brasileiros uma conta global e possibilidade de investir no exterior.
Então, de forma bem objetiva, o viés doméstico pode trazer uma sensação confortável para o investidor, porque todo os seus investimentos estão em seu país de origem. Mas a verdade é que isso aumenta o risco da carteira.
Quando o viés doméstico pauta os investimentos, o risco fica concentrado, explica Igliori. “Isso pode ser prejudicial em momentos de eventos domésticos negativos para o mercado ou de volatilidade, como anos eleitorais e momentos de incerteza em relação ao fiscal ou à inflação brasileira, por exemplo”, afirma.
Nesse sentido, ter parte do patrimônio em dólares - seja diretamente na moeda americana ou através de investimentos no exterior - significa expor seu dinheiro à divisa que é buscada como porto-seguro em momentos de estresse financeiro.
Igliori pontua, ainda, que o potencial de perda de oportunidades com o viés doméstico é significativo. Isso porque o mercado de economias emergentes, como a do Brasil, tende a não apresentar tanta robustez quanto economias desenvolvidas, além de não oferecer exposição aos mesmos setores.
“Para entender melhor o que está em jogo, vale observar o que orienta os maiores investidores do planeta”, afirma o especialista. “Em geral, economias mais robustas em PIB tendem a receber maiores recursos de gestores de recursos profissionais. O volume financeiro negociado em cada país também tende a ser considerado, assim como rentabilidade histórica, ajustada para os níveis de risco.”
Normalmente, Estados Unidos, Reino Unido e a chamada “zona do euro” concentram boa parte dos recursos. Igliori exemplifica: “no índice MSCI ACWI IMI, que é um dos principais indicadores de ações globais, empresas de capital aberto nos Estados Unidos representam cerca de 63%, enquanto a bolsa brasileira, apenas 0,55%”.
Se há riscos e não é a melhor opção para uma carteira de investimento diversificada, por que alguns investidores adotam o viés doméstico? Parte desse movimento pode ser explicado pelo medo do desconhecido e a sensação de que a segurança está no que está mais próximo, explica Igliori.
“Outro fator é o hábito, pois, por muito tempo, o acesso ao mercado de capitais global era restrito a grupos pequenos de brasileiros com grande volume de recursos financeiros”, diz. “Essa realidade se alterou dramaticamente e hoje qualquer investidor tem acesso aos principais ativos financeiros negociados nas maiores economias do mundo.”
Os investidores devem olhar para os investimentos de maneira pragmática, aconselha o economista-chefe da Nomad. “É como buscar as melhores oportunidades na compra de um eletrônico, por exemplo: importante pesquisar o que há de melhor e mais compatível com a sua necessidade no mercado.”
Para quem tem medo de investir no exterior, vale lembrar alguns pontos que o mercado americano apresenta o benefício da estabilidade do dólar, e existem mecanismos de proteção, como o regulador local SEC (U.S. Securities and Exchange Commission), similar à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) no Brasil, e a FINRA (Autoridade regulatória da Indústria Financeira Americana).
“Na Nomad, os ativos também contam com a cobertura do SIPC (Securities Investor Protection Corporation), entidade que visa proteger investidores americanos. A conta é assegurada em até US$ 500 mil”, detalha Igliori.
Além disso, a diversificação é a melhor forma de se expor menos a riscos concentrados e de capturar oportunidades. “Os mercados brasileiros não são apenas muito menores em tamanho, mas também bem mais concentrados em termos de setores de atividades”, explica o especialista.
“Buscando ativos internacionalmente, você amplia suas possibilidades de retorno, por conseguir ter acesso a ativos que estão na fronteira de inovação e crescimento da economia global.” Tópicos como inteligência artificial ou biotecnologia são menos presentes na economia brasileira. No mercado norte-americano, é possível, por exemplo, ter no portfólio grandes empresas de tecnologia, como as “sete magníficas” que são negociadas diretamente nos Estados Unidos.
O viés doméstico nos investimentos é um fenômeno global, mas o peso do fenômeno no portfólio varia muito. No Reino Unido, por exemplo, os investidores têm aproximadamente 25% do portfólio de ações em empresas domésticas e 18% no mercado de dívida doméstico. O PIB do Reino Unido corresponde a apenas 3% do total global e o mercado de dívida e bolsa, 4%.
No Brasil, investe-se, em média, mais de 99% do patrimônio domesticamente, segundo estudo do J.P.Morgan baseado em dados do Bank for International Settlements (BIS), enquanto o mercado de renda fixa representa 1,5% do global e o de renda variável, 0,8%, conforme o mesmo estudo.
“Considerando a concentração setorial do mercado doméstico - mais de 50% da bolsa brasileira está em dois setores: bancos e commodities - e todos os dados já mencionados sobre as oportunidades globais, acreditamos que a parcela da carteira em investimentos globais deve ser relevante”, afirma Igliori. “Mas o percentual dependerá de alguns fatores, como apetite a risco, horizonte de investimento, necessidades, efeitos do dólar no seu dia a dia, objetivos, entre outros.”
Para começar a investir no exterior, o investidor brasileiro precisa abrir uma conta em uma corretora de valores. É essa empresa que vai enviar o dinheiro para o exterior, convertendo-o de reais para dólares.
Por meio dessa conta global o investidor tem acesso a diferentes tipos de investimentos. Alguns deles são:
“Portanto, para saber como investir nos Estados Unidos morando no Brasil, basta fazer a sua conta na corretora e enviar o dinheiro”, explica o economista-chefe da Nomad.
Ele recomenda, ainda, fazer o teste de “suitability” para conhecer seu perfil de investidor e, assim, escolher os ativos em que deseja aplicar, de acordo com o resultado.
Quem está planejando investir no exterior pela primeira vez, deve ter atenção a alguns cuidados necessários para garantir as melhores escolhas para o perfil do investidor. “Como em qualquer outro investimento, a escolha dos ativos para compor sua carteira precisa ser feita com muito cuidado e de forma minuciosa”, explica Igliori. “A começar pelo entendimento das regras e regulamento sobre investimentos do país que está investido.”
Cada território tem suas próprias regras e um sistema fiscal próprio. Então, ao investir no exterior, acompanhar o mercado internacional e entender fatores que podem influenciar seus investimentos é crucial.
Alguns outros cuidados que você deve ter ao investir no exterior são: