Onde investir: bolsa vive um rali, ultrapassando os 150 mil pontos (Germano Lüders/Exame)
Repórter de finanças
Publicado em 6 de novembro de 2025 às 06h00.
O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve, na decisão desta quarta-feira, 5, a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, em 15% ao ano. Nesse cenário, a renda fixa ainda se mostra bastante atrativa. Na outra ponta, a renda variável não vai tão mal assim: no ano, a bolsa sobe mais de 27%, renovando recordes dia após dia. Nesse cenário, fica a dúvida de onde vale a pena investir.
Por partes: a bolsa bate recorde, mas ainda está barata. Para entender como um índice está “caro” ou “barato” é necessário olhar o “preço sobre lucro” (P/L). Ele funciona assim: soma-se todos os preços das ações e divide-se pelo lucro dessas mesmas ações (dado os devidos pesos de cada uma no Ibovespa). O resultado é 10,3x, significa que o valor de mercado das ações equivale essa quantidade de vezes os lucros líquidos anuais delas.
Esse número, por sua vez, está abaixo da média histórica de 13,92x nos últimos 10 anos. Mas a bolsa já esteve mais barata: o múltiplo foi de 7,21x em 2021, 5,76x em 2022, 9,46x em 2023 e 8,08x em 2024, segundo dados da Bloomberg, compilados pela consultoria Nord Investimentos a pedido da EXAME.
“Tem ainda um capital estrangeiro que não veio para a bolsa, tem o próprio investidor local que não está olhando para a bolsa mesmo com ela subindo mais de 20%, tem empresa saindo da bolsa… Então o preço sobre lucro dela fica nesse lugar”, comenta Christiano Clemente, CIO do Santander Private Banking.
Então se a bolsa está barata, vale a pena apostar na renda variável em vez da renda fixa? Isso vai depender do apetite por risco do investidor — cada um tem um perfil. Para aquele que aceita tomar mais risco, mas espera ter mais retorno, a bolsa pode ser uma boa aposta. Se quer previsibilidade e mais segurança, a renda fixa é o ideal.
Não somente o perfil do investidor, como o tipo de ativo a ser comprado é o que vai ditar qual escolha é a melhor. Ações de setores mais defensivos podem ser uma boa escolha para ter um retorno atrativo, ao mesmo tempo que tem uma segurança.
A renda fixa também tem seus riscos, claro. Comprar um título de dívida de uma empresa não é uma garantia de que ela vai te pagar o que deve. Mas para isso, basta entender a saúde financeira da emissora e há outras opções mais seguras do que o crédito privado.
Dentro do universo de renda fixa, há diversos instrumentos — como CDB, LCI, LCA, CRI, CRA, debêntures e letras financeiras — que podem oferecer remunerações competitivas. Só que a bolsa, no ano, sobe mais do que o CDI — a referência de rentabilidade da renda fixa.
Segundo dados da consultoria Elos Ayta Consultoria, enquanto o Ibovespa subia 24,32% até 31 de outubro de 2025, o CDI avançava 11,71% no mesmo período. “Se o investidor tivesse só bolsa, ele teria tido um rendimento melhor do que o investidor que tivesse só CDI. Mas tem um ponto de atenção: a volatilidade da bolsa é muito maior que a volatilidade do juro nominal”, aponta Clemente.

A bolsa tem atraído mais capital estrangeiro neste ano e tem sido impulsionada pelo enfraquecimento do dólar, que fez investidores migrarem dos Estados Unidos para outros países, incluindo os emergentes como o Brasil. Até setembro, o total de entradas líquidas soma R$ 27,07 bilhões quando se incluem IPOs e follow-ons, e R$ 26,51 bilhões ao se considerar apenas o mercado secundário, segundo a Elos Ayta Consultoria.
“Não é que o estrangeiro está vendo valor só no Brasil, ele está vendo em emergentes no geral e o Brasil acaba pegando uma fatia desse bolo", comenta Álvaro Frasson, estrategista macro do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME).
O EWW, que é o ETF do México nos Estados Unidos em dólar, sobe 43% e o EZA da África do Sul sobe 47%, enquanto o EWZ sobe 38%.
A queda de juros no radar também pode beneficiar tanto ativos da renda variável como da renda fixa. Nesta última, títulos prefixados podem ser uma boa opção. Isso porque caso um investidor fixe os juros em um determinado patamar e esse juros caia, o título se valoriza, já que o retorno do papel comprado é maior do que o atual. Já a bolsa pode se beneficiar com a entrada de fluxo vindo da renda fixa e subir ainda mais.
No final, tudo vai depender do tipo de risco e retorno que o investidor deseja. “A renda fixa, se você não realizar, você sabe quanto vai ter de retorno no vencimento, ela é um retorno garantido. A bolsa não tem um retorno garantido. Então é natural que como ela tem um risco maior, uma volatilidade maior, ela entregue um retorno maior”, pontua Clemente.
Marília Fontes, sócia-fundadora da Nord Investimentos, complementa:
“Eu, no papel de investidor, e ainda mais para o investidor que topa o risco de bolsa, teria os dois. Uma carteira diversificada com ambos, porque acho que os dois estão muito baratos.”