Invest

BC sinaliza fim de alta da Selic: é hora de investir em prefixados?

Com o freio no ciclo de alta de juros, surge a oportunidade de investir em títulos prefixados de curto prazo que estão pagando, em média, 13% ao ano. Saiba como especialistas avaliam essas aplicações

Renda fixa: retorno de prefixados pode ser superior ao de títulos atrelados à inflação e ao CDI (Thinkstock/Thinkstock)

Renda fixa: retorno de prefixados pode ser superior ao de títulos atrelados à inflação e ao CDI (Thinkstock/Thinkstock)

BA

Bianca Alvarenga

Publicado em 3 de junho de 2022 às 06h03.

O Banco Central já mandou avisar: o ciclo de alta da Selic vai acabar em breve. Na última reunião do Comitê de Política Monetária, o Copom, a taxa básica de juros foi elevada para 12,75%. A ata divulgada após a reunião explicou que esse deve ter sido o último ou penúltimo aumento da Selic. A partir de agora, as opções mais prováveis são de mais um aumento de meio ponto percentual, ou de a taxa permanecer como está.

Isso não significa, no entanto, que os juros vão começar a cair tão cedo. As projeções dos economistas consideram que a Selic vai iniciar sua descida, degrau por degrau, apenas no ano que vem. Até lá, o rendimento dos títulos de renda fixa deve permanecer acima de dois dígitos.

O fim do ciclo de alta da Selic e a permanência da taxa em patamares elevados por mais tempo pode abrir uma boa janela para investimento em títulos com rendimento fixo, como papeis prefixados de crédito (CDB, LCI e outros) e as próprias LTN (como é chamado o Tesouro Prefixado).

Esses títulos consideram as projeções de juros para calcular a taxa de rendimento – taxa, que como diz o nome da aplicação, é pré-contratada e não depende de nenhuma variável.

Analistas ouvidos pela EXAME avaliam que tais projeções de juros, especialmente as de curto e médio prazo, podem estar mais pessimistas do que o cenário real. Em outras palavras: o mercado está calculando juros mais altos do que os que possivelmente teremos nos próximos anos.

"Temos uma visão construtiva para os prefixados de curto prazo. Acredito que o mercado está sobreprecificando o risco, uma vez que a Selic deve começar a cair no médio prazo. Comprar um prefixado e 'travar' o rendimento a uma taxa de 12 ou 13% pode ser vantajoso", explica Odilon Costa, analista de renda fixa e crédito privado do BTG Pactual.

Costa diz, ainda, que essa visão mais pessimista faz com que os títulos prefixados tenham uma "gordura" em relação aos títulos pós-fixados. Isso significa que possivelmente as taxas pré-acordadas serão superiores ao valor do CDI nos próximos dois anos.

O Tesouro Prefixado 2023, título que é referência para os prefixados de curto e médio prazo, está oferecendo um rendimento anual na casa de 13%, atualmente. É um retorno maior do que os dos títulos da mesma classe com vencimento em 2025 e 2026, o que corrobora a visão de que a Selic pode cair a partir do ano que vem.

Veja abaixo as taxas de retorno dos títulos do Tesouro Prefixado:

Vale a pena investir em um prefixado de médio ou longo prazo?

Quando o foco deixa de ser o horizonte de um ou dois anos, a visão dos especialistas passa a ser mais cautelosa. A ainda indefinida eleição presidencial, que vai determinar a linha econômica que o Brasil seguirá pelos próximos anos, e os outros fatores imprevisíveis, como o caminhar da política de juros nos Estados Unidos, deixam muito do futuro em aberto.

Assim sendo, apostar em um patamar de juros (seja ele qual for) no médio longo prazo é ainda mais arriscado, e oferece pouca vantagem em relação ao investimento em um pós-fixado atrelado aos juros e inflação. Embora haja perspectiva de uma queda da Selic e do IPCA, ambos indicadores devem permanecer em patamares elevados nos próximos anos.

"Não acredito que investir em um prefixado de 5 ou 10 anos faça sentido porque, embora haja uma 'sobra' na curva de juros, enxergamos à frente um cenário de inflação que tende a acelerar", pondera o analista do BTG Pactual.

Filipe Albert, gestor de crédito da Fator, lembra que o preço das commodities (como petróleo, minério e grãos) continua pressionado, o que indica que a inflação vai demorar a ceder. Por outro lado, o BC já começou a sinalizar que combater essa pressão externa com juros passa a ser contraproducente.

"Os próximos meses vão mostrar qual o legado desses efeitos para a economia e para os juros. Há muito em aberto ainda", lembrou o gestor.

Investimento em IPCA pode ser oportunidade

Dessa maneira, a escolha do pós-fixado também pode trazer oportunidades. O BTG tem indicado aos seus clientes a compra de títulos de duration (tempo necessário para o título entregar o rendimento) curto e intermediário – de 3 a 5 anos.

Para Guilherme Lagnado, sócio da gestora Empírica, faz sentido que o investidor aloque parte do seus recursos em pós-fixados atrelados ao IPCA.

"Se você tem parte do seu patrimônio aplicado em inflação, então está protegido contra choques de preços, e ainda tem a garantia de ganho real. É um benefício importante, ainda mais considerando que o mundo atravessa um contexto econômico bastante inédito", recomendou o gestor.

Acompanhe tudo sobre:InflaçãoJurosrenda-fixaSelicTesouro Direto

Mais de Invest

Venda de títulos por meio do Tesouro Direto será suspensa na terça por conta de greve de servidores

Goldman Sachs rebaixa Azul de compra para neutro e vê incertezas na renegociação de dívida

IR 2024: Não estou no último lote de restituição. Caí na malha fina?

Ibovespa recua repercutindo risco fiscal e mercado externo