Geração de resíduos deve crescer 70% até 2050, uma questão a ser resolvida por empresas e governos (Ocean Eyes Productions/Divulgação)
Bianca Alvarenga
Publicado em 12 de maio de 2022 às 17h52.
Última atualização em 13 de maio de 2022 às 11h35.
As preocupações sobre a finitude dos recursos naturais existem desde, pelo menos, o século passado. No entanto, as discussões ambientais ganharam mais força nas últimas décadas, conforme os sinais vermelhos passaram a ficar mais evidentes para a humanidade. O crescimento no número de eventos climáticos extremos e de incidentes naturais é um alerta claro de que discutir o ritmo de uso dos insumos do planeta já passou da hora.
A urgência do tema indica que essa é uma preocupação que não será só de autoridades governamentais, e sim uma pauta cada vez mais corporativa. Empresas que aplicam ou que, em última instância, já nascem com conceitos fundamentais de economia circular podem ser a nova terra prometida das bolsas de valores.
Em um relatório recente, o banco americano Goldman Sachs fez um mapeamento do trilionário mercado de economia circular, e aponta quais são os ativos já listados no mercado que podem ajudar o investidor a ficar com um pedaço do crescimento potencial do segmento.
Antes de qualquer coisa, cabe explicar o que é, afinal, economia circular. Na definição usada pelo banco, trata-se do consumo de recursos naturais em um ritmo igual ou inferior à própria capacidade de regeneração do planeta. Hoje, a humanidade consome 75% mais do que a Terra é capaz de repor, e o nível de geração de resíduos deve ser 70% maior até 2050. É uma carga que evidentemente a natureza não pode suportar por muito tempo.
"Essa tradição econômica de 'explorar, fazer, desperdiçar' contribui para efeitos negativos, como a emissão excessiva de gases que causam mudanças climáticas, poluição, problemas de saúde pública, dificuldade para acesso à água potável e mais", ressaltou o banco, em relatório.
Além do apelo socioambiental, há um grande gancho econômico para a economia circular. De acordo com os analistas da instituição, as práticas englobadas no tema podem adicionar até 4,5 trilhões de dólares no PIB global até 2030, além de contribuir para o processo de descarbonização (principalmente nas economias desenvolvidas).
A equipe de análise do Goldman Sachs defende ainda que a janela para discussão do tema (e para pensar em como trazer esse mercado promissor para sua carteira de investimentos) ficou mais evidente com a crise inflacionária que assola o mundo.
Com produtos básicos, como petróleo, minério e alimentos, ficando mais caros, discutir uma forma de melhorar o equilíbrio entre consumo e reposição desses recursos passa a ser mais do que uma questão ambiental, e sim econômica.
Os caminhos para chegar a um cenário mais equilibrado seriam trilhados por meio de 7 pilares principais: eficiência, substituição, durabilidade, ecodesign, melhor utilização de recursos, reciclagem, e novos modelos de negócios e parcerias.
Embora os conceitos pareçam abstratos, a equipe do banco identificou mais de uma dezena de empresas que já aplicam um ou mais de um dos sete pilares em seus negócios principais, e que podem participar do crescimento trilionário.
As 13 empresas de economia circular escolhidas com indicação de compra pelo Godlman Sachs foram: Befesa, Nike, Adidas, Azek, Uber, Lyft, Ashtead, Herc, United Rentals, Waste Management, Veolia, Norsk Hydro, e Grocery Outlet. A maior parte delas tem sede nos Estados Unidos, mas há, ainda, negócios do Reino Unido, China, Canadá, França, Austrália, Áustria e Luxemburgo.
Naturalmente, nem todas as marcas são familiares aos brasileiros, pois poucas dessas empresas têm atuação nacional – os mais conhecidos tendem a ser Nike, Adidas e Uber. Mas colocando de forma simplificada, são negócios que vão desde a produção de aço, passando por transporte por aplicativos, até plataformas de compartilhamento de roupas.
No relatório, os analistas do Goldman Sachs avaliaram quanto da receita desses negócios está exposta à economia circular e aos novos conceitos ESG, de maneira geral. No caso da Befesa, empresa de Luxemburgo que atua na reciclagem de aço e alumínio, 100% do valor faturado está alinhado com esse futuro que se apresenta. Já no caso da Uber, o percentual cai para 52%.
O trabalho do Goldman Sachs não foi o de prever quanto cada empresa pode ganhar com o crescimento da demanda por soluções de utilização mais eficiente de recursos naturais. As variáveis, nesse caso, tornam o cálculo muito incerto.
O que o banco fez foi apontar negócios que já estão alinhados com o conceito de economia circular e que têm recomendação de compra pela equipe de análise por fatores diversos, inclusive questões ESG.
Dentre os ativos recomendados, apenas 4 podem ser acessados por investidores brasileiros por meio de BDRs. São eles:
Todos os outros negócios mencionados pelo banco, no relatório, podem ainda ser acessados diretamente por investidores que possuem conta em corretoras ou bancos estrangeiros.