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A tempestade perfeita do dólar e como agir agora

Desvalorização do real frente à moeda americana exige ações firmes para recuperação

Em momentos de grande incerteza é sempre recomendável evitar movimentos bruscos e, de forma geral, moderar o apetite a riscos. (viktoriian/envato)

Em momentos de grande incerteza é sempre recomendável evitar movimentos bruscos e, de forma geral, moderar o apetite a riscos. (viktoriian/envato)

Publicado em 7 de agosto de 2024 às 16h00.

Última atualização em 7 de agosto de 2024 às 16h11.

Não seria exagero dizer que estamos vivendo a proverbial tempestade perfeita sobre a taxa de câmbio. O contexto de alta incerteza global e doméstica potencializou a depreciação do real frente ao dólar que, desde o início do ano, já supera impressionantes 15%. Até o momento, a moeda brasileira está na lanterna no desempenho quando comparada com os principais países emergentes. Mas o que explica esse movimento?

O ponto de partida sem dúvida está relacionado com a manutenção em patamares altos das taxas de juro nos Estados Unidos. Como resultado, volumes altos de recursos são drenados para a economia americana, pressionando o valor relativo de moedas por todo o planeta, particularmente entre os países emergentes. A expectativa é que o juro seja cortado já na próxima reunião, mas ele permanecerá em patamares relativamente elevados.

Em segundo lugar, temos um cenário de tensão geopolítica, que tem se deteriorado. De um lado, os conflitos entre Rússia e Ucrânia e no Oriente Médio não apresentam perspectivas de encerramento (no caso do Oriente Médio, agora são monitorados riscos de se tornar um conflito regional). De outro, as relações entre EUA e China continuam esgarçadas com potencial de impactos relevantes na realocação global de atividades industriais.

Ainda no front internacional, observamos recentemente ajustes na política monetária japonesa (ficando mais restritiva, com aumento de taxas de juro e menor recompra de títulos públicos) que enfraqueceu o chamado “carry trade”, diminuindo a demanda relativa por reais. O carry trade é uma estratégia de investimento onde um investidor toma emprestado dinheiro em uma moeda com uma taxa de juro baixa (como o iene japonês) e o investe em ativos denominados em uma moeda não tão depreciada em uma economia com uma taxa de juro mais alta (como o real). A ideia é lucrar com a diferença nas taxas de juro entre as duas moedas, e esse tipo de operação vinha trazendo fluxo para o real.

Mas o contexto doméstico tem participação muito importante também. Por aqui, o ano de 2024 desfez boa parte dos ganhos de confiança que o governo obteve junto a agentes econômicos ao longo do ano passado. As suspeitas giram em torno de um eventual maior intervencionismo em empresas estatais e principalmente na possibilidade de afrouxamento nas políticas fiscal e monetária. O fiscal teve grande predominância no primeiro semestre com mudanças na meta de superávit estabelecida pelo marco fiscal em 2023.

Mas a política monetária ganhou destaque, com as constantes declarações do presidente contra as ações do Copom e com o fato de que a diretoria do Bacen será majoritariamente indicada pelo atual governo no início do ano que vem. Na semana passada, tivemos um acréscimo nas suspeitas sobre a condução da política monetária com a interpretação por alguns analistas de que o comunicado do Copom deveria ter indicado de forma mais explícita a possibilidade de voltar a subir a taxa de juro se a inflação voltar a se deteriorar.

O que reverteria essa situação?

No cenário internacional precisaríamos de uma sinalização mais forte de que o ciclo de corte de juros nos EUA será mais intenso do que o esperado até pouco tempo. Na realidade, essa possibilidade aumentou bastante nos últimos dias com a divulgação de dados fracos de atividade e mercado de trabalho. Já o contexto de tensões geopolíticas não parece ter chances palpáveis de alteração relevante no curto prazo.

No contexto doméstico, precisamos de declarações e iniciativas concretas de que o governo não cederá às “tentações” e manterá políticas fiscal e monetária relativamente alinhadas com o tripé macroeconômico que nos permitiu navegar com estabilidade em boa parte das últimas décadas. Com relação ao fiscal temos visto alguns esforços por meio do anúncio de contingenciamentos. Mais iniciativas na mesma direção seriam bem-vindas.

Agora é a hora de sinais fortes vindo da política monetária. A primeira grande oportunidade será na divulgação da ata da última reunião na semana que vem. Mensagens contundentes de que o Copom fará os ajustes necessários para não perder a luta no combate à inflação poderão ajudar bastante.

O que fazer com investimentos?

Em momentos de grande incerteza é sempre recomendável evitar movimentos bruscos e, de forma geral, moderar o apetite a riscos. Com relação a investimentos no exterior e alocação em ativos denominados em dólar, reforçamos nossa visão estrutural por meio de duas mensagens principais:

1. todo o investidor brasileiro deveria ter uma parcela relevante do seu patrimônio no exterior. Ajuda a diminuir riscos e amplia as possibilidades de retorno;

2. antecipar movimentos de curto prazo do dólar é ingrato e o mais indicado é ir montando a sua carteira de forma gradual formando um preço médio nas compras de moeda.

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