Gestores reduziram exposição às ações brasileiras e elevou apostas no mercado americano (Germano Lüders/Exame)
Bloomberg
Publicado em 13 de setembro de 2021 às 14h13.
Rodeados por sinais de que a crise institucional no Brasil não cederá tão cedo, investidores desmantelaram posições otimistas em ações locais e buscaram explorar oportunidades no cenário externo em agosto.
O Bahia Asset Management reduziu sua exposição às ações brasileiras e elevou apostas no mercado americano. A SPX Capital foi ainda mais longe, e zerou posição direcional comprada na bolsa local, enquanto o sócio-fundador da Kapitalo Investimentos Carlos Woelz disse, no fim do mês passado, que o fundo carrega posição comprada em nomes como Alphabet e Facebook.
A fala inflamada do presidente Jair Bolsonaro contra o Supremo Tribunal Federal ampliou o temor dos investidores com a possibilidade de a agenda econômica no Congresso seguir com dificuldade para avançar. Isso, enquanto o governo ainda busca uma solução para os precatórios.
“No âmbito institucional, estamos passando por um momento de grande tensão”, disse a SPX Capital, em sua carta de agosto aos clientes.
Do outro lado, a Verde Asset Management disse que há prêmio suficiente no mercado brasileiro para o fundo manter as posições atuais, incrementando aos poucos o risco do portfólio. O Ibovespa negocia a 8 vezes os lucros estimados, abaixo da média de 10 anos de 11,8 vezes, segundo dados da Bloomberg.
Veja um resumo do que alguns dos principais multimercados escreverem em suas cartas de agosto:
O mercado de ações dos EUA oferece “grandes oportunidades” e os fundos da Adam estão carregando um nível de risco superior ao dos últimos anos. No Brasil, a alta da inflação e o ruído político continuam a prejudicar os ativos locais, enquanto investidores provavelmente favorecerão ativos de renda fixa em detrimento de ativos de renda variável antes das eleições de 2022.
Fundo reduziu risco bruto e direcional em renda variável no Brasil, ao mesmo tempo em que aumentou a posição comprada em bolsa americana. Desdobramentos políticos e discussões sobre fiscal geraram ainda mais volatilidade e pressionaram os ativos locais. Além disso, houve “grande aumento” de tensão entre poderes Executivo e Judiciário.
Volatilidade expressiva nos mercados locais recomenda postura cautelosa. Ruído político crescente, “tentativas de fragilização do arcabouço fiscal” e pressões inflacionárias predominaram sobre o progresso na vacinação e a retomada econômica. Aparente perda de protagonismo pelo Ministério da Economia é a maior preocupação, em especial junto a uma potencial guinada populista na política econômica.
Kapitalo zerou posições compradas em real e em inflação local, e reduziu posição de valor relativo comprada em ações brasileiras, favorecendo o mercado internacional de renda variável. Alto nível de tensão institucional contribui para a manutenção do já elevado nível de incerteza econômica. Piora da inflação deve levar o Banco Central a subir a Selic acima do neutro até o final do ano.
Legacy aumentou posição vendida simultâneamente em dólar contra o real e em Ibovespa. Gestora cortou projeção para o PIB do Brasil de 2021 de 5,7% para 5,5%, e para o crescimento econômico de 2022 de 2,5% para 1,5%. Revisão deve-se especialmente à crise hídrica e maior taxa de juros.
Fundo zerou posição direcional comprada em bolsa brasileira, em meio ao avanço da crise institucional, revisões para baixo nas estimativas de crescimento e pressões inflacionárias. Falta de harmonia entre os poderes Executivo e Judiciário eleva incertezas e paralisa as pautas no Congresso.
Fundo diz que há prêmio suficiente na bolsa brasileira e na parte intermediária da curva de juro real para manter posições atuais e gradualmente incrementar risco ao portfólio. “Mercado está mais barato, mas não estupidamente barato”, diz a carta, que menciona doses altíssimas de incerteza.