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O mercado tradicional vai incorporar os criptoativos?

Os números mostram que os investidores têm interesse em buscar soluções reguladas, simplificadas e seguras para acessar os criptoativos

O mercado brasileiro já soma ETFs de diferentes criptomoedas, como o bitcoin e o ethereum | Foto: Yuriko Nakao/GettyImages (Yuriko Nakao/Getty Images)

O mercado brasileiro já soma ETFs de diferentes criptomoedas, como o bitcoin e o ethereum | Foto: Yuriko Nakao/GettyImages (Yuriko Nakao/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 9 de novembro de 2021 às 07h00.

Por Luis Kondic*

Os criptoativos, ativos virtuais protegidos por criptografia, têm se configurado como um fenômeno global cada vez mais disseminado e de caráter aparentemente irreversível.

O pioneiro entre eles é o bitcoin, lançado em 2009 e, por isso mesmo, um dos mais valorizados e cobiçados do mercado. Nos Estados Unidos, uma pesquisa apontou que 14% dos americanos, o equivalente a mais de 21 milhões de pessoas, detêm algum tipo de criptomoeda. No Brasil, estudos mostram que as negociações superaram 7 bilhões de reais em setembro.

Embora os números sejam expressivos, sob uma ótica econômica talvez ainda seja prematuro saber se as criptomoedas se consolidarão no mercado como uma nova classe de ativos. O fato é que ganham cada vez mais espaço na agenda de bancos de investimentos, investidores institucionais e pessoas físicas.

Diante desse movimento global, a B3, enquanto infraestrutura do mercado, acompanha e interage com essas inovações do mercado. Ao lado dos órgãos reguladores, a bolsa do Brasil tem se debruçado muito sobre a questão dos criptoativos. Se, no início, as moedas digitais eram vistas com ressalvas, hoje já estão inseridas em um espectro de oportunidades.

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Nesse sentido, o trabalho da B3 para oferecer instrumentos que permitam exposição a criptoativos dentro do mercado regulado avança a cada dia, e os resultados já aparecem. Em abril, passamos a oferecer aos investidores a exposição a criptoativos por meio de ETFs, instrumentos convencionais e regulados negociados em ambiente de bolsa.

O primeiro deles foi o ETF Hashdex Nasdaq Cryto Index, com o ticker de negociação HASH11. Esse foi, aliás, o segundo ETF atrelado ao preço de criptoativos lançado em todo o mundo. O produto oferece ao investidor exposição a uma carteira teórica de criptoativos com o valor inicial de aproximadamente 50 reais por cota.

Os números mostram que os investidores têm interesse em buscar soluções reguladas, simplificadas e seguras para acessar os criptoativos. Em sua semana de lançamento, o HASH11 ultrapassou 1 bilhão de reais de patrimônio. E, entre os 51 fundos de índices hoje listados na bolsa, esse ETF foi ainda o sexto mais negociado na bolsa em setembro, com volume de negociação de 1,1 bilhão de reais e volume médio diário de 52 milhões de reais.

Em agosto, apenas cinco meses após a estreia do primeiro ETF de cripto na B3, havia 159.227 investidores com posições em ETFs referenciados em criptomoedas. O patrimônio líquido estava na ordem de 2,48 bilhões de reais.

Além do HASH11, a B3 oferece mais ETFs referenciados a esse tipo de ativo, como o QBTC11 (CME CF Bitcoin Reference Rate), o BITH11 (Nasdaq Bitcoin Reference Price), o QETH11 (CME CF Ether-Dollar Reference Rate) e o ETHE11 (Hashdex Nasdaq Ethereum Reference Price Fundo de Índice).

Ao todo, os investimentos nesses cinco ETFs já alcançam mais de 159 mil investidores na B3. Interessante notar que cerca de 40% dos negócios de ETFs de criptoativos é feito por investidores locais pessoas físicas.

Além dos ETF de cripto, a B3 também passou a aceitar o registro de operações de derivativos de balcão e Certificados de Operações Estruturadas (COE) referenciadas em ativos vinculados a criptoativos, como contratos futuros de criptoativos negociados em bolsa regulada, Exchange-traded Funds (ETFs) sobre criptoativos ou ETFs sobre índice de criptomoedas.

A disponibilização desse novo tipo de ativo-subjacente pode ser solicitada por qualquer participante do Balcão B3. Os produtos são também uma oportunidade de hedge no caso dos derivativos ou de diversificação de portfólio por meio de exposição às criptomoedas, no caso do COE, ambos também em um ambiente regulado. O volume financeiro em estoque está perto de alcançar 590 milhões de reais, com mais de 3.000 contratos em aberto dos instrumentos vinculados.

Os avanços promovidos neste ano vão continuar, pois estudos da B3 para os mercados de criptoativos continuam em rápido desenvolvimento. Nesse processo, a companhia segue com o seu espírito de ser uma empresa focada em serviços para outras empresas.

Assim, por exemplo, a bolsa já estuda como pode se posicionar para prestar serviços às corretoras de criptomoedas. É certo que esse setor tem muito a ganhar com a experiência e o conhecimento da B3 nos mercados.

A B3 também avalia junto aos investidores e participantes do nosso ecossistema a listagem de um futuro indexado a criptoativos e quais as principais características que o mercado demandaria para esse contrato.

O esforço da bolsa do Brasil em relação aos criptoativos, no entanto, está longe de significar que o entendimento sobre o assunto está encerrado. Aliás, esse é um mercado que ainda vive uma acelerada evolução e transformação, sujeito a alterações de percepção de valor em curtos espaços de tempo, com variações de preços que podem em certos momentos ser bruscas e descorrelacionadas com o cenário econômico e com outros ativos.

É necessário, então, que sob todos os aspectos, principalmente em relação aos riscos inerentes a esse tipo de operação, siga-se analisando e implementando aprimoramentos para que o mercado tradicional consiga acomodar, dentro do possível, as criptomoedas.

*Luis Kondic é diretor executivo de Produtos Listados e Dados da B3.

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