O sócio-fundador da Bridgewater Associates, Ray Dalio, um dos maiores investidores do mundo | Foto: Kimberly White/Getty Images (Kimberly White/Getty Images)
Juliana Machado*
Publicado em 22 de julho de 2021 às 09h53.
“A coisa mais importante que eu aprendi foi abordar a vida com base em princípios que me ajudassem a saber o que é verdade e o que fazer em relação a isso.” É assim que Ray Dalio introduz, ainda nas primeiras frases do seu livro “Princípios”, um dos ensinamentos mais importantes aprendidos nas quase cinco décadas à frente da Bridgewater Associates, a maior companhia de hedge funds do mundo.
Dalio não sabia, mas essa frase do seu livro casaria perfeitamente com o mais recente movimento da gestora: admitir a realidade e a emergência dos investimentos sustentáveis e de impacto e contribuir para destinar recursos a essa finalidade.
Em todo lançamento de uma estratégia nova em fundos de investimento, o sucesso parece bastante incerto – ainda mais em um tema tão visado hoje quanto os critérios sociais, ambientais e de governança corporativa (ESG). Mas é justamente por respeitar seus próprios princípios que a Bridgewater juntou os 46 anos de experiência em gestão de recursos com a ascensão de uma agenda que vai demandar investimento privado para avançar.
O resultado desse projeto ficou disponível neste mês aos investidores brasileiros com o lançamento do fundo All Weather Sustainability, a estratégia da casa desenhada em 1996 para receber os recursos do próprio Ray Dalio, somada a um processo de investimento que leva em conta os objetivos de desenvolvimento sustentável (SDG, em inglês) da Organização das Nações Unidas (ONU), uma agenda ratificada por mais de 190 países em 2015.
Os SDGs correspondem a um grupo de 17 objetivos voltados para erradicação da pobreza, preservação ambiental e climática e desenvolvimento humano em várias frentes, uma pauta que contará com a participação de governos e grandes investidores no mundo para ser desenvolvida até 2030. Por meio do fundo, o que a Bridgewater faz é investir em companhias e setores que estejam alinhados às metas, depois de um processo de seleção que combina análise fundamentalista a uma abordagem sistemática e com diversificação.
A Bridgewater tem vários produtos, mas uma das estratégias mais antigas da casa é a All Weather, que consiste em compreender as ligações de causa e efeito nos ciclos econômicos e de mercado globais, além de enxergar de que forma isso atinge setores e companhias. Em cima disso, a gestora acrescenta uma abordagem sistemática para descrever esse entendimento de forma objetiva, por meio de regras explícitas, para que seja possível testar a confiança na tese, simular retornos em cenários de estresse e pensar em limites de proteção. O investimento é feito em algo como 70 mercados globais para diversificar as fontes de retorno, os riscos e a correlação.
“O fundo All Weather tem como objetivo perpetuar a riqueza para as próximas gerações. A pergunta a ser feita é: como criar um portfólio robusto o suficiente para navegar por qualquer período econômico? Daí o nome all weather [todas as condições climáticas, em tradução livre]”, afirma Bernardo Queima, sócio da HMC Itajubá, companhia responsável por viabilizar a oferta de grandes fundos globais no Brasil, incluindo a Bridgewater. “Ao responder a essa pergunta, a conclusão de Dalio foi um portfólio global, geograficamente diversificado e indiferente às mudanças nas condições econômicas.”
No All Weather Sustainability, toda a filosofia usada no irmão mais velho é replicada, mas com foco em companhias sustentáveis. O processo consiste em definir as fontes de geração de receita alinhadas a uma ou mais metas da agenda de impacto da ONU e filtrar os nomes de acordo com o alinhamento da companhia às melhores práticas necessárias para chegar ao objetivo. A Bridgewater tem uma frente específica de pesquisa ESG e soluções de investimentos sustentáveis, liderada pelos estrategistas Karen Karniol-Tambour e Carsten Stendevad, que participam da elaboração do portfólio.
Desde o dia 15 de julho, o produto já pode ser acessado por investidores qualificados na plataforma do BTG Pactual digital a partir de R$ 500, nas versões com ou sem hedge (proteção cambial). Embora ainda restrito a quem tem mais de R$ 1 milhão em investimentos ou alguma certificação oficial do mercado financeiro, o fundo já chega com um mínimo inicial baixo visando mudanças regulatórias futuras – está em debate na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a alteração dos limites de concentração internacional para produtos destinados ao varejo.
“O que a Bridgewater notou é que os ativos em bolsa alinhados com sustentabilidade têm o mesmo comportamento com os ciclos econômicos que os demais, então dá para construir a estrutura do All Weather, um fundo com 25 anos de histórico, pensando especificamente nesse tema”, descreveu Queima durante evento com assessores de investimento.
“Esse é um momento muito especial, é uma das primeiras vezes que eu vejo que estamos par a par com o que acontece no mundo, ao lado do movimento do maior hedge fund na área de sustentabilidade.”
O custo total da administração do Lyxor Bridgwater All Weather Sustainability, incluindo o fundo investido fora do Brasil, fica ao redor de 1,45% ao ano, sendo 0,50% do produto distribuído aqui. Quem investe no produto pode resgatar os recursos em quatro dias e não paga taxa de performance.
*Juliana Machado é analista CNPI e integra o time de análise de fundos de investimento do BTG Pactual digital. É jornalista formada pelo Mackenzie, com pós-graduação em economia brasileira pela Fipe-USP. Atuou com análise e seleção de fundos de investimento na Exame e escreveu por quatro anos para o Valor Econômico, nas áreas de governança corporativa e bolsa de valores. Escreve para a Exame Invest quinzenalmente.