O time da Clave Capital (a partir da esquerda): André Caldas, gestor de ações, Rubens Henriques, CEO, e Rodrigo Carvalho, gestor macro | Foto: Divulgação (Clave Capital/Divulgação)
Juliana Machado*
Publicado em 24 de junho de 2021 às 14h14.
Última atualização em 24 de junho de 2021 às 19h00.
Por Juliana Machado*
Na música, a clave é o sinal responsável por indicar qual é o nome e a altura da nota a ser tocada. É, portanto, um elemento essencial para que o músico execute o movimento com maestria e dê vida ao som. Essa é, basicamente, a imagem que a Clave Capital quer ter: ser um farol para as novas tendências já bem consolidadas lá fora e que devem ganhar destaque por aqui nos próximos anos e guiar seus investidores ao ganho de capital e à sobrevivência.
Nesta minha coluna de estreia para explicar e comentar temas envolvendo a indústria de fundos de investimento, nada melhor do que aproveitar o aquecido momento para contar um pouco de uma das gestoras recém-nascidas da Faria Lima: a Clave Capital, a nova casa do ex-CEO da Itaú Asset, Rubens Henriques.
A Clave é nova no nome e no formato, mas não na experiência. Formado pelo ITA, Henriques passou 14 anos no Itaú erguendo e estruturando todas as soluções de investimento que passassem por gestão de terceiros. Nessa interação, viveu não só o trabalho de análise dos produtos como também identificou pessoas e processos que garantissem o sucesso de uma gestora.
No cargo de CEO da Itaú Asset, promoveu uma “mudança no mindset”, como diríamos hoje, e fez com que a área se tornasse uma experiente investidora de participações em gestoras incubadas ali mesmo. É como se, dentro da gestora, outras gestoras fossem formadas para ganhar maturidade.
Corta para 2021 e a Clave nasce com a sociedade do BTG Pactual (BPAC11), três fundos distribuídos e um objetivo: ser reconhecida com uma empresa de gestão, e não como um fundo. “Eu ajudei muita gente a montar suas assets independentes, é natural querer fazer a própria”, conta Henriques.
No Brasil, o fenômeno da gestão parece novo, mas não é. E o resultado é que muitas das assets “boutiques” atuam focadas em uma única estratégia ou com um fundo específico. Do outro lado, os bancões, que concentraram por muitos anos o fluxo de investimentos, hoje oferecem de tudo.
Nada de ruim com nenhum dos dois grupos; a Clave quer apenas mirar na independência e tentar fazer algo um pouco diferente: ter necessariamente mais de uma estratégia, mas, ainda assim, poucas (e boas) coisas.
“A Clave vai ser grande na soma das partes”, resume ele. “Nossa proposta não é ser uma asset do fundo macro ou de um fundo específico, é sermos uma empresa, uma gestora de produtos sofisticados.”
O DNA da Clave respeita uma máxima bastante relevante quando o assunto é empreender no Brasil: um bom gestor não é necessariamente um bom empresário. Quando um time decide se juntar para montar uma gestora, é comum que eles tenham trabalhado juntos nas mesas, mas sem terem coordenado times ou um negócio propriamente.
“Quando você tenta transformar um fundo num negócio, não é tão fácil e às vezes nem é a vontade da pessoa. Um gestor sabe gerir. Mas uma empresa tem RH, paga, demite, contrata, decide se vai expandir, qual produto lançar. São coisas que não estão ligadas ao dia-a-dia do fundo. A empresa vai crescendo e consumindo as pessoas, criando complexidade”, explica Henriques.
A casa nasce com três produtos: um multimercado macro, um produto long biased e um long only. O multimercado macro é resultado da absorção, pela Clave, do time da Vintage Investimentos, de modo que o produto Vintage Alpha Macro vire Clave Alpha Macro – uma transação já aprovada pelos cotistas.
Já o produto long only tem, como é inerente a esse tipo de fundo, uma carteira comprada em ações de alta convicção, com concentração típica de 15 a 25 papéis.
O produto long biased, por sua vez, é um fundo multimercado, mas com foco em renda variável, produtos popularizados fora do Brasil com o nome “total return” e que se propõem a serem multimercados com mais volatilidade. É diferente dos produtos multimercado macro que andaram comprando ações e extraindo o chamado alfa (excesso de retorno) apenas daí.
Trata-se de um fundo com uma carteira de ações bem elaborada e combinada com investimentos robustos em outros mercados, como câmbio e juros. O objetivo? Novamente, perseguir o tal alfa onde quer que ele se apresente, inclusive quando for necessário apostar contra algum ativo (short, no jargão do mercado) e/ou em mais de um mercado.
A casa nasce olhando também para a capacidade quase mandatória de os fundos de atuarem com análise de dados. A complexidade, hoje, das operações financeiras levou a Clave a investir também em uma frente sistemática, que será responsável por nutrir a gestão com informações suficientemente computadas e analisadas, sem deixar passar algo pelo limite da capacidade humana.
“Uma última tendência importante são os fundos ilíquidos, em que você abre mão do acesso ao dinheiro para ter muito retorno, como é o caso de produtos de private equity e real estate, que são áreas em que queremos atuar a seguir”, afirma o CEO da gestora.
Que toque a música.
*Juliana Machado é analista CNPI e integra o time de análise de fundos do BTG Pactual digital. É jornalista formada pelo Mackenzie, com pós-graduação em economia brasileira pela Fipe-USP. Atuou com análise e seleção de fundos de investimento na EXAME e escreveu por quatro anos para o Valor Econômico, nas áreas de governança corporativa e bolsa de valores. Escreve para a EXAME Invest quinzenalmente.