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Vou viajar, mas o dólar disparou com Brexit. O que eu faço?

Decisão do Reino Unido deve ampliar a instabilidade no câmbio e especialistas dizem qual a melhor estratégia para quem precisa comprar a moeda


	Avião, passaporte e dólar: Quem vai viajar deve fracionar a compra da moeda
 (foto/Thinkstock)

Avião, passaporte e dólar: Quem vai viajar deve fracionar a compra da moeda (foto/Thinkstock)

Anderson Figo

Anderson Figo

Publicado em 27 de junho de 2016 às 09h51.

São Paulo - A notícia de que o Reino Unido vai deixar a União Europeia gerou tensões no mercado financeiro nesta sexta-feira (24) e, aqui no Brasil, o dólar disparou em relação ao real. Na máxima da sessão, a moeda atingiu 3,45 reais, mas reduziu o avanço logo em seguida.

A alta deixou de cabelo em pé quem tem viagem marcada ao exterior e estava esperando o melhor momento para comprar dólar. Mas, segundo especialistas consultados por EXAME.com, não há motivo para pânico.

No geral, a avaliação é de que a guinada do dólar nesta sexta é pontual e, em breve, o mercado vai se estabilizar. "É natural que a saída do Reino Unido da UE gere aversão ao risco. Ninguém consegue precisar qual o real impacto disso sobre o bloco econômico", diz Fernando Bergallo, diretor de câmbio da FB Capital.

"As ações de bancos e outras grandes empresas lá fora despencaram e, com isso, os investidores internacionais precisaram compensar essa 'perda' de alguma forma. A primeira atitude é se desfazer de operações em mercados emergentes, como o Brasil. Isso justifica a disparada do dólar por aqui", completa Bergallo.

Para ele, passada a euforia inicial, a tendência é de que o mercado vá aos poucos "se acalmando". Mas o que é certo é que a volatilidade no câmbio deve se intensificar a partir de agora, segundo Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.

"A saída do Reino Unido da UE abre um leque de possibilidades. Todos começam a se perguntar quais outros referendos poderão ser feitos pelas demais economias do continente. Será que alguma delas vai seguir o Reino Unido? [Veja aqui quem mais pode abandonar o barco] Notícias que surgirão em torno disso têm potencial para causar instabilidade nos preços da moeda americana", afirma.

Por outro lado, Rosa ressalta que a Brexit —termo que tem sido utilizado para a saída do Reino Unido da UE— deve motivar o Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) a postergar a continuidade de um aumento de juros.

Isso poderia ter efeito positivo aos mercados emergentes, já que juros maiores nos EUA deixam mais atraentes os títulos do Tesouro americano (considerados o investimento mais seguro que existe, e cuja remuneração reflete o patamar da taxa) do que aplicações em países de maior risco, como o Brasil.

"Por enquanto, o dólar deve seguir perto de 3,40 reais. E, mesmo que demore um pouco mais para acontecer, quando os juros nos EUA voltarem a subir será inevitável que o dólar também tenha alguma alta, provavelmente para a banda entre 3,60 e 3,70 reais", diz Rosa, da SulAmérica. 

O economista da Guide Investimentos Ignácio Rey concorda que, no médio prazo, o dólar deverá estar mais caro do que o nível atual. "Não vejo a moeda no patamar de hoje daqui a 12 meses", afirma. O "inevitável" aperto monetário americano, a desaceleração da China e o clima político incerto na Europa após a Brexit sustentam essa previsão, segundo Rey.

"É preciso lembrar que este adiamento da alta de juros nos EUA não é por um bom motivo. Não podemos enxergar isso como algo favorável, na minha visão", diz. Na avaliação de Rey, o cenário externo adverso deve prevalecer sobre o quadro doméstico aparentemente mais estável.

Internamente, o Banco Central afirmou nesta sexta-feira que adotará as medidas adequadas caso necessário para manter o funcionamento normal dos mercados financeiro e cambial após a Brexit. O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, citou que o regime de câmbio flutuante tem se mostrado "exitoso".

Segundo ele, o mercado financeiro do Brasil é robusto, com indicadores de liquidez bastante positivos. Além disso, Maciel enfatizou que o nível de reservas internacionais do país é superior a US$ 350 bilhões —na realidade, está acima de US$ 370 bilhões.

Quando comprar dólar?

Os especialistas ouvidos por EXAME.com recomendam que o viajante compre os dólares necessários para a viagem em datas diferentes. Com isso, ele vai conseguir aproveitar cotações variadas e minimizar seus riscos.

Como o cenário externo demanda cautela e algumas notícias podem mexer com o humor do mercado e torná-lo instável, formar uma cotação média vai proteger quem precisa comprar dólar para uma viagem.

É importante saber que, ao seguir a estratégia de comprar a moeda aos poucos, o viajante não deve fazer as compras aleatoriamente. Ele deve se comprometer a comprar dólar sempre que houver algum movimento de queda, sem abrir mão de sua estratégia inicial. Será preciso também ficar atento ao noticiário.

Além disso, sempre vale a dica de procurar pela melhor cotação. As casas de câmbio tendem a embutir nas cotações praticadas de dólar taxas que reflitam o custo de suas operações, por isso o valor varia de um lugar a outro —e, em alguns casos, a diferença pode ser grande.

No site do Banco Central, é possível utilizar da ferramenta Ranking do VET, que mostra o Valor Efetivo Total (VET) da conversão de moedas estrangeiras em de diferentes casas de câmbio. O VET engloba a taxa de câmbio, as tarifas e os tributos incidentes sobre a conversão, apresentando o custo final da compra.

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