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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
Em apenas dois dias, o valor de mercado da Cosan caiu 820 milhões de reais, devido à forte reação negativa dos investidores à proposta de reestruturação societária anunciada nesta segunda-feira (25/6). O cálculo baseia-se no total de ações que compõem o capital social da companhia - 188.886.360 ações ordinárias. Hoje, os papéis fecharam com queda de 8,43% e eram negociados a 31,71 reais. Com isso, o valor total da empresa equivale a 5,989 bilhões de reais. Na última sexta-feira (22/6), a Cosan fechou o pregão valendo 6,809 bilhões. Naquele dia, o mercado se entusiasmou com a possibilidade de a companhia ser comprada pela ADM, maior produtora de etanol dos Estados Unidos, segundo informações veiculadas pelo The Wall Street Journal. A notícia levou a uma alta de 6,03% nos papéis.
Ontem, porém, a Cosan jogou um balde de água fria nos ânimos do mercado, ao anunciar um plano de reestruturação em duas etapas. Na primeira, será realizada a abertura de capital, na Bolsa de Nova York, da Cosan Limited, holding recém-criada nas Bermudas e que, agora, detém 51% do capital da Cosan brasileira. O objetivo é captar até 2 bilhões de dólares no IPO, que serão investidos nos projetos de ampliação da companhia brasileira e em eventuais aquisições no país e no exterior. O aporte de recursos para investimento não é alvo de críticas do mercado.
O que desagradou os investidores é a segunda etapa da reestruturação - uma troca de ações voluntária. Na operação, os detentores de papéis da Cosan brasileira serão convidados a trocar seus papéis pelos da Cosan Limited, na proporção de um para um. Os estrangeiros receberão ações ordinárias classe A, listadas em Nova York. Os brasileiros receberão Brazilian Depositary Receipts (BDRs). O que pegou o mercado de surpresa é a existência de uma outra classe de ações - tipo B - que será integralmente subscrita pelo atual controlador da Cosan - Rubens Ometto.
Pela proposta, cada ação tipo B equivalerá a dez votos nas deliberações, enquanto as da classe A representarão um voto para cada papel. Na prática, isso dilui o poder dos acionistas minoritários, embora os papéis de classe A também tenham direito ao tag along - ferramenta que garante aos minoritários vender seus papéis pelo mesmo preço do controlador, no caso de mudança de controle da empresa.
A reação negativa já foi sentida ontem, quando os papéis fecharam em queda de 3,93%, cotadas a 34,63 reais. Hoje, as perdas foram mais intensas durante todo o dia. "O mercado não gostou do privilégio que os controladores da Cosan se reservaram e estão claramente punindo a empresa", afirmou um analista que pediu para não ser identificado. Ao longo do dia, segundo ele, foi forte o movimento nas corretoras que atendem investidores estrangeiros - a maioria deixando as posições que detinham na Cosan. A maioria dos minoritários da companhia é estrangeira.
"Esta é uma novidade que não se pode aceitar. Voltaríamos ao estágio anterior ao Novo Mercado", afirmou o especialista. O Novo Mercado é um ambiente de negócios criado pela Bovespa para negociar ações de companhias com maior nível de transparência e governança corporativa. A Cosan é listada no Novo Mercado e foi pioneira do setor sucroalcooleiro, ao ingressar na bolsa em novembro de 2005.