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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
A Vale confirmou nesta terça-feira, em comunicado à Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que está negociando um reajuste no minério de ferro vendido aos seus clientes asiáticos, na tentativa de igualar o nível de preços cobrados no continente àqueles que a mineradora já pratica na Europa.
Na semana passada, depois da exigência de esclarecimentos por parte da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a mineradora havia negado o aumento, mas não havia sido clara sobre a negociação.
Os preços para clientes com sede na Ásia encontram-se hoje 11% a 11,5% abaixo dos obtidos junto a consumidores baseados em países europeus, dependendo do tipo de minério de ferro.
A mineradora fez questão de destacar no comunicado que a negociação ainda está em curso e, portanto, não há garantia de elevação do seu faturamento. Caso seja confirmado, o reajuste representará um acréscimo de receita inferior a 3% do total anual da Vale, levando-se em conta o faturamento de 35,5 bilhões de dólares, correspondente aos doze meses encerrados em 30 de junho de 2008.
Reflexos nas bolsas
Ainda que represente uma elevação relativamente baixa de receita para a empresa brasileira, nos mercados externos a notícia foi capaz de influenciar o desempenho das ações de grandes siderúrgicas.
Segundo operadores ouvidos pela Agência Estado, a queda na cotação das alemãs ThyssenKrupp e Salzgitter, ao longo do pregão na Bolsa de Frankfurt, foi um reflexo da reportagem publicada na edição de ontem do jornal japonês Nikkei, informando que a Vale planeja elevar os preços do minério de ferro que vende às fabricantes de aço do Japão em 12% nos próximos meses.
Mesmo sediadas num país europeu, as empresas teriam sido "contaminadas" pela possibilidade de aumento nos custos da matéria-prima. A meia hora do encerramento do pregão em Frankfurt, a Thyssen Krupp despencava quase 8% na Bolsa de Frankfurt, enquanto a Salzgitter registrava perda de 6,25%, ante uma queda de 0,51% no DAX-30, o principal índice da bolsa alemã.
Já na Bovespa, as ações ordinárias da Vale (VALE3), aquelas com direito a voto, também amargavam baixa de 2,56%, às 13h desta terça-feira, nível abaixo do desempenho do Ibovespa, que registrava queda de 1,96% no mesmo horário. Os papéis preferenciais (VALE5), sem direito a voto, caíam 2,69%.
Teste de poder
Para o analista da corretora SLW Pedro Galdi, não há como os clientes da Vale escaparem do aumento.
"Vão ser obrigados a aceitar porque não tem minério de ferro abundante no mercado. É pegar ou pegar", disse Galdi logo após o anúncio da Vale.
Na avaliação de Rodrigo Ferraz, do Banco Brascan, apesar da tendência ser de um acordo com os clientes, devido à pressão da demanda, o reajuste veio menor do que o esperado, em torno dos 20 por cento.
"O mercado começou a imaginar que viria em torno dos 20 por cento, estava ainda achando que (a Vale) tentava ganhar a diferença dos australianos com chineses", explicou Ferraz, descartando no entanto que a queda das ações nesta terça-feira se deva ao comunicado da empresa, mas sim à situação geral do mercado de commodities.
As negociações sobre o preço do minério de ferro foram atípicas este ano, com a Vale fechando aumento de 65 a 71 por cento com clientes asiáticos e de 66 e 65 por cento com os europeus, além de prêmios pela qualidade do minério.
Ao contrário da tradição do setor, o ajuste não foi seguindo pelas principais concorrentes da companhia, BHP e Rio Tinto, que conseguiram ajustes maiores, de quase 100 por cento sobre o preço de 2007.
"O mercado está realmente preocupado que a Vale, reajustando minério de ferro em mais alguns pontos percentuais agora, pode, mas eu não concordo, ser ruim porque a China poderia estar demandando menos e vai usar o mínimo de importação que faria com a Vale", afirmou o analista.
Segundo ele, a Vale não se arriscaria a perder um ajuste maior em 2009 por causa do aumento de apenas 11 por cento este ano. Na avaliação de alguns analistas, a alta do minério no próximo ano ficará entre 25 e 35 por cento.
"Eles (a Vale) apostaram que a demanda vai continuar existindo, o que eu também concordo, e que agora é um momento apenas de incertezas sobre a demanda, que vai passar", disse o analista.
"Se a Ásia aceitar (o ajuste) mostra que Vale, BHP e Rio Tinto têm total condição de controlar o mercado", concluiu.
Com informações da Agência Estado e da Reuters