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Tratamento mais barato é direito do paciente

Pacientes podem pedir segunda opinião ou alternativas de tratamento mais baratas

Internet pode ser aliada de médicos e pacientes, inclusive na identificação de conflitos de interesses (Divulgação/Hospital Moinhos de Vento)

Internet pode ser aliada de médicos e pacientes, inclusive na identificação de conflitos de interesses (Divulgação/Hospital Moinhos de Vento)

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Da Redação

Publicado em 8 de fevereiro de 2011 às 09h28.

São Paulo - Saúde é coisa séria e cara, e a relação médico-paciente pode muitas vezes suscitar acaloradas discussões éticas. Mesmo quem tem condições de arcar com um plano de saúde pode se deparar com um médico que receite medicamentos caríssimos ou até tratamentos invasivos para problemas aparentemente simples. Nessas encruzilhadas, muita gente fica sem jeito de questionar o médico ou pedir uma segunda opinião, e há profissionais que de fato repreendem esse tipo de conduta.

No entanto, é direito do paciente conversar com o médico sobre alternativas ao tratamento prescrito, principalmente se este não couber no bolso ou deixar o paciente pouco à vontade. De acordo com o Código de Ética Médica, aliás, o paciente tem direito a uma segunda opinião ou a um encaminhamento, se assim desejar, sendo proibido ao médico se opor a essa situação.

“O médico deve ouvir o paciente e conversar sobre tudo: dinheiro, efeitos colaterais e até possíveis dúvidas no diagnóstico. Nada substitui uma relação franca”, opina Flávio César de Sá, coordenador de Ética e Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade de Campinas (Unicamp).

Tratamentos salgados

De nada adianta poder pagar pela consulta, mas não ser financeiramente capaz de manter um tratamento. Antes de partir para a farmácia, é uma boa perguntar ao médico se o problema pode ser tratado com um medicamento genérico, um produto mais barato, receitas caseiras cientificamente comprovadas ou até com simples mudanças de hábitos. “Tem médico que não tem nem ideia de quanto custa um medicamento ou se é fácil encontrá-lo. Perguntar não deve ser motivo de constrangimento”, diz Flávio César de Sá.

Sendo impossível fugir dos remédios, sempre que houver um genérico do que está sendo receitado, o paciente pode solicitar ao médico que escreva o princípio ativo no receituário. Genéricos produzem o mesmo efeito de seus medicamentos de referência e custam bem menos. “O ideal é que nem seja necessário pedir. A boa prática médica, tanto do ponto de vista ético quanto técnico, recomenda que o profissional prescreva o medicamento sempre pelo princípio ativo”, afirma Sá.

O professor explica que alguns médicos desconfiam da eficácia dos genéricos e da qualidade dos remédios produzidos por certos laboratórios, preferindo medicamentos de laboratórios específicos. “Mas não há motivos para essa desconfiança. Os genéricos no Brasil são perfeitamente confiáveis, pois a fiscalização da ANVISA é bastante rigorosa”, acrescenta. Também vale perguntar ao médico se é possível importar o medicamento ou encomendá-lo a uma farmácia de manipulação, opções geralmente mais em conta.

Pode haver ainda outros motivos para essa predileção por certas marcas. Reportagem do jornal “Folha de São Paulo” publicada na última quinta-feira chama a atenção para a atuação de médicos ligados à indústria farmacêutica na elaboração de diretrizes clínicas, o que poderia caracterizar conflito de interesses. Diretrizes clínicas são documentos que padronizam a conduta de médicos no tratamento de doenças. O envolvimento desses profissionais em sua elaboração poderia, em tese, favorecer os laboratórios que já tenham, por exemplo, bancado algumas de suas pesquisas ou palestras. A matéria mostra que, em certos casos, os médicos chegavam a ser acionistas de laboratórios.

Segundo o especialista da UNICAMP, há ainda aqueles profissionais que parecem acreditar que sua responsabilidade com o paciente é apenas da porta do consultório para dentro. “Tem médico que diz que quer apenas receitar o que há de melhor e mais moderno. Mas de nada adianta se o paciente não conseguir manter o tratamento. O médico deve adequá-lo ao bolso do paciente, pois o objetivo final é a cura. Isso também faz parte da consulta”, afirma Sá.


Segunda opinião

É direito de todo paciente pedir uma segunda opinião sempre que quiser. Isso não significa desconfiar dos diagnósticos médicos a torto e a direito. Significa apenas que não deve haver qualquer tipo de constrangimento caso o paciente não se sinta à vontade com um tratamento ou desconfie da isenção do médico.

“É difícil definir em que tipo de situação é aconselhável pedir uma segunda opinião, porque depende do grau de confiança entre médico e paciente. Se a relação for de muita confiança, pode ser que só uma opinião baste. Em alguns casos, o próprio médico pede uma segunda opinião. De qualquer maneira, ambos precisam estar seguros quanto ao tratamento adotado”, relativiza Flávio César de Sá.

Procedimentos mais invasivos, como cirurgias, ou a prescrição de remédios com muitos efeitos colaterais ou em doses muito altas são algumas das situações que podem acabar motivando a procura de outro médico. Desde que o paciente tenha tempo hábil para isso, é claro. Durante quadros agudos, muitas vezes não há escolha, pois a doença pode se agravar em questão de horas.

“As pessoas têm que aprender a questionar os médicos, apesar de muitos deles não gostarem de ser questionados. Muitos profissionais temem perder a confiança, mas os pacientes também devem entender que nem sempre o diagnóstico está tão claro”, explica o médico.

A ajuda da Internet

Em tempos de Google e Wikipédia, alguns médicos se queixam que os pacientes já chegam ao consultório acreditando saber o diagnóstico, e cheios de ideias erradas na cabeça. Há, no entanto, quem veja a internet como uma aliada. Sites confiáveis, como as páginas das sociedades brasileiras das especialidades médicas, fornecem informações preciosas sobre diferentes doenças, voltadas para os próprios pacientes.

“Isso ajuda o paciente a entender melhor, e é bom até para o médico, que consegue ter outro nível de conversa com ele. É claro que tem que tomar cuidado com a fonte. Não é só colocar o sintoma no Google e sair clicando”, opina o médico da UNICAMP.

No Brasil, também é possível saber quais diretrizes clínicas tiveram, em sua elaboração, a participação de médicos ligados à indústria farmacêutica ou de equipamentos médicos. No site do Projeto Diretrizes estão disponíveis todas as diretrizes clínicas brasileiras, e algumas delas trazem a designação dos conflitos de interesses, com o nome do médico e sua relação com a indústria.

Nos Estados Unidos, o site ProPublica é uma excelente iniciativa que deveria servir de modelo para o Brasil. Nele, é possível descobrir quais médicos que atuam no país têm ligação com a indústria farmacêutica ou de equipamentos, qual a natureza do vínculo, com quais os laboratórios e qual o valor de recursos recebido.

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