Maria Teresa Fornea, VP da unidade Home da Creditas: home equity pode incentivar o crédito saudável na economia e ajudar, principalmente, o brasileiro que está endividado (Creditas/Divulgação/Divulgação)
Karla Mamona
Publicado em 28 de junho de 2022 às 10h02.
Última atualização em 28 de junho de 2022 às 13h41.
Os empréstimos com garantia de imóvel (home equity) têm crescido no país nos últimos anos. Uma pesquisa realizada pela Creditas e divulgada com exclusividade pela EXAME Invest, apontou que esta modalidade de empréstimo cresceu 483% entre 2018 e 2021. A dificuldade de obter crédito nos últimos anos foi dos impulsionadores para que este tipo de empréstimo crescesse.
Os maiores aumentos na contratação do crédito foram registrados entre 2018 e 2019, quando foi registrada uma alta de cerca de 130%. Outro destaque foi entre 2020 e 2021, com expansão de cerca de 125%, apesar do crescimento do desemprego e a incerteza econômica ocasionadas pela pandemia. Somente a Creditas, teve um crescimento de 127% no número de novos clientes em home equiy em 2021, frente a 2020.
Em entrevista à EXAME, Maria Teresa Fornea, VP da unidade Home da Creditas, afirmou que este tipo de empréstimo cresceu por uma série de motivos, mas o principal foi a regulamentação pelo Banco Central. Ela destaca que esse tipo de crédito tem um potencial de crescer ainda mais e se baseia nos mercados de países desenvolvidos, como Estados Unidos e Reino Unido.
O Brasil tem um inventário de 50 milhões de imóveis totalmente quitados que poderiam ser utilizados no momento da contratação de crédito. “Isso representa 70% dos imóveis do Brasil. Se compararmos com os Estados Unidos, por exemplo, em que a média é de 50% dos imóveis alavancados, o que faz com que crédito atrelado a imóvel seja de US$ 13 trilhões.” No Brasil, a carteira de crédito de home equity é bem menor, não ultrapassa R$ 800 bilhões.
O Brasil tem um potencial de crescimento do crédito atrelado ao imóvel. Para ganhar volume, será necessário ultrapassar algumas barreiras, como o desconhecimento do brasileiro sobre este tipo de empréstimo. Fornea explica que o histórico econômico brasileiro de inflação alta dificultou o acesso a linhas de crédito de longo prazo. Além disso, o brasileiro tem em mente que a segurança financeira vem em ter a casa própria.
“Ter a casa própria traz uma sensação de segurança. Somado a isso, esse tipo de crédito nunca foi comum no país. E e ainda temos um mercado financeiro super concentrado, com os bancos sendo responsáveis por 80% do crédito no país.” Sobre a concentração bancária, a executiva afirma que o home equity é de pouco interesse dos grandes bancos. “Os motivos são meio óbvios. Os clientes têm imóveis, mas estão acostumados a pagar 10% ao mês de cheque especial, não faz sentido para o banco explorar este tipo de colateral e garantia.”
A executiva afirma que o home equity pode incentivar o crédito saudável na economia e ajudar, principalmente, o brasileiro que está endividado, já que ele pode trocar o crédito curto e caro por um crédito de longo prazo com taxa de juro mais barata.
“Quando a pessoa compara quanto ela pagou para o banco nos últimos anos, ela consegue perceber que praticamente ‘pagou dois imóveis’.” Ela acrescenta que o imóvel pode ser ativo para ser alavancado. “Um imóvel é como se fosse um limite premium. Isso dá acesso a crédito muito mais barato.”
A chegada da pandemia acabou tornando o empréstimo atrelado ao imóvel como uma possibilidade. Ele foi buscado, principalmente, por empreendedores, profissionais liberais e pequenos empresários que encontraram dificuldade para ter acesso ao crédito no banco e sofreram com a redução de fluxo de caixa de seus negócios.
“Muitas empresas estavam praticamente trabalhando no vermelho. Quando você pega a dívida, alonga e reduz os juros, você faz com que elas comecem a sobrar fluxo de caixa. Quando o empresário enxerga a vantagem e vai, por exemplo, buscar um capital de giro, ele percebe novamente quanto o home equity é mais barato ao comparado com outras linhas.”
A pesquisa realizada pela Creditas também apontou os motivos da contratação desse tipo de empréstimo antes e depois da chegada da pandemia. Os dados indicam que houve uma mudança.
Antes da pandemia, o motivo principal para contratação desse tipo de empréstimo era principalmente a trocar dívida. Entretanto, nos últimos quatro anos, o percentual de quem pega esse tipo de empréstimo para trocar por outra dívida reduziu. Em 2018, trocar dívida era a resposta apontada por 52% dos entrevistados. Em 2019, caiu para 46%. Em 2020, era 36% e 2021, caiu para 32%.
Em contrapartida, tomar crédito para empreendedor manteve um crescimento constante nos últimos anos, passando de 16% em 2018 para 19% em 2021. Em nenhum dos anos analisados, houve uma redução. Outro motivo apontado para quem pega este tipo de empréstimo é para realizar reformas. Somente em 2021, 18% que contrataram esse tipo de crédito foi com essa finalidade. Já em 2019, eram apenas 8%.