TAM: superando o valor da maior aérea americana (--- [])
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
Gerar valor para o acionista é um mantra repetido à exaustão por executivos de todos os setores. Se alguém estivesse no comando de uma empresa cujo faturamento equivale a 21% do da maior companhia americana de seu setor, e cuja capacidade de produção correspondesse a apenas 12% daquela empresa, a tarefa de superar seu valor de mercado no curto prazo pareceria loucura. E o que dizer, então, de uma companhia que, nestas condições, já conseguiu bater uma rival desse porte? Foi o que aconteceu com a TAM. A aérea brasileira encerrou julho com um valor de mercado de 3,073 bilhões de dólares. A cifra é 35% superior aos 2,268 bilhões de dólares que os investidores pagariam pela AMR, holding que controla a American Airlines, maior companhia aérea dos Estados Unidos em receita, e sua co-irmã American Eagle, de vôos regionais. A TAM também vale mais que outras gigantes da aviação americana, como Delta, United, Continental e Northwest.
Os balanços das empresas mostram que a vitória da empresa brasileira se compara à de Davi contra Golias. No ano passado, a TAM faturou 4,9 bilhões de dólares, de acordo com o anuário Melhores e Maiores de EXAME. Já a AMR registrou receitas de 22,9 bilhões de dólares, quase cinco vezes mais. A disparidade também passa pelo tamanho da frota. No início de agosto, a brasileira alcançou 116 aeronaves - menos da metade dos 296 aparelhos operados apenas pela regional American Eagle. No total, a AMR possui uma frota de 980 aeronaves, sendo que 29 delas não estão em operação. A "capacidade instalada" da TAM permitiu-lhe transportar 27,950 milhões de passageiros em 2007, algo que a AMR demorou apenas 104 dias para fazer. Ao longo de 2007, a americana movimentou um total de 98,162 milhões de pessoas.
Por tudo isso, a TAM ocuparia uma modesta oitava posição no ranking das maiores companhias aéreas dos Estados Unidos, elaborado pela revista Fortune. A brasileira ficaria entre a Southwest, que faturou 9,9 bilhões de dólares em 2007, e a Alaska Air Group, com 3,5 bilhões.
Maior autonomia de vôo
A irracionalidade então teria dominado o mercado? Para analistas, a resposta é não. Os papéis da TAM também são castigados na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) pelos mesmos motivos que levam os de suas concorrentes americanas a apanhar na Bolsa de Nova York - a disparada do petróleo, o conseqüente aumento do combustível e a corrosão de suas margens de lucro. Até 31 de julho, as ações preferenciais da TAM (TAMM4, sem direito a voto) perderam 26% do valor, em relação aos 42 reais com que eram cotadas no primeiro pregão do ano. Já os papéis da AMR na Bolsa de Nova York caíram 36%, para 9,03 dólares. As perdas amargadas pela TAM são bem maiores que os 5,27% de queda acumulada pelo Ibovespa, principal indicador do pregão paulista, no mesmo intervalo.
A diferença, para os especialistas, é o grau com que o cenário adverso afeta as empresas. No final de maio, a AMR passou a cobrar novas taxas dos passageiros, como uma de 15 dólares sobre a primeira bagagem a passar no check-in. A companhia também pretende cortar em 4,6% a capacidade em suas rotas nacionais até dezembro, e em 11% a dos vôos regionais. Além disso, em maio, circulou na imprensa americana que a American Airlines negociava uma fusão com a Continental, a fim de ganhar escala e cortar custos.
Nenhuma medida do gênero, até o momento, foi adotada pelas companhias aéreas brasileiras. "No geral, o desempenho das empresas brasileiras é melhor que o das rivais americanas", afirma Kelly Trentin, chefe de análise da corretora SLW. Devido à grande competição no mercado americano de aviação, as empresas já vinham se reestruturando desde a desaceleração do setor, fruto dos atentados terroristas de 2001. "Eles já trabalham com margens pequenas, e não há muito para cortar para enfrentar o petróleo caro", diz Kelly. Por aqui, a situação é diversa. A competição é bem menor e as companhias aéreas ainda têm espaço para enxugar eventuais gorduras.
Além disso, a queda do petróleo nos últimos dias e a expectativa de que os números do segundo trimestre sejam mais favoráveis também contribuem. O preço-alvo médio das corretoras para a TAM, em dezembro, é de 45 reais por ação, o que indica um potencial de valorização de 41% sobre o fechamento desta segunda-feira (4/8), de acordo com a Thomson Financial, agência americana especializada em informações financeiras. A maioria das corretoras ainda recomenda a compra dos papéis. As projeções para a AMR são opostas: recomendação de venda e preço-alvo de 7,75 dólares, uma queda de 20% sobre a segunda.
Tudo isso reflete nas altas recentes dos papéis da TAM e da Gol (GOLL4) na bolsa. A própria Gol também se beneficia da situação. Seu valor de mercado, 2 bilhões de dólares, superou os 1,43 bilhão de dólares da JetBlue, empresa que inspirou o modelo de negócios da família Constantino.
Sem jabuticabas
A valorização das aéreas brasileiras poderia ser um caso típico de jabuticabas no mercado mundial, mas há outros setores em que as companhias verde-amarelas já superam o valor de mercado de suas concorrentes americanas. No ramo de frigoríficos e abatedouros, por exemplo, a JBS-Friboi e a Perdigão já superam o valor de mercado da gigante Tyson Foods. Embora o faturamento da americana, no ano passado, tenha somado 26,9 bilhões de dólares, seu preço em bolsa é de 5,291 bilhões. A Perdigão vale 5,629 bilhões, mesmo com um sétimo das vendas.
A siderurgia é outro setor que desponta à frente das rivais dos Estados Unidos. A CSN é a empresa brasileira com maior valor de mercado neste segmento, 30,109 bilhões de dólares. A gigante Alcoa, que faturou 4,6 vezes mais no ano passado, é a empresa americana do setor de maior valor na Bolsa de Nova York: 27,452 bilhões.
E a Petrobras, avaliada em 227,103 bilhões de dólares, só perde para a Exxon Mobbil, mas supera a segunda companhia petrolífera dos Estados Unidos, a Chevron Texaco, cotada em 174,903 bilhões de dólares. Detalhe: a americana faturou, em 2007, mais que o dobro da brasileira - 211 bilhões de dólares.
Commodities e câmbio
A alta das commodities agrícolas e metálicas é um fator que explica boa parte da valorização das empresas brasileiras, em ramos tão distintos quanto o frigorífico e o petrolífero. Outro motivo é a situação do mercado interno. Enquanto os americanos beiram uma estagflação - a incômoda mistura de estagnação econômica e inflação -, o Brasil ainda vive um período de expansão econômica, com o consumo estimulado pela maior oferta de crédito.
O terceiro fator é o câmbio. "O dólar fraco também é responsável pela mudança de patamar das empresas brasileiras", afirma Luciana Leocádio, analista-chefe da corretora Ativa. Segundo o Banco Central, o dólar comercial para venda acumulou uma queda de 12,15% entre o primeiro dia útil do ano e esta segunda-feira. Assim, ao converter os resultados e o valor de mercado das brasileiras para dólares, o real forte também favorece a comparação.
O câmbio é um elemento importante, mas é preciso lembrar que comprar ações na Bovespa ainda está "barato", na comparação com a Bolsa de Nova York. O P/L (preço da ação sobre o lucro líquido da empresa) médio dos papéis negociados na bolsa paulista é de 10,9 anos. No pregão de Wall Street, o P/L é de 12,4 anos, segundo a Ativa. Na prática, o P/L indica em quanto tempo um investidor obtém o retorno do capital aplicado em uma empresa. Por isso, é dado em anos. Quanto menor o P/L, mais rápido é o retorno ou, como preferem os analistas, "mais barato" é o papel. "A Bovespa ainda está barata, e há margem para um crescimento mais rápido que o da bolsa americana", diz Luciana, da Ativa. Se isso acontecer, o valor de mercado das brasileiras pode se distanciar ainda mais do de suas concorrentes americanas. Só faltaria alcançar uma escala de produção semelhante à delas. Mas isso é outra tarefa para os executivos que entoam o mantra da geração de valor para os acionistas.
Empresa | Valor de Mercado (US$ bi em 31/7)* | Faturamento em 2007 (US$ bi)** | País |
Aéreas | |||
TAM | 3,073 | 4,911 | BRA |
AMR | 2,268 | 22,935 | EUA |
Gol | 2,053 | 2,708 | BRA |
Continental | 1,508 | 14,232 | EUA |
JetBlue | 1,426 | 2,842 | EUA |
United Airlines | 1,052 | 20,143 | EUA |
Skywest | 0,888 | 3,374 | EUA |
US Airways | 0,466 | 11,7 | EUA |
Papel e Celulose | |||
Aracruz | 8,718 | 1,491 | BRA |
VCP | 4,901 | 1,559 | BRA |
Avery Dennison | 4,686 | 6,307 | EUA |
MeadWestvaco | 4,658 | 3,02 | EUA |
Suzano | 4,571 | 2,249 | BRA |
Klabin | 4,24 | 1,992 | BRA |
Frigoríficos/Alimentos | |||
JBS | 7,606 | 2,635 | BRA |
Hormel Foods | 4,908 | 6,193 | EUA |
Perdigão | 5,629 | 3,838 | BRA |
Tyson Foods | 5,291 | 26,9 | EUA |
Sadia | 4,892 | 5,415 | BRA |
Smithfield Foods | 2,887 | 11,932 | EUA |
Pilgrim's Pride | 903 | 7,599 | EUA |
Siderurgia | |||
CSN | 30,109 | 6,619 | BRA |
Gerdau | 28,973 | 5,187 | BRA |
Alcoa | 27,452 | 30,748 | EUA |
Usiminas | 21,401 | 5,843 | BRA |
United States Steel | 18,84 | 16,83 | EUA |
Bolsas | |||
Chicago Mercantile | 19,633 | 1,756 | EUA |
BM&F Bovespa | 18,036 | 0,396*** | BRA |
New York Stock Euronext | 12,519 | 4,158 | EUA |
Nasdaq Stock Market | 5,545 | 2,436 | EUA |
Petróleo | |||
ExxonMobbil | 424,968 | 372,824 | EUA |
Petrobras | 227,103 | 101,12 | BRA |
Chevron Texaco | 174,903 | 210,783 | EUA |
Conoco Phillips | 124,046 | 178,558 | EUA |
Bancos comerciais | |||
Empresa | Valor de Mercado (US$ bi em 31/7)* | Valor ajustado dos ativos em 2007 (em US$ bi)** | País |
Bradesco | 61,188 | 177,922 | BRA |
Itaú | 59,102 | 172,862 | BRA |
US Bancorp | 53,279 | 237,615 | EUA |
Banco do Brasil | 40,731 | 206,668 | BRA |
Bank of New York Mellon | 40,606 | 197,656 | EUA |
Wachovia | 34,4 | 782,896 | EUA |
State Street | 28,004 | 142,543 | EUA |
Unibanco | 22,555 | 89,059 | BRA |
*Fonte: Economática | |||
**Fonte: Melhores e Maiores de EXAME, Revista Fortune, empresas | |||
***Resultado pró-forma; taxa de câmbio de 31/07/08 |