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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
Está nas mãos do Federal Reserve, o banco central americano, a responsabilidade de conter o pânico que se instalou no mercado mundial, e que resultou no tombo de mais de 8% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), ao longo desta quinta-feira (16/8). No final, a bolsa fechou em baixa menor, de 2,58%, mas, segundo os especialistas, a calmaria só deve voltar se o Fed administrar dois remédios para baixar a febre dos investidores: assegurar liquidez do sistema financeiro e escolher o momento certo para baixar a taxa básica de juros do país.
Nos últimos dias, com o pânico tomando conta dos investidores, cresceram os rumores de que o BC americano pudesse promover um corte emergencial de juros, antes da reunião ordinária prevista para 18 de setembro. Nesta quarta-feira (15/8), entretanto, o presidente do Federal Reserve de Saint Louis, William Pole, afirmou que não há razão para nenhuma medida de emergência. Segundo Pole, não há sinais de que a economia real americana tenha sido afetada pela crise no mercado subprime de hipotecas - aquele formado por tomadores de empréstimo com mau histórico de pagamento. A resposta do Fed, porém, deixou os investidores confusos. "Poole está falando apenas por si, e não pelo comitê", afirmou a porta-voz da instituição, Michelle Smith.
Para a economista Tereza Fernandez, sócia da consultoria MB Associados, o Fed deve cortar os juros, atualmente em 5,25% ao ano, a fim de garantir que a economia real continue girando, investindo e produzindo. O momento do corte, porém, não é este. Isso só deve ser feito depois que o próprio mercado expurgar o excesso de alavancagem nos fundos - jargão do mercado para os fundos que tomaram muito dinheiro emprestado para aumentar sua capacidade de investimento. "Primeiro, é preciso deixar esse pessoal se acertar", diz.
Segundo Tereza, é possível permitir essa faxina do mercado, sem criar uma crise sistêmica, que só viria se grandes bancos quebrassem e a economia real entrasse em colapso. Ao contrário dos anos 80 e 90, quando os bancos é que arcavam com os compromissos assumidos junto aos clientes - no jargão do mercado, eles "carregavam" essa posições em suas tesourarias -, hoje são os fundos que tomam o prejuízo, o que atenua o impacto para os bancos que os mantêm.
Injeção de liquidez
O outro remédio é o provimento de recursos para instituições em dificuldade. "Prover liquidez ao mercado é importante. Se isso não fosse feito, a situação seria pior", afirma Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central em dois períodos (1992-1993; 1995-1997), e sócio da consultoria Tendências. Na prática, isso significa emprestar dinheiro de curto prazo para os bancos, a fim de que eles continuem com o nível adequado de reservas para honrar seus compromissos, como resgates de fundos de investimento.
Nos Estados Unidos, por exemplo, as regras do sistema determinam que os bancos precisam ter um nível mínimo de reservas para operar por duas semanas - chamado de "período de manutenção". Se a instituição possui excesso de reservas, pode emprestá-lo ao Fed em troca de títulos públicos. Se a situação é contrária, pode oferecer títulos próprios ao Fed, em troca de dinheiro.
Em 9 de agosto, quando a turbulência deu sinais de que se agravaria, após o banco francês BNP Paribas suspender os saques de três fundos que registraram perdas com o mercado subprime, o Federal Reserve anunciou a abertura de uma linha de crédito para os bancos, com juros subsidiados, de 24 bilhões de dólares. O Banco Central Europeu foi ainda mais enfático: pôs à disposição das instituições 130 bilhões de dólares. Posteriormente, outros países fizeram o mesmo, como o Banco Central da Austrália, que já dispendeu 2,5 bilhões de dólares via recompra de contratos; e o seu correlato japonês, que aplicou 3,43 bilhões de dólares no mercado overnight.
Até o momento, a estratégia do Fed é concentrar os empréstimos a um pequeno grupo de grandes instituições financeiras, que se encarregam de distribuir os recursos pelo resto do sistema. O problema, segundo Loyola, é que esse dinheiro nem sempre se distribui adequadamente pelo sistema financeiro. "Às vezes, ele fica empoçado em algum ponto", afirma. Para evitar que isso ocorra, a instituição precisa atuar mais próximo à origem do problema - o mercado hipotecário americano. É isso que explica algumas operações de recompra de títulos lastreados em hipotecas, realizadas pelo Fed nos últimos dias. Ao adquirir esse tipo de papel, o banco americano tenta jogar o dinheiro nas mãos de quem está, de fato, perdendo nesse momento.
Brasil
Não há muito o que fazer para conter o pânico no Brasil, de acordo com Loyola, da Tendências. "A crise foi gerada lá fora, então as ações aqui são muito limitadas", diz. O principal cuidado, segundo o economista, é administrar bem a dívida pública neste momento, a fim de preservar a confiança dos investidores. "As ações aqui só amenizam os efeitos colaterais", afirma.
Tereza, da MB Associados, concorda. "Por princípio, é melhor não intervir no mercado. É claro que quem se alavancou demais vai sofrer um ajuste", diz. Além disso, a economia mundial está crescendo com base em fatores reais, como a expansão chinesa. "E a própria economia americana ainda é forte", diz Loyola.