Ricardo Bernardes, fundador e CEO, e Adilair Silva, co-fundador e CMO da Onsurance (Onsurance/Divulgação)
Marília Almeida
Publicado em 12 de setembro de 2019 às 05h00.
Última atualização em 17 de setembro de 2019 às 15h53.
São Paulo - A Superintendência de Seguros Privados (Susep) regulamentou, no dia 29 de agosto, os seguros personalizados, com contratos reduzidos (por meses, dias, horas, minutos ou restritos a viagens e trechos) e lque são acionados apenas durante o uso, o chamado seguro pay per use.
Enquanto grandes empresas do mercado ainda não têm perspectivas de quando irão lançar produtos do tipo, ao menos três startups já inauguraram o mercado antes mesmo do aval oficial do órgão regulador: a Onsurance, que oferece o seguro por minuto para automóveis desde abril do ano passado, e a Youse e Thinkseg. que oferecem apólices mensais.
A maior atratividade das proteções personalizadas? O preço, que fica em média 50% menor do que o de um seguro tradicional. "O produto não é necessariamente barato, mas, sim, justo. O segurado paga apenas pelo que consome", diz Adilair Silva, co-fundador da Onsurance.
Para quem usa pouco o carro, o desconto pode ser ainda maior e chegar a 80%.
É o caso da gestora de recursos humanos Estefani Balzana, 28 anos. Moradora de Macaé, no Rio de Janeiro, ela contratou o serviço da Onsurance no início do ano. Em nove meses, ela gastou 560 reais. Caso optasse por uma apólice anual, de 3 mil reais, ou 250 reais por mês, em apenas dois meses teria gasto um valor maior.
Stefani estava há um ano sem seguro para o seu Chevrolet Prisma, que custava cerca de 2,5 mil reais por ano. "Meu marido perdeu o emprego e a proteção não coube mais no nosso orçamento".
Quando seu marido voltou a trabalhar, Stefani resolveu pesquisar uma nova proteção, e o preço havia subido para 3,1 mil reais por ano. "Fiquei revoltada. Uso o carro cerca de duas horas por dia e durante cinco horas, em média, aos finais de semana. Na maior parte do tempo ele está parado em estacionamentos. Não vi sentido em pagar esse valor e busquei uma alternativa".
No começo, não foi fácil ter disciplina, conta. "Esquecia de ligar e desligar o seguro". Mas a própria startup foi aperfeiçoando o produto e criando alertas, como forma de incentivar o hábito.
Quando estaciona o carro na rua ou em supermercados, Stefani opta por ligar o serviço. "Desligo apenas na garagem de casa e na do trabalho, locais nos quais tenho mais confiança".
Quando a gestora de RH bateu o carro, acionou a startup e recebeu instruções para tirar fotos e filmar o acidente. "O processo foi todo online. Como a minha cobertura não tinha carro reserva, a Onsurance me pagou corridas de Uber durante toda a semana na qual eu fiquei com o carro na oficina".
O serviço por minuto oferecido pela Onsurance é completo: cobre colisões, furto, roubo, perda total e parcial. A proteção tem franquia que varia entre 4% a 8% do valor do automóvel.
O funcionamento se assemelha ao de um celular pré-pago: é necessário comprar um "pacote" de créditos para ativá-lo, que começa em 999 reais e pode ser parcelado assim como o valor de uma apólice anual. O crédito não tem prazo de validade e fica depositado no aplicativo da startup, em uma espécie de carteira digital. Depois de gastá-lo, o usuário terá de fazer recargas com valor mínimo de 299 reais.
Se o serviço for "ligado", o crédito vai sendo consumido. Enquanto o carro está na garagem de casa ou do prédio, caso o usuário confie na segurança dos locais, basta desligar a proteção para que o uso dos créditos seja suspenso.
Para um veículo popular, que custa 30 mil reais, a proteção custa menos de 0,5 centavo por minuto. Ou seja, um percurso de uma hora irá custar cerca de 30 centavos.
O consumo do crédito pode variar conforme padrões de direção, monitorados por um dispositivo instalado no carro. É uma espécie de caixa preta baseada em inteligência artificial, que é responsável por coletar dados sobre o cliente e realizar o cálculo personalizado.
Se o segurado comece a correr acima da velocidade permitida, por exemplo, o preço por minuto pode aumentar, diz Silva. "Não é uma punição, mas sim uma cobrança justa pelo direito do cliente de dar uma 'escorregada'".
O sensor de partida do dispositivo permite, por exemplo, demarcar uma área segura, como a garagem de casa, na qual, ao chegar ou sair dela, a proteção é ativada ou desligada automaticamente.
A tendência é que esse processo fique mais automatizado conforme o equipamento vai "aprendendo" os hábitos do usuário.
Os alertas de que a proteção está ligada ou não são cruciais para o gerenciamento do risco. Caso o serviço esteja desligado no momento de um sinistro, o usuário não terá direito a nenhuma indenização da startup, que pode facilmente provar, por meio do dispositivo e do app, se a proteção estava ligada no momento.
Além do valor para ativação dos créditos, o usuário paga uma taxa de 39,90 reais por mês para manutenção do dispositivo embarcado no carro, que vai sendo descontada dos créditos disponíveis. "Não importa se o cliente é homem ou mulher, jovem ou velho, mas, sim, como efetivamente dirige", explica Silva.
Em caso de sinistro, o atendimento é digital, feito por um chatbot no Facebook, em tempo real. "Pelo dispositivo, já sabemos a localização do cliente e já o conectamos diretamente com o fornecedor. Não há burocracia e não é necessário aprovar pedidos de reparo", diz o executivo.
A personalização ajuda a criar outros tipos de proteções. A Onsurance acaba de lançar um produto específico para pneus, também cobrado por minuto. A proteção é vendida na forma de vouchers, de forma semelhante a créditos de celular, em lojas de pneus. O crédito para ativação em carros populares custará 99 reais e o gasto é de cerca de seis centavos por hora.
A cobertura para pneus geralmente não está prevista em seguros de carros tradicionais. "Caso o pneu fure o segurado terá de usar a franquia, que pode custar cinco vezes mais do que o pneu".
O novo produto tem sinergia com a proteção completa. Caso ambos sejam contratados, o usuário pagará proporcionalmente menos porque precisará de apenas um dispositivo para controlar as proteções. O controle de cada uma é independente.
Na Youse, o seguro mensal pode ser contratado ou cancelado a qualquer momento através do aplicativo. Além disso, a seguradora possibilita mudar características da apólice, como informações do condutor ou veículo e personalização das assistências contidas dentro do seguro.
No caso de um seguro para perda total, guincho e assistência bike, caso em determinado mês o segurado não utilize a assistência bike, por exemplo, basta entrar no app e cancelá-la. O mesmo processo pode ser feito para adicionar uma assistência.
Desde o mês passado, a Thinkseg, em parceria com a seguradora Generali, oferece o seguro por uma assinatura fixa média de 94 reais, acrescida por uma variável conforme a utilização do veículo, que combina quilometragem rodada com a forma de condução do segurado.
Para Márcio Coriolano, presidente da Confederação das Seguradoras (CNseg), além do seguro para carros, o seguro personalizado deve ser oferecido para bicicletas, patinetes e celulares. "São os candidatos naturais para esse tipo de seguro, que já é bastante difundido nos Estados Unidos e na Europa".
O seguro sob demanda também permite usos específicos, como cobrir automóvel apenas durante viagens de férias. "É importante que o contrato desse tipo de proteção seja claro. Caso não seja bem vendido a possibilidade de a empresa receber reclamações é enorme".