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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
Após a Aracruz e a Sadia anunciarem perdas com operações de derivativos de câmbio, o mercado está revirando os balanços de empresas de todos os setores para identificar as mais expostas à recente alta do dólar. De acordo com relatório da corretora SLW, a situação geral das companhias não é preocupante. Todas as empresas contatadas negaram que estejam com exposição ao risco cambial maior que o recomendado por seus conselhos de administração - erros cometidos por Sadia e Aracruz. No entanto, alguns setores produtivos são mais sujeitos à flutuação do dólar, como os grandes produtores de alimentos, açúcar e álcool. Veja, a seguir, quem são os mais beneficiados e os que podem ser prejudicados pela valorização da moeda americana.
Quem ganha
As siderúrgicas Gerdau e Usiminas também devem se beneficiar com o dólar porque seus produtos ficam mais competitivos. As empresas mantêm operações de proteção (hedge) que tendem a anular as perdas do real frente ao dólar.
A petroquímica Braskem é outra que se beneficia. Apesar de possuir 70% de sua dívida vinculada ao dólar, o efeito da flutuação cambial é compensado pelas fortes exportações da empresa. Segundo a SLW, a empresa negou possuir derivativos de câmbio alavancados.
Os produtores de alimentos são grandes exportadores e possuem cerca de metade de suas receitas atreladas ao dólar. As dívidas do setor também são corrigidas pela moeda americana, mas a maioria das companhias possui 100% de hedge (proteção) contra oscilações do câmbio, sem adotar posturas agressivas no mercado, como as operações montadas pela Sadia.
No setor elétrico, a Eletrobrás registrou um ganho financeiro de 8 bilhões de reais no primeiro semestre, decorrentes de sua participação na usina hidrelétrica de Itaipu - que gera receitas em dólar.
Algumas empresas do setor de consumo também podem tirar partido da alta do dólar, por exportarem parte de sua produção. De acordo com a SLW, estão nessa posição a Natura, Alpargatas e Souza Cruz.
A Vale possui uma pesada dívida em dólar, decorrente da aquisição da canadense Inco. A variação cambial, neste caso, é compensada pelo fato de a companhia ser a maior produtora de minério de ferro do mundo, com boa parte de suas receitas atreladas à moeda americana. Além disso, cerca de 40% dos recursos obtidos com a recente oferta pública de ações estão atrelados ao dólar.
Dúvida
Segundo a SLW, o efeito do dólar sobre a Embraer é duvidoso. A companhia possui 97% de sua receita em moeda americana. Esse percentual é maior que a fatia de dívidas em dólares da companhia. A fabricante de aeronaves também aplica cerca de 70% de seu caixa em dólar para neutralizar eventuais flutuações. Por tudo isso, a companhia não precisaria manter operações de hedge, mas mantém. De acordo com a SLW, a dúvida é saber o tamanho da exposição da empresa nessas operações. A Embraer, em contato com a corretora, não forneceu detalhes dos contratos.
A corretora acredita que CSN pode se beneficiar com a valorização do dólar por ser exportadora. Por outro lado, a SLW lembra que a empresa já montou operações com derivativos no passado - e foi esse tipo de aposta que levou aos prejuízos de Sadia e Aracruz. O JPMorgan estima que a empresa pode ter um prejuízo de 600 milhões de dólares com derivativos que apresentam perdas ou ganhos de acordo com a cotação de suas ADRs (papéis negociados na Bolsa de Nova York). Já o Bradesco aposta em um prejuízo de cerca de 700 milhões de dólares.
Impacto temporário
As empresas do setor elétrico devem sofrer um efeito passageiro da alta do dólar. As geradoras de energia não possuem receitas nem custos operacionais vinculados ao câmbio. Mas parte de sua dívida é dolarizada. No caso da Cesp, a dívida em dólar é de 30% do total. Na Tractebel, o percentual é de 10%. Isso deve levar ao aumento das despesas financeiras dessas empresas no terceiro trimestre.
As distribuidoras de energia também faturam em reais, mas possuem cerca de 30% do custo da energia comprada atrelada ao dólar, por ser fornecida por Itaipu. Essa situação só pesa sobre as distribuidoras das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. De acordo com a SLW, esse aumento de custos é temporário, porque os gastos são contabilizados à parte, em uma conta corrigida pela Selic até a data do reajuste da energia para os seus clientes. A dívida bancária exposta ao dólar também é pequena, e a SLW não espera um impacto relevante sobre o balanço das companhias.
No topo da cadeia elétrica, as holdings Cemig, Copel, CPFL e Energias do Brasil também só serão prejudicadas no curto prazo, em decorrência do aumento de custos das distribuidoras, por causa da energia comprada de Itaipu. No geral, as empresas possuem baixo endividamento em dólar.
Perdem
De acordo com a SLW, entre as empresas que a corretora acompanha, a mais exposta ao câmbio é a GVT, da área de telecomunicações. A empresa não possui nenhuma proteção (hedge) para sua dívida em dólar, hoje na casa dos 290 milhões de reais. A companhia também não possui um "hedge natural" - receita em dólar -, por atuar apenas no mercado interno.