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Rentabilidade maior dos fundos de crédito livre compensa o risco?

Fundos podem ter mais de 20% da carteira em debêntures de empresas privadas e outros papéis. Veja quando é indicado

Você já se perguntou o que é “ser rico” de verdade? Segundo Gabriel Navarro, a riqueza de verdade não é ter muito dinheiro, mas sim ter várias fontes de renda. (Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas)

Você já se perguntou o que é “ser rico” de verdade? Segundo Gabriel Navarro, a riqueza de verdade não é ter muito dinheiro, mas sim ter várias fontes de renda. (Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas)

Anderson Figo

Anderson Figo

Publicado em 17 de março de 2017 às 05h00.

Última atualização em 17 de março de 2017 às 05h00.

São Paulo - Com desempenho tão bom quanto o dos títulos públicos que acompanham a Selic ou até melhor, os fundos de crédito livre, que podem ter mais de 20% de seu portfólio em papéis de crédito privado, são uma opção para quem quer diversificar as aplicações. Mas a rentabilidade compensa o risco?

Em alguns casos, sim. “Se for um investidor consciente, que estudou a carteira do fundo, as taxas e outros custos envolvidos e que está em um momento propício para elevar sua exposição a ativos mais arriscados, não há problema”, explica Gilberto Braga, professor de economia do Ibmec-RJ.

“O dinheiro destinado ao fundo de crédito não pode ser o da reserva de emergência da pessoa. Os recursos não podem fazer falta em caso de imprevisto”, afirma Braga. “É uma boa opção, por exemplo, para quem quer assumir um risco a mais em sua carteira, mas ainda não está preparado para o mercado de ações.”

De acordo com a Anbima (associação de entidades do mercado), os fundos renda fixa duração livre crédito livre têm rendimento em torno de 13% em 12 meses. Individualmente, alguns deles chegam a apresentar variações positivas de mais de 20% no mesmo período. Já o IMA-S, índice que compila o desempenho dos títulos públicos que acompanham a Selic, sobe 13,7%.

“A grande diferença está no risco de cada subcategoria de fundos de renda fixa”, diz André Bona, educador financeiro e autor do Blog de Valor. “É fundamental que o pequeno investidor dê mais atenção ao risco do que à rentabilidade na hora de escolher o seu investimento.”

Os fundos de renda fixa do tipo soberano investem 100% em títulos do governo, cujo risco de calote é praticamente zero. Já os fundos do tipo grau de investimento aplicam no mínimo 80% da carteira em títulos públicos e no máximo 20% em papéis privados com baixo risco de crédito, bem classificados por agências internacionais.

Enquanto isso, os fundos de crédito livre não têm limite de exposição a papéis privados, como debêntures (títulos de dívida) de grandes companhias e CDBs (Certificado de Depósito Bancário). Normalmente, eles dividem sua carteira em títulos de mais de 20 empresas para diluir o risco ——se uma companhia der calote, a rentabilidade do fundo é compensada pelo desempenho dos demais papéis.

Além disso, os fundos de crédito livre permitem alavancagem, ou seja, permitem que seus gestores apliquem mais de uma vez o patrimônio total do fundo em uma operação, através de contratos financeiros conhecidos como derivativos.

Por esse motivo, a maior parte desses fundos supera com folga o CDI (taxa utilizada como referência em operações de renda fixa, que sempre está muito próxima ao patamar da Selic) ——alguns chegam a 120% do CDI.

“Outra vantagem é que existem fundos de crédito de todos os tipos, desde aqueles com investimento mínimo acessível até os exclusivos a investidores qualificados”, diz Natasha Reis, analista de crédito da Rio Bravo ——a gestora tem uma opção de fundo com aplicação mínima de 5 mil reais e rendimento de 105,7% do CDI nos dois primeiros meses deste ano.

“O investidor também tem que ficar de olho na liquidez. Muitos fundos de crédito têm a opção de resgate em D+1 (quando você tem acesso ao dinheiro no dia seguinte ao pedido para sair da aplicação), mas outros não”, completa Natasha. Veja por que é importante que o investimento tenha liquidez.

Taxas

As taxas também podem corroer o rendimento da aplicação e tornar os fundos de crédito menos atraentes. Eles cobram uma taxa de administração, que varia de produto a produto. “O ideal é que ela não ultrapasse 1% para esse tipo de investimento, diz Bona, do Blog de Valor.

Alguns fundos também cobram uma taxa de performance, que é uma espécie de remuneração adicional ao gestor pelo tanto que ele supera um determinado objetivo. Ou seja, se a meta for superar o CDI, quando o fundo atingir esse alvo o gestor vai ganhar um percentual do valor excedente.

“É uma taxa que traz um alinhamento entre os interesses do gestor e do investidor, já que ambos sabem que vão ganhar caso o fundo consiga atingir o seu objetivo de rentabilidade. O aceitável e o que normalmente é praticado é que a taxa de performance seja de 20% sobre o excedente”, afirma Bona.

Os fundos podem ter ainda uma taxa de saída. Ela só é cobrada dos investidores que decidirem se desfazer da aplicação antes do período mínimo estabelecido pelo fundo para resgate. “Ela penaliza quem escolheu o fundo sem considerar um imprevisto no futuro e sem deixar um dinheiro reserva alocado em outra aplicação”, diz o educador financeiro.

Imposto de Renda

Os fundos de crédito são passivos do chamado “come-cotas”, uma forma de tributação em que em vez de o Imposto de Renda ser cobrado apenas no resgate, ele é descontado em forma de cotas de seis em seis meses, sempre no último dia útil de maio e novembro.

Isso significa que, quando ocorre o desconto do imposto, a quantidade de cotas que você tiver naquele fundo vai diminuir.

Ainda assim, quando for resgatar sua aplicação, haverá a incidência de IR sobre o valor retirado, obedecendo uma tabela regressiva que começa com uma alíquota de 22,5%, para resgates em até 180 dias, e chega em 15%, para resgates acima de 721 dias.

Veja a tabela regressiva do Imposto de Renda:

Prazo da aplicaçãoAlíquota
até 180 dias22,5%
de 181 dias a 360 dias20%
de 361 dias a 720 dias17,5%
acima de 721 dias15%

Cuidados

Antes de investir em um fundo de crédito livre, você deve se informar sobre a carteira desse fundo e a rentabilidade histórica da aplicação, além de todas as taxas envolvidas no negócio. Há muitas informações na lâmina do produto ——uma espécie de resumo de desempenho e regras da aplicação—— que você consegue junto a sua corretora ou banco.

“Com o CNPJ do fundo em mãos, o investidor também consegue ir até o site da CVM [Comissão de Valores Mobiliários, órgão regulador do mercado de capitais no Brasil] e verificar os documentos mais recentes com as aplicações feitas pelo gestor”, lembra Bona, do Blog de Valor. Isso é muito importante porque os fundos não são cobertos pelo FGC (Fundo Garantidor de Créditos) em caso de calote.

“É importante que o próprio investidor faça essa consulta, e não o gerente do banco ou o analista da corretora, que têm o maior interesse em vender o produto. Só o próprio investidor sabe o risco que ele está afim de correr”, completa o educador financeiro.

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