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1. O dragão ainda não foi domado
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Apesar de o Brasil ter liderado o movimento de intolerância com a inflação em âmbito global nos últimos meses, ainda não é possível dizer que o dragão já foi domado. Economistas esperam que a inflação deste ano seja apenas um pouco inferior aos 5,91% apontada pelo IPCA em 2010. O início do ciclo de aumento de juros, as medidas macroprudenciais e o corte de gastos públicos só devem ter seus efeitos consolidados nos próximos meses. Quase ninguém espera, portanto, que a inflação volte para o centro da meta de 4,5% já em 2011. Nas próximas páginas, o economista Fábio Romão, da LCA consultores, explica quais serão os principais vilões da inflação neste ano.
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2. Empregada doméstica está cada vez mais cara
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2/11 (VEJA SP)
Após a forte alta de 11,8% no ano passado, a LCA Consultores prevê um avanço de 9,8% para os salários dos empregados domésticos em 2011. Em geral, essa classe de trabalhadores costuma ter reajustes mais fortes quando o salário mínimo avança bastante. Esse não é o caso de 2011. O Congresso aprovou na semana passada a alta do mínimo para 545 reais, quase sem ganho real em relação à inflação. No entanto, Fábio Romão, da LCA, acredita que neste ano a história será um pouco diferente. O que deve pressionar os salários é a escassez desse tipo de mão de obra no mercado. Em 2010, o estoque de ocupados no país cresceu em média 3,5%, mas a categoria de serviços domésticos encolheu 2,4%. Para a LCA, isso quer dizer que os empregados domésticos estão conseguindo lugar no mercado de trabalho em outras posições - e em condições melhores. "Como há escassez de mão de obra, os salários tendem a subir. Poderia ser ainda pior se o governo não tivesse brecado o reajuste do mínimo", diz.
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3. Aluguéis devem subir 9,5% neste ano
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3/11 (VEJA)
Serviços em geral seguem uma dinâmica própria e sofrem reajustes com alguma defasagem em relação à inflação. Os preços de alguns dos principais serviços são reajustados de acordo com índices de preços passados. Esse é o caso dos aluguéis de imóveis, que, na prática, estão indexados ao IGP-M. A cada mês de 2011, os contratos de aluguel que vencem serão reajustados pelo valor do IGP-M nos 12 meses anteriores. Como esse indicador da Fundação Getulio Vargas continua a apresentar inflação de dois dígitos, ainda não é esperado refresco para o preço dos aluguéis. A expectativa da LCA Consultores é de alta de 9,5% em 2011, ante 7,4% em 2010. Os aluguéis só devem perder força em 2012, quando a alta cairá para 6,8%.
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4. Pressão da educação deve ser maior em 2011
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4/11 (VOCÊ S/A)
A julgar pelos reajustes das mensalidades escolares neste início de ano, é provável que o item educação continue a pesar no bolso da população. A LCA prevê que esse grupo de despesas tenha reajuste de 7,7% neste ano - contra 6,2% no ano passado. A projeção deve-se à alta verificada no primeiro bimestre. A informação mais recente é a do IPCA-15 de fevereiro, que aponta alta acumulada de 5,88 para o grupo educação no acumulado de 2011. Em igual período de 2010, o item havia subido 4,5%. A maior parte do reajuste desse grupo acontece em janeiro e fevereiro devido ao aumento anual das mensalidades escolares. Em janeiro, as instituições de ensino aproveitam para repassar os aumentos dos salários de professores e outras despesas do ano anterior. Ao contrário do que acontece com os planos de saúde, o governo não regula o reajuste das mensalidades escolares. Se não concordar com os valores cobrados, os alunos ou seus pais podem tentar negociar os valores - ou mudar de escola.
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5. Alimentação subirá menos, mas tomate vai pesar
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5/11 (Getty Images)
O grupo alimentação foi o grande vilão da inflação no ano passado. Essa classe tem um grande peso tanto na composição do IPCA quanto no bolso do brasileiro. Em 2010, os alimentos subiram nada menos do que 10,4%. A LCA Consultores estima que a alta deste ano será mais moderada, de 6%, principalmente porque não é esperado que as commodities agrícolas continuem em disparada. Alguns alimentos bastante consumidos pelos brasileiros, entretanto, devem pressionar a inflação. Esse é o caso do tomate, que deve subir cerca de 60% em 2011. Item básico para saladas e molhos, o tomate já ficou 27% mais caro em janeiro e deve apresentar nova alta de 17% quando sair o IPCA de fevereiro. O movimento é de recuperação: o preço do produto caiu 16% em 2009 e 17,5% no ano passado. Já os derivados de trigo (macarrão e massas) devem avançar 6% neste ano, contra 7,56% em 2010. A boa notícia é que a carne bovina não deve disparar mais como nos últimos meses e registrar alta de apenas 0,7% neste ano.
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6. Ônibus vão puxar reajustes de tarifas públicas
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6/11 (VEJA SP)
Dentre as tarifas públicas, a maior pressão sobre a inflação virá dos serviços de ônibus. As tarifas cobradas por ônibus urbanos devem subir 9,2% neste ano, contra 7,5% em 2010. A maior parte das prefeituras costuma evitar reajustes em anos de eleições municipais como 2012. A alta, portanto, deve ficar concentrada agora e em 2013, para que o eleitor não tenha de digeri-la diante das urnas. A LCA Consultores também prevê um avanço do reajuste dos ônibus intermunicipais para 6,9% em 2011, contra 4,8% do ano anterior. Já os ônibus interestaduais, que caíram 0,70% em 2010, agora vão subir 11,70%.
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7. Pedágios de rodovias ficarão ainda mais caros
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7/11 (INFO)
Uma das grandes fontes de pressão sobre a inflação neste ano virá da indexação da economia. Muitos dos serviços públicos sob concessão da iniciativa privada possuem um índice de inflação como referencial de reajuste. O IGP-M é um desses indexadores. O índice da Fundação Getulio Vargas fechou 2010 em 11,32% e continua sob pressão neste início de ano. No mês de vencimento dos contratos, os pedágios de algumas rodovias do estado de São Paulo, por exemplo, devem repassar integralmente IGP-M para o valor cobrado dos motoristas. Os brasileiros só não terão mais motivos de tristeza sempre que pararem numa praça de pedágio porque há diferentes indexadores para as dezenas de rodovias sob concessão no Brasil. Na média, a LCA prevê um reajuste de 6,20% para o valor dos pedágios em 2011, contra uma queda média de 5,80% no ano passado.
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8. Vestuário só dará alívio no final do ano
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8/11 (CONTIGO)
Com o aumento dos preços do algodão no mercado internacional, o item vestuário subiu 7,5% no ano passado e contribuiu para a aceleração do IPCA. A LCA Consultores não espera um resultado tão ruim neste ano para o consumidor. A projeção é de alta de 6,2%. A consultoria acredita que os preços do algodão no atacado vão recuar 30% em algum momento do segundo semestre deste ano, favorecendo toda a cadeia. Além disso, com preços elevados e dólar barato, os varejistas cada vez mais têm a opção de importar produtos têxteis de outros países com custos menores de produção. O poder do produtor nacional para repassar aumentos de despesas já estaria, portanto, próximo do fim. A conjuntura econômica também não favorece a estratégia de ser muito agressivo na hora fixar os preços. Sempre que os juros estão em alta, pesquisas mostram que os itens de vestuários aparecem entre os primeiros a serem cortados pelos brasileiros.
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9. Energia e telefonia já estão descolados do IGP-M
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9/11 (Divulgação)
Os serviços públicos administrados pela iniciativa privada deverão ter uma contribuição maior para a inflação neste ano, com uma alta média de 4,7%. O resultado é superior aos 3,1% de 2010, mas, no, entanto, ainda deve ser menor do que o IPCA como um todo. A explicação é que boa parte dos reajustes de tarifas públicas já não estão mais atrelados a índices como o IGP-M. Os contratos de telefonia fixa, por exemplo, seguem a variação do Índice de Serviços Telefônicos (IST), um indicador que varia mais de acordo com o IPCA do que com o IGP-M. A expectativa da LCA é que a telefonia fixa suba 2% em 2011 e que a telefonia celular avance 2,90%. Com a energia elétrica residencial, deve acontecer algo parecido. Após a alta de 3% em 2010, a expectativa é de um reajuste médio de apenas 2% neste ano. O que mudou a lógica dos reajustes tarifários nos últimos anos foi a regra que determina que os ganhos de produtividade das empresas devem ser levados em consideração na hora de fixar os reajustes. Se uma empresa está mais eficiente, não precisará subir tanto a tarifa para ter lucro. Em 2007, última vez que foi avaliado o impacto dos ganhos de produtividade nas tarifas de energia elétrica residencial, houve uma queda média de 6%.
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10. Diesel e gasolina são as grandes incógnitas
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10/11 (QUATRO RODAS)
A maioria dos analistas não acredita que os combustíveis terão um reajuste neste ano, mas os conflitos no Oriente Médio já acenderam um sinal amarelo. As manifestações que derrubaram o líder egípcio e podem mudar a cúpula de poder na Líbia fizeram o barril do petróleo chegar a 120 dólares em Londres, o maior preço desde 2008. A Petrobras não tem a política de repassar automaticamente as variações do petróleo para os preços dos combustíveis nas refinarias, como acontece nos EUA, por exemplo. A estatal diz que só muda os atuais valores caso o petróleo permaneça em patamares altos ou baixos por períodos prolongados de tempo. Para analistas, isso quer dizer que a gasolina e o diesel poderiam ter um reajuste se o barril se mantiver acima de 120 dólares por um período de três ou quatro meses. Mas esse não é o cenário mais provável no mercado, que espera que os preços fiquem praticamente estáveis em 2011. Se o pior acontecer, o estrago seria grande. Segundo especialistas, um reajuste de 10% para a gasolina e o diesel teria um impacto direto de 0,4 ponto percentual no IPCA. A eventual decisão da Petrobras também encareceria os fretes de produtos e funcionaria como mais um gatilho para a inflação.
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11. Alívio virá de eletrônicos e carros
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11/11 (QUATRO RODAS)
Em deflação há três anos seguidos, os preços dos carros devem ter uma leve queda de 0,4% em 2011. Os valores cobrados dos clientes caíram mesmo no ano passado, quando acabou o desconto do IPI para os consumidores. As montadoras não conseguem impor reajustes devido ao dólar barato e à enxurrada de veículos baratos trazidos da Ásia - principalmente Coreia do Sul e agora também China. Para quem já tem carro, um alerta. Os preços dos usados costumam recuar junto com os dos novos. O dólar e a concorrência dos importados devem ter o mesmo efeito sobre os eletrodomésticos. O grupo de TV, som e informática será outro alívio para o IPCA. Após uma queda de preços de 12% em 2010, esses produtos devem cair mais 5% neste ano.