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Quem investe em poupança ou CDB pode ficar mais pobre

Inflação alta tornou negativa a rentabilidade real de algumas das aplicações financeiras mais conservadoras do mercado; veja alternativas

Inflação: efeito devastador sobre aplicações de renda fixa de baixo risco

Inflação: efeito devastador sobre aplicações de renda fixa de baixo risco

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Da Redação

Publicado em 25 de outubro de 2011 às 10h34.

São Paulo – Do ponto de vista do investidor, a lógica dos juros é muito simples. Em troca da decisão de adiar um consumo que poderia ser imediato, o poupador recebe uma remuneração compensatória. No Brasil, país tradicionalmente conhecido pelos juros altos, é de se supor que a recompensa do investidor seja sempre atrativa. Mas os números mostram que não há grandes incentivos à poupança neste momento ainda que a taxa básica de juros da economia esteja em suculentos 11,5% ao ano.

O que acabou com a alegria de quem opta pelas formas de investimento mais populares e conservadoras do país foi a alta da inflação. Quem aplicou quantias baixas de recursos em CDBs, por exemplo, obteve uma rentabilidade de 4,78% entre janeiro e setembro deste ano – ou menos do que a inflação de 4,97% acumulada no período, segundo o IPCA, o principal indicador de preços ao consumidor do país. Isso quer dizer que esse investidor não apenas não ganhou nada em termos reais com a aplicação como também teve seu poder de compra corroído pelo dragão da inflação. E a tabela abaixo mostra que não é apenas quem comprou CDBs que não tem motivos para comemorar:

Aplicação* Retorno nos 9 primeiros meses deste ano
Poupança 5,62%
CDB (aplicações de mais de 100.000 reais) 5,44%
CDB (aplicações de 5.000 reais) 4,78%
Fundos DI (pequenos investidores) 5,67%
Fundo DI 7,08%
Fundos de renda fixa 7,47%
IPCA 4,97%
CDI 8,70%
Ibovespa -24,50%
Dólar 11,30%
*Com exceção da poupança, todos os investimentos do quadro pagam Imposto de Renda. A alíquota considerada para se chegar ao retorno líquido foi de 20% dos ganhos, que é válida para investimentos de 9 a 12 meses  

Ainda que tenha obtido resultados melhores os dos CDBs, a caderneta de poupança também amarga uma performance modesta. Aplicação mais popular do Brasil, a poupança acumula uma rentabilidade de 5,62% neste ano – ou menos de 1% acima IPCA. Nos últimos 12 meses, a comparação é ainda menos favorável. O retorno da poupança foi de 7,45%, contra um IPCA de 7,31%.

Os números deixam claro que o retorno da renda fixa neste momento não é tão atrativo quanto parece porque a taxa de juros de 11,5% ao ano paga pela maioria dos títulos públicos do governo federal não vai diretamente para o bolso do comprador. Como a expectativa de redução da inflação medida pelo IPCA para algo em torno de 6,5% em 2011 deve ser acompanhada de uma queda da taxa Selic para cerca de 10,5% até janeiro, não é razoável supor que a melhora do cenário para o investidor conservador é iminente.


Quem mantém recursos aplicados em CDB ou poupança, entretanto, não deve necessariamente resgatar o dinheiro imediatamente. Professor da UFSC e consultor em finanças pessoais do Itaú, Jurandir Macedo explica que, apesar da baixa rentabilidade, esses dois investimentos, assim como os fundos DI, continuam sendo os mais indicados para quem pode ter de usar o dinheiro no curto prazo. Para ele, qualquer pessoa deve manter uma reserva de emergência equivalente aos gastos de três a nove meses como forma de cobrir despesas imprevistas. Se não fizer isso, a pessoa fica sujeita a ter de utilizar linhas de crédito caras como cheque especial ou resgatar aplicações de renda variável na hora errada caso o pior aconteça.

Já o dinheiro que o investidor poupa para realizar sonhos daqui a alguns anos ou para um dia juntar a renda suficiente para parar de trabalhar segue uma lógica totalmente distinta. Com os recursos que não precisarão ser usados no curto prazo, o investidor pode correr os riscos condizentes com seu perfil.

Alternativas

Dentre as opções de risco baixo e médio, o investidor conservador que não tem tempo de acompanhar o mercado, mas tem paciência para obter bons resultados no longo prazo, deve buscar um fundo de renda fixa. Por meio dessas aplicações, é possível investir em títulos públicos e privados de forma bastante diversificada. As decisões de investimento são tomadas por um gestor profissional, que está habituado ao desafio de antecipar cenários econômicos e comprar o ativo mais indicado para cada momento.

“O cuidado mais importante a ser tomado antes de investir em um fundo de renda fixa é verificar as taxas de administração”, diz Conrado Navarro, especialista em finanças pessoais e responsável pelo site Dinheirama. Alguém que possui ao menos 100.000 reais para investir deve procurar um fundo que cobre uma taxa de administração de no máximo 1% do valor investido ao ano. “Quem entra em um fundo DI ou de renda fixa com taxa de administração de 2% ou 3% ao ano corre o risco de obter um retorno inferior ao da poupança se os juros continuarem em queda.”

Outra forma de fugir das taxas altas dos fundos é gerir os próprios investimentos. Mas não se engane: isso dá trabalho e exige conhecimento. Uma das alternativas é investir em CDBs de bancos pequenos e médios e obter um retorno equivalente a 100% ou 115% do CDI (hoje o equivalente a um ganho bruto entre 11,4% e 13,1%), dependendo do prazo da aplicação. Para comprar um CDB de um determinado banco, é necessário abrir conta nessa instituição financeira.


Além da burocracia, o investidor deve tomar alguns cuidados. Os CDBs de bancos médios só são de risco baixíssimo se o investidor respeitar o limite de aplicação de até 70.000 reais por instituição. Nesses casos, mesmo que o banco quebre, o investidor receberá o dinheiro investido do Fundo Garantidor de Crédito, criado pelos próprios bancos para dar mais segurança aos clientes. Para montantes superiores, o investidor pode ter de esperar vários anos ou até mesmo perder o dinheiro aplicado em caso de liquidação da instituição bancária. Nesse caso, é melhor se contentar com o retorno de 80% a 90% do CDI que será oferecido por uma grande instituição financeira.

Outro instrumento interessante para investimentos de baixo risco é o Tesouro Direto. A ferramenta foi criada pelo governo federal para a venda de títulos públicos sem intermediários. A única taxa que deve ser desembolsada pelo investidor é a de custódia dos títulos, que varia de zero (no caso das corretoras Banif, Spinelli, Título, Socopa e Concórdia) a 1% ao ano.

Os títulos públicos que podem ser comprados via Tesouro Direto são basicamente três: LTN (prefixado), LFT (indexado à taxa Selic) e a NTN-B (que paga ao investidor uma remuneração equivalente à inflação medida pelo IPCA mais uma taxa de juros). Para Georges Catalão, gestor de investimentos da Lecca Financeira, o título mais indicado para o atual momento da economia é a NTN-B.

Esses papéis pagam hoje o equivalente a IPCA mais entre 5% e 6% ao ano, dependendo do prazo de vencimento. O investidor não precisa manter o título em carteira até o vencimento, já que o próprio Tesouro Nacional garante a recompra dos papéis em leilões realizados todas as quartas-feiras. Essa rentabilidade, entretanto, só é garantida a quem não vender os títulos até a data final.

Catalão dá preferência às NTN-B porque acredita que o Banco Central foi ousado demais ao começar a baixar os juros em agosto, em um momento em que a inflação continua acima do centro da meta. O BC justificou o corte com a promessa do Ministério da Fazenda de cortar gastos e com a perspectiva de que a crise internacional leve a uma desaceleração da economia brasileira. O problema é que, até o momento, não se sabe quais gastos o governo pode enxugar nem se os efeitos da crise sobre os preços internacionais serão tão severos quanto o BC imagina.


Já as pressões inflacionárias são bem mais palpáveis. Os reajustes salariais de diversas categorias têm batido a inflação com tranquilidade neste ano. Alguns sindicatos, como o dos metalúrgicos, conseguiram 10% de aumento. Já o salário mínimo deve subir 13% no início do próximo ano e botar lenha na fogueira da inflação. A elevação dos custos da mão de obra e o aumento do preço dos imóveis devem continuar a pressionar os preços principalmente no setor de serviços. A alta do dólar é outra fonte preocupante de pressão. Já as commodities, que poderiam dar algum alívio à inflação, têm se mantido em patamares elevados. “Se a inflação ficar próxima a 6% no próximo ano, o investidor ganha dinheiro com a NTN-B”, afirma Catalão.

É importante lembrar que, apesar de ser um investimento de renda fixa, o retorno oferecido por um título público para quem vende o papel antes do vencimento é variável. Títulos indexados à inflação, inclusive, têm sido os mais voláteis e arriscados nos últimos anos. A NTN-B Principal com vencimento em 2035, por exemplo, proporcionou ao investidor uma rentabilidade de apenas 1,85% neste ano, como pode ser visto na tabela de rentabilidades deste ano publicada abaixo:

Título Vencimento Rentabilidade neste ano
LTN (título prefixado) 01/01/2012 9,91%
LTN 01/01/2013 12,06%
NTN-F 01/01/2012 9,90%
NTN-F 01/01/2013 11,81%
NTN-F 01/01/2014 12,41%
NTN-F 01/01/2017 11,92%
NTN-F 01/01/2021 13,03%
LFT (título indexado à Selic) 07/03/2012 9,43%
LFT 07/03/2013 9,41%
LFT 07/03/2014 9,36%
LFT 07/03/2015 9,29%
NTN-B (título indexado ao IPCA mais juros) 15/08/2012 12,15%
NTN-B 15/05/2013 13,36%
NTN-B 15/05/2015 13,60%
NTN-B 15/05/2017 12,59%
NTN-B 15/08/2020 11,04%
NTN-B 15/08/2024 10,42%
NTN-B 15/05/2035 7,88%
NTN-B 15/05/2045 5,49%
NTN-B Principal 15/05/2015 13,90%
NTN-B Principal 15/08/2024 8,96%
NTN-B Principal 15/05/2035 1,85%

É por esse motivo que o professor Jurandir Macedo defende que as pessoas físicas não tentem adivinhar qual é o melhor título para determinado cenário econômico e busquem definir apenas qual é o ativo mais adequado aos próprios objetivos financeiros. Ele acredita que a NTN-B é a melhor opção para quem vai investir para a aposentadoria porque o papel garante um ganho no poder de compra ao pagar toda a inflação mais uma taxa de juros.

As LTN são os títulos mais indicados para o investidor de médio prazo, que está guardando dinheiro para dar a entrada em um imóvel que será financiado daqui a uns dois ou três anos, por exemplo. A grande vantagem desse papel é que o investidor sabe exatamente quanto vai receber de juros até o vencimento. Já as LTF são indicadas para quem não quer ou não pode correr riscos e para quem pode ter de resgatar os recursos em breve. 

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