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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h33.
O anúncio de fusão do banco britânico Barclays com o holandês ABN Amro não deve provocar mudanças nas estratégias do Banco Real. O presidente da instituição, Fábio Barbosa, disse ao Portal EXAME que mudanças só serão analisadas caso os acionistas aceitem a proposta do Barclays, decisão que não deve ser tomada antes de agosto. "Até lá, nada muda", afirma. Por enquanto, os dois bancos anunciaram um acordo que tem a anuência apenas do conselho de administração do ABN.
Dentre os planos do Banco Real para 2007 está a abertura de mais 50 agências. Segundo Barbosa, a fusão entre Real e Barclays no Brasil não geraria necessidade de reestruturação no banco, já que praticamente não há sobreposição de estruturas e a expectativa é de crescimento. O Barclays informou que a fusão permitiria o corte de 12.800 empregados que teriam funções redundantes.
Nos últimos anos, o Real vem apresentando forte expansão, tendo contabilizado, apenas em 2006, aumento de 42% em seu lucro líquido, que chegou a 2 bilhões de reais. "Estamos indo muito bem e vamos continuar assim", diz o executivo. Para Barbosa, a união com o Barclays seria positiva para o Real, principalmente no segmento de banco de investimento. "Trata-se de uma instituição com grande expertise nessa área e que contribuiria muito para o desenvolvimento de nossos negócios no Brasil", afirma.
Hoje, os negócios do banco britânico no Brasil são modestos. Com uma estrutura de 69 funcionários, o Barclays atua somente no atacado, realizando operações de tesouraria e de câmbio para comércio exterior. Procurada pelo Portal EXAME, a instituição preferiu não comentar seus planos em relação ao Brasil. No final do ano passado, no entanto, Joerg Rudloff, presidente mundial do Barclays Capital, o banco de investimento do grupo, disse que a instituição estudava a entrada no varejo brasileiro e que pretendia dobrar o capital investido no país.
Para o analista da consultoria Austin Rating, Luís Miguel Santacreu, a troca de controle deve ter baixo impacto sobre o Real. "O banco sempre contou com uma certa independência em relação ao ABN Amro. Se não houver grandes mudanças de gestão, seu ritmo de crescimento deverá ser mantido", afirma.
Todos querem o Real
Apesar de o plano de fusão já ter a aprovação dos executivos do ABN, esse caso ainda pode sofrer uma revira-volta. Estava prevista para a tarde de hoje uma reunião entre representantes do ABN Amro e do consórcio formado pelo espanhol Santander, o escocês Royal Bank of Scotland e o belgo-holandês Fortis, na qual seria apresentada uma nova proposta de compra. Após o Barclays informar que uma das condições do plano de fusão com o ABN Amro seria a venda do LaSalle, maior instituição financeira de Chicago e forte no meio-oeste americano, para o Bank of America, o consórcio decidiu adiar o encontro.
"A proposta do consórcio inclui a manutenção do LaSalle. Tendo em vista a decisão do ABN Amro de vender o LaSalle ao Bank of America, o grupo precisa entender as circunstâncias sob as quais essa venda pode ser concluída. Os bancos estão requisitando essa informação hoje. Por isso, não consideram apropriado reunirem-se com o ABN nesta tarde", disse o consórcio em comunicado à imprensa.
A concretização da venda do ABN Amro para o grupo de bancos faria com que o Banco Real passasse para as mãos do Santander, elevando o banco espanhol ao topo do ranking de bancos no Brasil. O interesse do Santander pelo ABN chamou a atenção de seu grande rival, o BBVA, que também teria decidido entrar na briga pelas operações do banco holandês no Brasil. Já o Itaú, que diz ter interesse pelo Banco Real, poderia entrar na disputa por meio do Bank of America, seu maior acionista estrangeiro. O negócio atrai ainda o francês BNP Paribas, que no Brasil atua como banco de investimento, e, segundo o jornal britânico The Times, também o HSBC que, caso o negócio se confirme, poderia realizar uma oferta ao Barclays para ficar com o Real, avaliado em 28 bilhões de reais.
De acordo com os analistas, a aquisição do Real seria estratégica para qualquer instituição. Para os que já estão no varejo, representaria uma grande oportunidade de fortalecer os negócios e, para aqueles que ainda não atuam nesse segmento, a chance de entrar bem posicionado. "O Brasil conta com pouca penetração de crédito. Com a queda dos juros, há muito espaço para crescer, principalmente no setor imobiliário", afirma a analista da corretora SLW, Kelly Trentin.
Em uma prévia dos resultados que serão divulgados na próxima quinta-feira (26/4), o ABN Amro informa que a América Latina contribuiu com 13% do lucro líquido de 1,3 bilhão de euros obtido no primeiro trimestre. A região contabilizou ganhos de 177 milhões de euros, 34% a mais que no mesmo período de 2006, sendo o Brasil responsável por quase todo o resultado.