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Pix dá desconto na Black Friday, mas aumenta risco de endividamento

De descontos falsos até dificuldade no reembolso, confira cinco dicas de especialistas para não cair nas armadilhas no Pix

Black Friday: Pix promete movimentar economia, mas é preciso cuidado (Hase-Hoch-2/Getty Images)

Black Friday: Pix promete movimentar economia, mas é preciso cuidado (Hase-Hoch-2/Getty Images)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 28 de novembro de 2025 às 13h29.

A Black Friday chegou e os consumidores vão às compras aproveitar os descontos. Nesse ano, o Pix, que virou o queridinho dos brasileiros, promete ser uma das maiores fontes de pagamento, mas ainda abaixo do cartão de crédito. O método de pagamentos também pode ser um caminho para maiores descontos — e para maiores endividamentos, por se tratar de uma aquisição à vista.

Segundo especialistas ouvidos pela EXAME, a combinação do apelo pelos descontos e a popularização do Pix cria um ambiente propício tanto para boas oportunidades quanto para erros clássicos de consumo. De atenção ao Pix parcelado e às ofertas que parecem vantajosas demais até o risco de cair em “descontos inflados”, a Black Friday exige mais cuidado do que nunca.

O Pix movimentou, até setembro (dados mais recentes) R$ 25 trilhões em transações, segundo dados do Banco Central (BC). No mesmo período de 2024, esse número foi de R$ 18,7 trilhões, o que representa um aumento de 34%. Em número de transações, de janeiro a setembro de 2025, foram 57,4 bilhões, frente a 45,5 bilhões na mesma época — um aumento de 26,15%.

Segundo a Neotrust, o e-commerce brasileiro movimentou R$ 2,28 bilhões na véspera da Black Friday, avanço de 34,1% sobre o ano anterior. O número de pedidos também disparou: foram 5,9 milhões, alta de 63,2%. TVs, smartphones e calçados lideraram o faturamento do dia. No acumulado de 1º a 27 de novembro, as vendas somaram R$ 39,2 bilhões, crescimento de 36,2% na comparação anual. Os pedidos chegaram a 124,9 milhões, um salto de 48,8% em relação a 2024.

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Quanto de desconto vale a pena no Pix?

Pagar no Pix promete descontos, afinal, mesmo no Pix parcelado o recebedor obtém o dinheiro à vista. Com o faturamento na hora, sem taxas de maquininhas de cartão e risco de inadimplência, o lojista consegue repassar esse desconto para o consumidor.

Especialistas divergem sobre o nível de desconto que pode valer a pena. Para alguns planejadores financeiros, nem descontos de 10% valem a pena. Para outros, de 5% a 20% pode ser uma boa opção. Mas, segundo as fontes, a lógica é: se o dinheiro tiver investido a uma Selic de 15%, o rendimento pode servir para ir pagamento as parcelas do crédito parcelado.

“Porém, quando o parcelamento envolve juros, o pagamento à vista via Pix passa a ser a escolha mais vantajosa”, comenta Gustavo Moreira, planejador financeiro CFP, especialista em investimentos e MBA em Finanças pela FBNF - Faculdade Brasileira de Negócios e Finanças.

Por que pode ampliar o risco de endividamento?

Apesar das vantagens, o Pix pode sim aumentar o risco de endividamento. Como ele retira o dinheiro da conta imediatamente, sem planejamento, o consumidor pode ter um rombo no orçamento e acabar utilizando um dinheiro não previsto para compras não essenciais.

Para quem recorre ao Pix parcelado, o problema é ainda maior. A modalidade não é igual ao cartão de crédito. É como se fosse um “empréstimo”, em que o valor total é “comido” do saldo e a pessoa vai pagando as parcelas com impostos. “O nome dá a impressão de que é apenas uma forma diferente de dividir uma compra, mas, na prática, envolve juros e IOF”, afirma Harion Camargo, planejador financeiro CFP pela Planejar.

Como a transação é rápida e sem burocracia, muitas pessoas assumem parcelas ou gastam à vista impulsivamente, especialmente em momentos como a Black Friday. O risco é justamente esse: a facilidade reduz o tempo de reflexão e pode levar a gastos acima da capacidade real de pagamento.

“No caso do Pix parcelado, muitos bancos oferecem pagar com Pix e parcelar na fatura. Diferente da loja que faz "10x sem juros", o banco cobra juros mensais nessa transação (algo entre 2% a 5% ao mês). O consumidor acha que está parcelando, mas está contratando uma dívida cara. No final, o produto sai muito mais caro do que o preço original”, destaca Jeff Patzlaff, planejador financeiro CFP e especialista em investimentos.

Como fugir das armadilhas do Pix na Black Friday e não se endividar?

Além do falso parcelamento, outras armadilhas podem acontecer na compra com o Pix. A primeira dica de Daniele Cardoso, educadora financeira, especialista em investimentos e sócia da Forum Investimentos, é “confira se o pagamento é para a instituição que você está efetuando a compra e se os dados estão corretos.”

Já Moreira alerta para os “falsos descontos” ou os chamados “metade do dobro. “Muitas lojas elevam o preço dias antes da Black Friday para depois anunciar um ‘superdesconto’ que, no final, resulta no mesmo valor. Comparar o histórico de preços e confirmar se o valor realmente caiu ajuda a evitar armadilhas”, diz.

A modalidade “Pix crédito” tem juros ainda mais altos e deve ser evitada, segundo Patzlaff. Outro ponto é conferir se o saldo na conta existe, para não cair no cheque especial.

No fim, ter o orçamento bem equilibrado, com controle dos custos básicos de vida fixo, como moradia, luz, água, mercado, escola, combustível e gastos do cartão de crédito, e utilizar “apenas o excedente desse cálculo para adquirir os supérfluos (roupas, eletrônicos, viagens, lazer)”, é a segunda dica, comenta Gabriel Eisner, consultor financeiro e sócio da Mhydas Planejamento Financeiro.

O Pix também pode ser mais difícil de obter reembolso?

Patzlaff ressalta que o maior sinal de alerta é quando a loja aceita somente Pix. “Comércio sério oferece várias formas de pagamento; quando o site restringe ao Pix, a chance de golpe é grande”, afirma. Ele explica que golpistas usam essa tática porque o dinheiro some da conta em segundos, sem possibilidade de cancelamento imediato.

Segundo ele, no cartão é possível contestar a compra e pedir estorno, mas no Pix a recuperação é limitada.

“Mesmo com o Mecanismo Especial de Devolução (MED) do BC, nem sempre é possível recuperar o valor se o golpista já tiver retirado o dinheiro”, diz. Patzlaff lembra ainda que o Banco Central está implementando o MED 2.0, que rastreia valores mesmo quando passam por várias contas, mas o sistema ainda não está totalmente implantado pelas instituições.

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