Planeja viagem por causa de dólar mais baixo também pode ser uma armadilha (Rmcarvalho/Getty Images)
Editor de Invest
Publicado em 16 de setembro de 2025 às 06h00.
Última atualização em 16 de setembro de 2025 às 08h02.
A mão coçou quando o dólar chegou na menor cotação em mais de um ano. Pensei que pudesse ser uma boa ideia carregar o cartão pré-pago que uso em viagens ao exterior ou fazer como os incas e os maias faziam, comprando moeda em espécie.
Nas últimas férias no exterior, o dólar estava na casa dos R$ 6 e, na cotação de turismo, beirava os R$ 7. Devo ter ficado com alguma tipo de trauma, imagino, já que me vi considerando comprar moeda sem ter viagem internacional marcada ou qualquer plano nesse sentido, por conta dessa baixa.
Felizmente, falei com alguns planejadores financeiros antes de ceder ao impulso.
"Quando você compra dólar sem ter nenhuma viagem em vista, você corre o risco da variação do preço e de perder dinheiro com isso. E é um dinheiro que não rende", me explicou Andres Montano, que presta consultoria financeira pessoal há quase 10 anos.
Para quem tem uma viagem marcada, a história é diferente, principalmente se você ainda vai levar algum tempo para embarcar. Nesse casos, é possível tentar fazer um preço médio para o dólar, comprando com frequência, tipo uma vez por mês.
"Como não dá para adivinhar para onde o dólar vai, comprando com recorrência você consegue mitigar o risco da variação do valor", afirma Montano. "É preciso ter cuidado em querer acertar o momento para comprar e acabar prejudicando essa estratégia".
O câmbio é uma das variáveis consideradas mais difíceis de prever no mercado financeiro. O que vai dizer se o dólar vai ganhar ou perder valor não está somente em uma explicação ou numa mesma geografia. O Goldman Sachs, por exemplo, prevê que a moeda americana vai continuar caindo em relação a outras divisas quando o Banco Central dos Estados Unidos (o famoso Fed) começar a cortar juros por lá — o que pode acontecer já nesta quarta-feira, 17.
Ao mesmo tempo, um recente estudo do UBS mostra que o dólar até poderia chegar a R$ 4,30, não fossem ruídos internos. Por aqui, o real tem perdido valor quando o governo sinaliza que poderá ampliar gastos, o que aumenta aquele sentimento de aversão ao risco e também a busca pelo dólar como ativo seguro.
A projeção, digamos, "oficial" da moeda vem do relatório Focus, que o Banco Central publica toda semana e compila as apostas da situação financeira para o câmbio e outros indicadores. O último, publicado ontem, apontava dólar em R$ 5,50 ao final deste ano e R$ 5,60 em 2026.
A moeda americana já perdeu um bom valor em 2025. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis moedas de países desenvolvidos, recuou 10,3% no acumulado do ano. Já em relação ao real, a queda foi de mais de 16%. E estamos falando do dólar comercial, que as empresas usam como referência em contratos de importação ou exportação ou em remessas de recursospara fora do país.
O viajante comum, como eu e você, pagamos pelo dólar turismo que, nesta segunda-feira, estava em torno de 20 centavos mais caro que o dólar comercial.
"Se a ideia é mesmo viajar, tendo marcada a data ou não, faz muito sentido comprar dólar. Desde que esse montante não atrapalhe no orçamento mensal", lembrou bem o Raphael Carneiro, outro planejador financeiro com quem fui tirar a dúvida.
Confesso que até animei em pesquisar passagem aérea e, quem sabe, já planejar minhas próximas férias. Raphael me aconselhou cuidado para não cair em outra armadilha.
"Planejar uma viagem só por causa do dólar mais baixo vira risco de contrair uma nova dívida", alertou.