Caixinhas virtuais: investidores devem ficar atentos, por exemplo, a cobrança de IR (PM Images/Getty Images)
Repórter de finanças
Publicado em 22 de agosto de 2025 às 10h21.
Última atualização em 22 de agosto de 2025 às 10h44.
As ‘caixinhas virtuais’ ou ‘cofrinhos virtuais’ viraram febre entre os investidores: pelo jeito prático de se investir, elas instituíram um novo jeito de poupar. Inclusive, os CDBs, instrumentos de renda fixa onde o dinheiro das caixinhas é mais aplicado, superaram a poupança no primeiro semestre de 2025.
O movimento também impulsionou a renda fixa que atingiu 100,2 milhões de CPFs em junho de 2025, um aumento de 9% comparado a 2024, quando eram 91,8 milhões, segundo a B3.
“Esse efeito foi provocado em larga escala pelas caixinhas/cofrinhos dos bancos digitais, que também se mostrou no alto número de CPFs na B3 em renda fixa (CDB/RDB)”, afirma Felipe Paiva, diretor de Relacionamento com Cliente, Educação e Pessoa Física da B3.
Essa alta de investimentos nas caixinhas decorre, segundo Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da FGV, da divisão por objetivos: guardar dinheiro para férias de final de ano, para reserva de emergência, para a faculdade do filho.
Com rentabilidade que acompanham o CDI — ou até muito acima dele — as caixinhas encantam pessoas físicas que estão iniciando sua jornada no mundo dos investimentos. Entretanto, é preciso atenção a alguns pontos.
Em cerca de cinco ‘clicks’ você consegue guardar seu dinheiro em uma caixinha. Mas prestar atenção apenas na rentabilidade bruta, sem os impostos, pode ser uma armadilha. As aplicações dos cofrinhos são feitos majoritariamente em renda fixa, normalmente Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) ou Recibos de Depósitos Bancários (RDBs).
Estes, por sua vez, seguem uma tabela regressiva do Imposto de Renda (IR), que vai de 22,5% sobre o rendimento para aplicações de até 180 dias até 15% para aplicações acima de 720 dias. “Quando vocês regatar esse dinheiro, ele é o líquido retirando esse imposto”, diz Carlos Castro, planejador financeiro CFP pela Planejar.
Se o resgate acontecer em menos de 30 dias pode haver cobrando de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) – e pode consumir uma boa parte, senão a totalidade, da rentabilidade, explica Castro.
Por exemplo, caso o resgate do dinheiro aconteça no dia seguinte, o IOF é de 96%. Após os 30 dias, ele é isento — entretanto, alguns bancos podem isentar o IOF desde o primeiro dia.
É precisa olhar ainda qual o tipo de aplicação é feita com as caixinhas. Se o dinheiro por aplicado em um fundo de renda fixa – e não em CDBs ou RDBs –, pode haver cobrança de taxa de administração, além do IR. "Quando olhamos a rentabilidade, temos que levar em consideração esses custos que não são totalmente transparentes para as pessoas.”
As caixinhas também não ficam disponíveis com o mesmo valor de rentabilidade para todos os clientes dos bancos: eles fazem ofertas diferenciadas dependendo do cliente, explica Aline Soaper, educadora financeira.
Em alguns bancos, é necessário assinar alguns programas, ter chaves PIX cadastradas ou fazer movimentações, por exemplo, de R$ 900 por mês para ter acesso a uma rentabilidade maior.
“Nem todo mundo acaba se beneficiando, exatamente porque precisa desse mínimo de movimentação financeira. Então isso também é uma prática que as pessoas precisam estarem atentas dentro de um planejamento financeiro. Para você ter 120% do CDI, você vai ter que movimentar um montante. Se a movimentação cai, volta para a rentabilidade dos 100%”, comenta Castro.
Caso você seja um investidor mais arrojado, com alto volume para investir, a caixinha também pode não ser uma boa escolha. Os aportes máximos costumam ser limitados — em muitos casos, até R$ 10 mil ou R$ 20 mil por objetivo — o que restringe o uso da ferramenta para quem pretende concentrar valores maiores.
Os instrumentos de renda fixa têm como característica a alta liquidez. Entretanto, na prática, existem produtos que não são D+0 (com resgate no mesmo dia) e, por exemplo, D+1 (no dia seguinte). Isso pode ser um ponto de atenção para quem precisa resgatar no mesmo dia para uma emergência.
“Algumas ofertas exclusivas, rendendo mais do que 100% do CDI, podem ter prazo mínimo de permanência para ter o rendimento total, por isso é importante ler as regras”, pontua Soaper.
Para Castro, as caixinhas têm uma finalidade educativa que é importante em termos de comportamento financeiro. “Se não temos esses objetivos, acabamos não investindo adequadamente. Elas contribuem para gerar disciplina nas pessoas”, afirma.
Entretanto, ele diz que a diversificação em si não é em função da quantidade das caixinhas e, sim, do tipo de investimento. “O próximo passo é analisar se eu vou fazer uma viagem daqui a um ano, posso diversificar e começar a colocar dinheiro em instrumentos que vão me dar retorno daqui a um ano, nesse caso dá para usar até outros tipos de renda fixa, sem resgate imediato e que rendem mais”, destaca.
E a diversificação não significa somente alocar em renda fixa, mas também fazer uma composição em renda variável, exterior, fundos, dentre outros. Soaper afirma: “A caixinha é um investimento bom para reserva de segurança financeira. Mas é um único tipo de investimento, não está diversificando — apesar de já ser uma excelente forma de começar a investir e construir um colchão financeiro.”
Entre os bancos que possuem cofrinhos virtuais, há o Nubank, com caixinhas que rendem 100% e 115% do CDI (na caixinha turbo, caso movimente R$ 900 na conta corrente todo mês). O Itaú também possui cofrinhos, com um CDB que rende 100% do CDI. No Inter, é o "Meu Porquinho por Objetivos", um CDB que também rende 100% do CDI.
No PicPay, existe o cofrinho que rende 102% do CDI, e o "Cofrinho Turbinado", com um retorno de 121% do CDI, desde que seja assinante do PicPay Mais ou aporte, ao menos, R$ 999 na conta todos os meses (e mantenha cadastrada uma chave PIX, CPF ou celular).
No Banco do Brasil, há o "Cofrinho BB", aplicado em um fundo que busca acompanhar a taxa Selic (com rentabilidade de 11,22% nos últimos 12 meses). Já no Santander, existe o "Minhas Reservas", um CDB que rende 100% do CDI.
No Mercado Pago, o cofrinho rende 120% do CDI para assinantes do MELI+ e com limite de até R$ 10 mil investidos.