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Para viver de renda, você poupa ou investe? Veja a diferença

Segundo especialista, brasileiros geralmente não entendem a diferença entre poupar e investir, o que é essencial para quem quer ter as finanças saudáveis


	Cofrinhos: uma mesma aplicação financeira pode servir para poupar ou investir
 (Getty Images)

Cofrinhos: uma mesma aplicação financeira pode servir para poupar ou investir (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 20 de maio de 2014 às 16h00.

São Paulo – Você sabe qual é a diferença entre poupar e investir? Para o planejador financeiro certificado (CFP) Janser Rojo, da Soma Invest, o brasileiro usa esses dois conceitos como se fossem sinônimos, e com isso acaba cometendo grandes erros na sua vida financeira.

“Estou juntando dinheiro para viajar”. “Estou poupando para investir no futuro dos meus filhos.” “Comprar a casa própria é um bom investimento”. “Meu irmão está guardando dinheiro para estudar fora”.

Essas expressões devem ser familiares para você, mas escondem alguns erros conceituais. “Muita gente acha que está investindo, quando, na realidade, está poupando”, diz Rojo, que tem certificação CFP pelo Instituto Brasileiro de Certificação dos Profissionais Financeiros (IBCPF).

Diferença não está no risco nem no prazo

Segundo Rojo, a primeira coisa que a pessoa deve entender é que poupar ou investir nada tem a ver com o risco da aplicação financeira escolhida ou o prazo.

“Primeiro é preciso definir qual não é a diferença entre poupança e investimento. Não tem nada a ver com risco, com prazo, com o tipo de aplicação que se vai utilizar ou com o montante que se vai investir”, diz o CFP.

Também não tem a ver com a presença ou não de um objetivo. Tanto para poupar quanto para investir é preciso ter um objetivo. Não se trata de juntar dinheiro apenas por juntar. A diferença, essencialmente, está na natureza do objetivo.

Poupança pressupõe uso do principal; investimento, geração de renda

A diferença básica entre poupar e investir é que a poupança pressupõe que você vai usar todo o dinheiro aplicado – não só os rendimentos, mas também o principal.

Já no caso do investimento, o objetivo é formar um patrimônio que gere um rendimento “automático”, que caia na sua conta periodicamente, e que você só use esses frutos, nunca o principal. “Ao investir, em momento algum você rapa a sua conta”, observa Rojo.

Por exemplo, ao juntar dinheiro para fazer um curso no exterior ou uma viagem, para pagar a faculdade, comprar um carro, casar ou dar entrada em um imóvel, você está poupando.

Você guarda dinheiro por certo período e depois usa todo o recurso aplicado para custear seu objetivo. O rendimento apenas ajuda a chegar ao objetivo mais rápido, repondo a inflação ou até ganhando mais que a alta dos preços, mas não é o mais importante.

Em função disso, outra característica importante da poupança é que o seu objetivo tem um preço bem definido: o preço do carro ou da casa que se quer comprar, o custo do curso que se quer fazer e assim por diante.

Já o investimento tem o objetivo de gerar uma renda no futuro. E esta renda, por sua vez, também tem um objetivo. É o caso da aposentadoria ou de quem quer atingir a independência financeira antes mesmo de chegar à idade de se aposentar – o popular “viver de renda”.

Viver de renda nada mais é que ter acumulado um patrimônio grande o suficiente para que apenas seus frutos – os rendimentos – sejam suficientes para o seu sustento, suas viagens, seu consumo do dia a dia.

Em geral, quem faz um plano de aposentadoria bem feito pensa em acumular patrimônio não para consumi-lo integralmente na terceira idade, mas sim para que seja possível usar seus rendimentos sem ter que mexer no principal.

Dessa forma, o patrimônio será capaz de gerar renda pela perpetuidade, e quando o investidor morrer, seus herdeiros o repartirão.

É claro que também é possível programar uma aposentadoria combinando as duas formas – consumo de rendimentos e de principal, até que todo o patrimônio se esgote, no fim da vida.

Mas como não é possível ter certeza de quanto se vai viver, essa estratégia pode ser arriscada.

Por conta desses fatores, o investimento não tem um preço definido a priori. Se o seu objetivo é ter uma “aposentadoria tranquila” ou “atingir a independência financeira”, é você quem define a renda necessária para conquistar essas condições.

Não que você não precise definir o montante a ser acumulado. Mas enquanto um determinado modelo de carro custa o mesmo para qualquer comprador, o conceito de “aposentadoria tranquila” e as necessidades financeiras variam muito de pessoa para pessoa.

Cálculo do investimento deve ser feito a partir da renda que se quer obter

Para calcular quanto você precisa juntar para gerar a renda desejada, você deve partir da renda que você quer obter.


Primeiro você deve estimar quanto você precisará ganhar no futuro para ter o padrão de vida desejado. A partir deste valor, você deve calcular quanto precisará juntar até lá para obter essa renda ao manter o dinheiro investido em uma aplicação financeira conservadora.

É preciso que a rentabilidade real (acima da inflação) do montante acumulado seja equivalente à renda desejada.

Janser Rojo simulou um cenário. Suponha que você deseje uma renda de 6 mil reais na aposentadoria – nos valores futuros, não em valores de hoje, uma vez que a inflação corrói o valor do dinheiro. Isso sem contar uma eventual aposentadoria pelo INSS.

Rojo usou como taxa de juro real a rentabilidade da NTN-B com vencimento em 2035, título do Tesouro que atualmente paga em torno de 6,28% ao ano acima da inflação oficial (IPCA).

Descontando-se o imposto de renda de 15% sobre os ganhos, a rentabilidade real mensal desta aplicação é de aproximadamente 0,34%.

A pergunta que se coloca é: 6 mil reais equivale a 0,34% de que montante? Dividindo-se 6 mil por 0,34% chega-se a 1.770.689,17 de reais. É este o valor que o investidor precisa juntar, a partir de hoje, para ter 6 mil reais a uma taxa de juro real líquido de 0,34% ao mês.

Rojo simulou ainda quanto seria preciso juntar por mês para chegar a esse valor em 20 ou 30 anos. Em 20 anos, é preciso guardar 4.791,91 reais por mês. Em 30 anos, 2.521,27 reais por mês.

Um esforço nada desprezível, considerando-se que, ao longo da vida, você deverá poupar e investir ao mesmo tempo.

Isto é, poupar para o consumo de curto e médio prazo e se preocupar com a renda futura que lhe permitirá parar de trabalhar ou ao menos reduzir bastante o ritmo.

Quais as melhores aplicações para poupar ou investir?

De acordo com o Rojo, não existem, essencialmente, aplicações financeiras melhores para poupar ou investir. A escolha vai depender mais do prazo do que propriamente se é um investimento ou poupança.

Se o prazo for curto ou médio, deve haver uma preferência por aplicações financeiras com menos risco de volatilidade ou de calote, como aplicações conservadoras de renda fixa. Entre elas, poupança e CDBs, por exemplo.

Se houver um prazo mais longo, há como casar o objetivo com o vencimento de títulos públicos de mais longo prazo no Tesouro Direto ou aplicar em fundos com renda variável, como ações.

“Uma mesma aplicação pode atuar como poupança ou investimento. É o caso da caderneta de poupança. Ela pode ser um instrumento apenas para guardar dinheiro, e você tira todos os recursos na hora de usá-los; ou pode ser um investimento, se você resgatar apenas os rendimentos mensais”, explica o planejador financeiro.

Rojo lembra, no entanto, que alguns produtos têm uma vocação maior para ser geradores de renda, e assim atuarem como investimentos.

É o caso dos imóveis que geram aluguel, das ações que pagam bons dividendos periodicamente, dos fundos imobiliários que pagam aluguéis e dos títulos públicos negociados no Tesouro Direto chamados de NTNs, que pagam um rendimento a cada seis meses.

Rojo lembra que outras aplicações também podem atuar como investimentos, mas não são “automáticas” como estas que têm essa “vocação”.

“Um fundo de investimentos, por exemplo, dá algum trabalho, pois periodicamente o cotista precisaria pedir o resgate, a fim de obter sua renda”, diz Rojo.

Consumo não é nem poupança nem investimento

Finalmente, um erro comum, segundo Rojo, é confundir consumo com investimento. Ele lembra que a casa própria, principalmente quando financiada, não é poupança nem investimento, pois em um primeiro momento a intenção não é ganhar com sua valorização, nem com o aluguel.

“Investimento é aquilo que coloca dinheiro no bolso do investidor continuamente. Se a pessoa está pagando para ter um bem, aquilo não é investimento”, observa o especialista.

Também não são poucas as pessoas que dizem que seu carro é um investimento. Rojo chama a atenção para o fato de que além de a compra do carro ser uma despesa, posteriormente este bem só gera gastos.

E em quase 100% dos casos, o veículo desvaloriza, ao contrário dos imóveis, que podem se valorizar.

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