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Para analistas, Bovespa baterá renda fixa em 2012

EXAME.com consultou 15 corretoras e bancos de investimento, que estimam um ganho médio de 20% para a bolsa neste ano

Após dois anos fracos, analistas acham que Bovespa baterá renda fixa. Será mesmo?

Após dois anos fracos, analistas acham que Bovespa baterá renda fixa. Será mesmo?

DR

Da Redação

Publicado em 5 de janeiro de 2012 às 06h36.

São Paulo – Após dois anos de resultados bastante decepcionantes, a maioria dos analistas de bancos de investimento e corretoras acredita que a Bovespa voltará a bater os investimentos em renda fixa em 2012. EXAME.com levantou o preço-justo projetado para o Ibovespa em dezembro e chegou a uma média de 68.167 pontos (veja a tabela abaixo com a opinião de 15 instituições financeiras). Se a projeção média dos analistas estiver correta, as ações do índice gerariam uma rentabilidade de 20,14% neste ano, contra algo próximo a 10% projetado para a renda fixa.

Banco ou corretora Previsão do número de pontos do Ibovespa ao final de 2012
Fator 60.000
Empiricus 62.300
Credit Suisse 63.000
Indusval 64.000
Deustche Bank 64.000
BB Investimentos 67.000
Bank of America Merrill Lynch 68.000
Souza Barros 68.500
Bradesco/Ágora 69.000
Walpires "cerca de 70.000"
Citi 70.000
Planner 72.000
Votorantim Asset Management 73.000
BTG Pactual 75.000
Itaú BBA 77.000
Média 68.167

Já quando perguntados se é a hora certa de entrar na bolsa, a maioria dos analistas mostra muito mais prudência. Em primeiro lugar, parte do potencial de valorização prevista para este ano já ficou para trás, com a alta de 4,60% nos três primeiros pregões do ano. Agora, o potencial da alta na bolsa neste ano seria de apenas 14,83%.

Esse percentual ainda é bem maior do que o projetado para a Selic. O problema é que, considerando o risco oferecido pela bolsa, o prêmio inferior a 5% sobre a renda fixa já não parece tão atrativo assim – principalmente em um ano em que o único consenso dos analistas é de que haverá no mercado altíssima volatilidade (ou seja, risco).

O bilionário Eike Batista tem uma boa receita para avaliar a relação entre o risco e o retorno de um investimento. Em entrevista ao “Fantástico” no último domingo, ele afirmou que só cria uma empresa ou entra em um negócio quando o potencial de retorno é extremamente atrativo. Quando o projeto tem uma margem de gordura grande, ensinou ele, o investimento poderá se mostrar vitorioso mesmo que muita coisa não saia como o esperado. Não parece ser esse o caso da bolsa neste momento.

Outra ressalva é que o conselho de Eike foi dado a empreendedores que planejam abrir um negócio próprio. Os cálculos de atratividade do investimento e de taxas de retorno para um investimento financeiro, no entanto, são exatamente os mesmos realizados por empresários na hora de avaliar o potencial de um negócio.


Bolsa

Um conselho sempre dados por especialistas aos investidores é o de aproveitar momentos de tensão e pessimismo generalizado para comprar ações e, dessa forma, encontrar pechinchas e aumentar o potencial de alta dos papéis. Outra dica comum é não utilizar o dinheiro que precisará ser gasto dentro de poucos meses para investir em bolsa de forma a evitar a possibilidade de ter de resgatar os recursos em um momento ruim.

A alta volatilidade esperada para este ano reforça a importância desses dois conselhos. Como não faltarão altos e baixos na bolsa, o investidor prudente e paciente provavelmente terá a oportunidade de comprar papéis hoje caros por um preço mais atrativo pouco adiante e evitará problemas de liquidez se tiver de esperar mais que o estimado para colher os retornos das aplicações.

Para a equipe de analistas da corretora Planner, a bolsa será particularmente volátil no primeiro semestre, enquanto ainda não houver um princípio de solução para a crise na Europa, uma sinalização mais clara de que os Estados Unidos e a China não vão desacelerar demais e uma resposta das empresas brasileiras aos estímulos monetários que vêm sendo promovidos pelo Banco Central.

Mitsuko Kaduoka, analista de investimentos da Indusval & Partners, reforça o coro por prudência nos primeiros meses deste ano. Ela lembra que os bancos e países da zona do euro terão de refinanciar dívidas volumosas nos próximos meses e que o momento é de baixa liquidez nos mercados. As ameaças de rebaixamento de rating devem continuar a elevar o custo de captação de recursos por instituições financeiras que precisam elevar os níveis de capital para se enquadrarem em regras mais rígidas de solvência.

Em paralelo, também existe os pesados endividamentos dos próprios países europeus. Grécia, Portugal e Irlanda ainda correm o risco de abandonar o euro. E Espanha e Itália podem ser obrigadas as renegociar as dívidas para reconquistar a confiança do mercado mais adiante. Nesse cenário, é impossível que não haja forte volatilidade com ações, dólar e juros futuros. “Acreditamos em um Ibovespa em 69.000 pontos ao final de dezembro”, diz José Cataldo, estrategista da corretora Ágora. “Mas essa previsão não embute a possibilidade de fim do euro ou de quebra de grandes bancos.”


Apenas a atual indefinição na Europa já tem feito estragos na economia brasileira. Em relatório, o analista Andrew Campbell, do Credit Suisse, escreveu que o PIB está desacelerando abruptamente e que o ciclo de revisões negativas para o crescimento dos lucros das empresas pode não ter acabado. O banco acredita que os lucros devem crescer 13% neste ano, mas vê risco de que esse número seja revisado para baixo durante 2012 se a economia não reagir logo aos estímulos do governo. O setor de mineração não deve contribuir para o crescimento dos lucros com em 2011. Pelo contrário, a Vale deve amargar redução de ganhos neste ano. Já as empresas de consumo e as incorporadoras ainda embutem a expectativa de resultados muito bons em seus preços.

O analista do Credit Suisse cita ainda duas barreiras a uma alta sustentada da Bovespa: 1) o real valorizado pode afastar os investidores estrangeiros porque uma eventual desvalorização da moeda brasileira tende a corroer eventuais ganhos com ações; e 2) a bolsa ainda não estaria barata. Segundo ele, as ações do Ibovespa estão sendo negociadas a cerca de 9 vezes o lucro das empresas, o que estaria de acordo com a média dos últimos 10 anos.

Fluxos

Frente a tantas incertezas, os investidores migraram no ano passado para investimentos de baixo risco. As pessoas físicas tiraram 7,8 bilhões de reais da Bovespa, os fundos de investimento sacaram 4,7 bilhões de reais e os estrangeiros fizeram resgates líquidos de 1,4 bilhão de reais. O Ibovespa só não teve um ano ainda pior porque as empresas investiram 12,8 bilhões de reais na recompra das próprias ações. “Os números revelam a falta de confiança dos investidores no mercado acionário”, diz Wagner Salaverry, sócio-diretor da Geração Futuro.

O executivo acredita que possa haver uma reversão desse cenário apenas se o cenário melhorar na Europa. O fim da crise de confiança traria de volta os investidores estrangeiros e poderia reduzir a percepção de risco associado à bolsa entre as pessoas físicas. Segundo Salaverry, os pequenos investidores já não enxergam grandes oportunidades no mercado imobiliário e na renda fixa como até o ano passado.

Para ele, uma queda da Selic para 9,5% ao ano incentivaria a migração para a renda variável “Se descontarmos da Selic uma inflação esperada de 5,2% para 2012, as taxas de administração de fundos ou para a custódia de títulos e um Imposto de Renda que abocanha ao menos 15% dos ganhos, sobra um pequeno lucro real para as aplicações em renda fixa”, afirmou Salaverry. “Isso tende a beneficiar a Bovespa.”


O que comprar

Para Fernando Siqueira, economista-chefe da Citi Corretora, a necessidade de garimpar as boas ações da bolsa para fazer investimentos bem-sucedidos será ainda maior neste ano do que em 2011. Ele não acredita que o mercado possa viver uma recuperação generalizada como a de 2009 nos próximos meses. “Fortes altas generalizadas geralmente acontecem após profundas recessões ou momentos de pânico.” Outra previsão é de que mesmo dentro dos setores possa haver resultados bastante distintos. “Ao contrário de 2011, que foi o ano dos papéis defensivos”, afirmou Siqueira.

De certa forma, há um consenso no mercado de que é hora de permanecer investido principalmente em empresas e setores defensivos. Os mais citados pelos analistas ouvidos por EXAME.com foram as empresas de energia e cartões de crédito. Já as companhias de telecomunicações, apesar de defensivas, tendem a não ser tão boas assim. As teles devem aumentar os descontos para a conquista de clientes e também podem ver a concorrência aumentar com a chegada de novas empresas a partir da realização do leilão de 4G no começo deste ano.

A partir de meados de 2012, empresas ligadas ao mercado interno devem se destacar se os problemas europeus encontrarem uma solução definitiva e os juros caírem como esperado. A maioria dos analistas acredita que os setores de bancos, varejo e consumo poderão se recuperar após a desaceleração no segundo semestre do ano passado.

Já para a área de commodities, os prognósticos são mais sombrios. A ação da Vale é vista como barata considerando os múltiplos atuais. O problema é que há um consenso de que o preço do minério de ferro e o lucro da mineradora sejam bem menores neste ano. Fabricantes de celulose e aço também não devem contar com a ajuda de cotações internacionais mais favoráveis para as matérias-primas.

A grande dúvida é em relação ao petróleo. Se os Estados Unidos continuarem em recuperação ou houver um agravamento das tensões geopolíticas no Oriente Médio (notadamente no Irã), a commodity tende a subir. Do contrário, o petróleo também poderia engatar uma trajetória de queda.

As incertezas para 2012, portanto, são enormes. Dá a dimensão desse fato a lista de corretoras que, procuradas por EXAME.com, afirmaram que não tinham ou não poderiam informar o preço-alvo para o Ibovespa neste ano. No total, foram 13 instituições: UM Investimentos, Ativa, Alpes, Geração Futuro, Gradual, Barclays, HSBC, Socopa, Banif, Coinvalores, TOV, Santander e XP. Quando mesmo quem vive de previsões não se arrisca a divulgá-las, é sinal de que emoções fortes devem vir pela frente.

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