Ozempic: canetas emagrecedoras ganham popularidade, mas continuam fora do alcance da maioria dos brasileiros devido ao alto custo (Steve Christo - Corbis/Corbis/Getty Images)
Repórter de finanças
Publicado em 6 de outubro de 2025 às 06h00.
As "canetas emagrecedoras", como Ozempic e Monjauro, são um fenômeno. Inicialmente utilizadas para o tratamento de diabetes, por emular o hormônio GLP-1, hoje são amplamente usadas no tratamento da obesidade e viraram sonho de consumo de qualquer pessoa acima do peso.
O preço elevado, porém, ainda restringe o acesso da população a esse medicamento. Em uma rápida pesquisa de preço na internet, um kit com quatro canetas de Mounjaro, para um mês de tratamento, não sai por menos de R$ 1.400.
É quase o valor de um salário mínimo (hoje em R$ 1.518) e duas cestas básicas em São Paulo (a mais cara do Brasil, custando R$ 850,84).
Isso não impediu que as vendas desses medicamentos superassem a marca de R$ 6 bilhões por ano. No mundo, estudos apontam que esse mercado pode ultrapassar US$ 150 bilhões até 2030. As canetas emagrecedoras são consideradas um dos principais motores da próxima fase de expansão da indústria farmacêutica.
Para André Bobek, especialista em planejamento financeiro, o gasto com canetas emagrecedoras, idealmente, não deve passar dos 5% do orçamento do mês. Parcelar para fazer o valor caber na conta não é recomendado.
"O correto é comprar o medicamento à vista, porque tem um desconto maior e, ao finalizar o tratamento, não fica dívida de longo prazo”, comenta.
Como o medicamento tem um preço elevado, é comum as farmácias permitirem que a compra seja parcelada em inúmeras parcelas, sem juros. E quem faz isso pode estar caindo numa armadilha financeira.
"Como tanto o diabetes quanto a obesidade são doenças crônicas, a princípio temos que pensar no uso contínuo desses medicamentos para ter o objetivo alcançado, seja a perda de peso ou controle da glicemia", explica a médica endocrinologista Diana Viegas Martins.
Ou seja: ao parcelar a compra, é praticamente certo que a medicação vai acabar e você ainda não terminou de pagar por ela. E tendo que seguir com o tratamento, vai desembolsar outro valor alto por uma nova "canetinha". Isso se não optar por parcelar novamente, formando uma bola de neve.
“Essa necessidade de ser de uso contínuo, pode colocar um custo no mês de quase mais um aluguel”, alerta Milene Dellatore, especialista em finanças e investimentos.
O planejamento financeiro para fazer uso de canetas emagrecedoras começa já no consultório médico.
"A medida que um novo produto é lançado, vem com um preço acima do que tinha o anterior. [...] Mesmo o mais barato, ainda é inacessível para boa parte da população", reconhece Diana Viegas.
"O médico tem que levar isso em consideração e conversar de forma clara com o paciente. Porque não adianta prescrever um medicamento que ele não vai usar".
Medicamentos à base de liraglutida, o precussor do Ozempic, já são vendidos em versão genérica no mercado brasileiro. O Olire, da EMS, estrou no mercado por R$ 307,26, a unidade, ou três canetas por R$ 760,61. Já o Lirux, indicado para diabetes tipo 2, chegou com preço indicado de R$ 507,07 pelo kit de duas canetas.
Alternativas como a semaglutida (substância do Ozempic) em versão oral, o Rybelsus, são mais em conta que os injetáveis, na casa dos R$ 500.
Os preços mais caros podem alcançar a marca dos R$ 4.202,50 em alguns estados, no caso da tirzepatida, o Mounjaro, em dosagens mais altas. O Wegovy, cuja substância é a semaglutida, mesma do Ozempic, alcança R$ 2.666,62 em alguns estados.
O alto custo foi barreira para que as canetas fossem incluídas no Sistema Único de Saúde (SUS). Mas, à medida que as patentes dos medicamentos foram expirando, a tendência é que eles fiquem mais baratos, com a entrada de biossimilares no mercado.