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Como preparar seus investimentos para o pior e ainda lucrar

Especialistas indicam alternativas para investir em títulos públicos, CDBs, ações, ouro e moedas

Ouro: refúgio nos momentos de aversão, investimento no ativo não é livre de riscos

Ouro: refúgio nos momentos de aversão, investimento no ativo não é livre de riscos

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Da Redação

Publicado em 8 de agosto de 2011 às 10h38.

São Paulo – As expectativas em relação às economias americanas e europeia cambalearam nos últimos dias e levaram consigo o desempenho das ações brasileiras. Diante de um cenário de lenta recuperação econômica mundial, o Ibovespa acumula queda de 23,6% com perspectivas de mergulhar ainda mais fundo. 

“Como a capacidade do Tesouro americano de emitir mais dívida diminuiu, os agentes estão contando com uma recuperação mais lenta dos EUA. Por outro lado, a crise fiscal na Europa virou um dominó: o contágio chegou à Itália e Espanha depois de Grécia, Portugal e Irlanda”, diz Otávio Vieira, diretor de investimentos da Safdié Gestão de Patrimônio. 

Para além da preservação de capital em um momento tão volátil, é possível montar uma carteira que garanta rentabilidade a despeito dos solavancos do mercado. Veja como se preparar para um abalo ainda mais forte e continuar ganhando dinheiro daqui para frente: 

Renda fixa

Em um cenário de instabilidade global, o enfraquecimento da economia afeta diretamente a demanda por commodities. Com o preço das matérias-primas mais baratas, a tendência é que a inflação dê uma trégua daqui para frente. Não por menos, especialistas acreditam que o prêmio pago por títulos públicos pré-fixados e atrelados ao IPCA deve diminuir no médio prazo. 

Como os juros recebidos por quem aplica nestes papéis é alto nos dias de hoje, quem investir nos títulos agora pode garantir um retorno que provavelmente não será ofertado no futuro. O investidor que optar pela estratégia também se resguarda de uma eventual queda da Selic se a taxa básica de juros for diminuída para estimular a economia, como aconteceu depois da crise de 2008.

Atualmente os títulos prefixados (LTNs e NTNFs) entregam até 12,5% ao ano, ao passo que os papéis ligados ao IPCA (NTNBs) garantem uma rentabilidade mínima de 6% ao ano acrescida da variação da inflação até a data de vencimento do título. “Quem compra uma NTNB para segurá-la até 2045 ganha juros anuais de 6,1% mais a evolução do IPCA no período. Onde no mundo você encontra uma aplicação com taxa de juros tão boa por um prazo tão longo?”, reforça Jurandir Macedo, professor de finanças da UFSC e consultor do Itaú Unibanco. 

Para quem investe em CDBs, a dica é priorizar os papéis emitidos por bancos maiores. Como a gama de serviços ofertada pelos bancos médios é menor, sem serviço de conta-corrente, investimento ou seguros, por exemplo, o caixa destas instituições depende em grande parte das captações feitas no mercado, mais difíceis durante períodos de crise. Se mesmo assim você optar por um CDB de banco médio para aproveitar a remuneração mais alta, uma dica que pode ser valiosa é respeitar o limité 70.000 reais que garantem depósitos bancários em qualquer instituição financeira brasileira. Assim, mesmo se o banco emissor quebrar, o correntista não terá nenhum prejuízo. 

Ações

Para Otávio Vieira, da Safdié, a bolsa brasileira vem sendo especialmente penalizada devido ao mecanismo de "stop loss" de muitos fundos de investimento, que dispara ordens de venda depois que o Ibovespa rompe determinados patamares. Assustados com a queda das ações, muitos investidores solicitam o resgate dos investimentos. Por sua vez, os gestores se desfazem de ainda mais posições para ter dinheiro em caixa. Além disso, a grande quantidade de IPOs realizada desde o ano passado pode ter contribuído para o mercado ficar pesado, incapaz de absorver toda a oferta de papéis. 

Aliadas ao pessimismo sobre os rumos da economia mundial, essas variáveis ajudam a manchar de vermelho as ações mais importantes da Bovespa. Mas se o mantra do mercado financeiro é comprar na baixa e vender na alta, a hora de encontrar papéis descontados pode ser agora


Segundo o diretor da Safdié, a bolsa continuará “maníaca-depressiva” até uma solução convincente ser apresentada para resolver o problema  fiscal na zona do Euro. Mas o especialista alerta: acertar o fundo do poço na mosca não será tarefa fácil. “Trace um objetivo de médio a longo prazo e vá comprando de forma gradual”, recomenda. Para ele, os fundamentos de muitas empresas permanecem sólidos e vão recompensar o investidor em um horizonte mais estendido. 

Outra alternativa é optar por ações de concessionárias públicas, como empresas de energia elétrica, telefone e água. Como as companhias têm forte geração de caixa e não precisam de investimentos constantes para continuar provendo seus serviços, elas costumam distribuir o lucro entre os acionistas sob a forma de dividendos mais polpudos. Os bens ofertados tampouco deixam de ser consumidos na crise, fazendo com que as ações sejam menos afetadas pela volatilidade do mercado. 

“Via de regra essas ações caem menos em momentos de incerteza”, diz o consultor financeiro Jurandir Macedo. Justamente por isso, os papéis são indicados para quem prioriza embolsar dividendos a ganhar com a valorização dos ativos. “Mesmo assim, acho que faz mais sentido apostar nestes setores na euforia, quando as outras ações estão caras. Nos momentos de crise, prefiro olhar para as boas empresas que já caíram muito.” 

Ouro

Por ser um recurso físico limitado no mundo, o ouro tem chances reduzidas de perder valor. Por isso, quando a insegurança contamina o mercado o metal vira o refúgio de muitos investidores. Neste ano, o valor da onça-troy, cotado em dólares na bolsa de Nova York, subiu mais de 15% até julho. 

Mas como a moeda norte-americana sofreu uma forte pressão de baixa nos últimos meses, a apreciação do real acabou neutralizando a valorização do metal por aqui. Pela cotação da BM&FBovespa, o ouro entregou um rendimento de 7,3% no mesmo período – menor, mas ainda assim expressivo. No Brasil, é possível investir no ativo via contrato futuro, barras de ouro, joias, fundos de investimento e no mercado informal.

Para o professor Jurandir Macedo, entretanto, fica difícil avaliar como será o comportamento do metal, já que sua escalada não é guiada por fundamentos. “Imagine alguém que comprou um quilo de ouro em 1970. Esta pessoa continua com um quilo de ouro hoje. Se tivesse adquirido uma ação como a da Petrobras, este investidor teria um pedacinho de uma empresa que cresceu mais de 100 vezes no mesmo espaço de tempo.”

“Eu acho que o metal não é uma boa opção para o investidor pequeno. O acesso é complicado e a expressiva valorização dos últimos quatro anos carrega o risco de ele sofrer uma bela queda”, completa Otávio Vieira, da Safdié. 


 

Moedas

No mundo todo o dólar vem desvalorizando ante diferentes moedas. No Brasil, a tendência ganha força por vários motivos. Os títulos públicos que remuneram com juros de dois dígitos, a bolsa barata e o interesse de empresas internacionais no nosso mercado aumentam o fluxo da moeda para o país, elevando a oferta e jogando o preço do dólar para baixo.

Na última semana, contudo, a moeda disparou por duas razões: o governo anunciou medidas mais severas para frear a depreciação do dólar e a aversão ao risco fez com que muitos investidores estrangeiros tirassem dinheiro da bolsa, desviando seus ativos para o mercado cambial. 

O movimento exemplifica o comportamento da moeda norte-americana: valorização na recessão e tendência de queda quando há injeção de liquidez no mundo, com países ricos imprimindo dinheiro para estimular suas combalidas economias. Na visão do diretor de investimento da Safdié Otávio Vieira, ainda é cedo para saber qual dos caminhos o dólar deve trilhar daqui em diante e, por isso, a aposta contra ou a favor da moeda não deixa de ser uma aplicação de risco.

“Tanto nas carteiras de fundos multimercados quanto na de fundos soberanos deve haver uma busca maior por moedas de países fiscalmente responsáveis: dólar canadense e franco suíço podem ser opções”, diz o especialista. “Investir em euro, iene ou dólar é como ver corrida de Fórmula 1 em uma chuva pesada: você começa sem saber quem vai ganhar.”

Acreditando na diversificação do investimento em moedas, a BM&FBovespa vai lançar derivativos com seis novas taxas de câmbio no dia 15 de agosto. Serão contratos de reais por randes (África do Sul), iuanes (China), liras turcas, dólares da Nova Zelândia, pesos chilenos e francos suíços.

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