Minhas Finanças

Os ensinamentos do “Gustavo Cerbasi português”

Autor do livro de finanças pessoais mais vendido de Portugal, Pedro Queiroga Carrilho dá dicas sobre como ganhar mais, poupar e investir

Pedro Queiroga Carrilho: o ideal é ter mais de uma fonte de renda e investir a parte que será poupada assim que o dinheiro cair na conta (Divulgação)

Pedro Queiroga Carrilho: o ideal é ter mais de uma fonte de renda e investir a parte que será poupada assim que o dinheiro cair na conta (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 15 de setembro de 2011 às 09h35.

São Paulo – Pedro Queiroga Carrilho é uma espécie de Gustavo Cerbasi português. Em 2008, ele publicou “O Seu Primeiro Milhão”, que se tornou o livro de finanças pessoais mais vendido do país europeu. Assim como Cerbasi, ele abordou a relação dos casais com o dinheiro em seu segundo livro, “O Primeiro Milhão para Casais”. “Descubra o Milionário que Há em Si” é sua obra mais recente e será tema de uma palestra que o português fará na edição paulistana da Expo Money, que acontece na próxima semana em São Paulo (clique aqui e veja a programação).

EXAME.com conversou Queiroga Carrilho sobre renda, poupança e investimentos. O discurso e os ensinamentos são muito parecidos com os do livro “Pai Rico, Pai Pobre”, de Robert Kiyosaki e Sharon Lechter, de quem Queiroga Carrilho admite ser fã. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Como ganhar mais

O empreendedorismo é o caminho mais curto para ganhar muito dinheiro. É bem difícil ficar rico trabalhando para alguma empresa. A estrutura hierárquica das companhias só permite a alguns poucos chegar ao topo e receber bons salários e bônus. Aqui em Portugal, por exemplo, a renda média é de apenas 900 euros. Não propago a ilusão de que é fácil abrir um negócio próprio de sucesso. Empreender exige trabalho duro. O que defendo é que a recompensa é maior para os homens de negócios.

Uma barreira ao empreendedorismo é que as escolas não preparam as pessoas para isso. Aprendemos a ser bons técnicos ou a nos esmerar em conhecimentos que vão ajudar nossas carreiras dentro da empresa de um terceiro. Mas quase nada nos ensinam sobre como lidar com investimentos, gestão de risco, abertura de empresas e planejamento de novos negócios. É preciso ir atrás desse conhecimento.

O que eu recomendo a quem está empregado em uma empresa é iniciar trabalhos paralelos que levem à criação de várias fontes de rendimento. De novo, sei que fazer isso não é fácil. Muita gente trabalha 10 ou 12 horas por dia no emprego e já está exausta ao final do expediente. Abrir um negócio próprio dá muito trabalho e dificilmente pode ser conciliado com essa jornada. Mas com uma hora por dia, é possível pesquisar sobre investimentos em bolsa ou garimpar boas oportunidades no mercado imobiliário, por exemplo.

Não tenho a ilusão de que há apenas um caminho para empreender. Eu, por exemplo, estudo finanças pessoais desde os 15 anos. A criação de minha empresa de cursos sobre esse tema foi bem natural. As pessoas devem procurar adquirir conhecimentos que valham dinheiro. As boas oportunidades naturalmente começarão a surgir. Reunir várias fontes de renda é a única forma de manter uma vida tranquila financeiramente caso haja algum imprevisto à frente.

Como poupar todos os meses

Por questões culturais, o brasileiro não é muito afeito à poupança. Durante várias décadas, a inflação motivou as pessoas a consumir o mais rápido possível, antes que o poder de compra do salário fosse corroído. Essa cultura inflacionária já não existe nas novas gerações, mas acho que todos podem aprender a poupar mais.

O beabá da poupança é pagar primeiro a você mesmo. Quem recebe um salário deve, em primeiro lugar, separar uma parte para investir. Eu recomendo que 10% da renda líquida seja direcionada à poupança imediatamente. 


Mas isso não é suficiente. Mesmo investindo antes, a pessoa ainda pode chegar ao final do mês e ter gasto mais do que ganhou. Tal como uma empresa, as pessoas precisam controlar o “cash flow” – ou seja, as receitas e as despesas. É necessário ter uma lista dos gastos detalhada e controlar para onde vai o dinheiro. Ao fazer isso, muita gente se surpreende. Um amigo meu descobriu que gastava 500 euros por mês em restaurantes e padarias. Se fizer as contas, qualquer um vai descobrir coisas interessantes.

Gastar menos do que ganha é a única forma de evitar o endividamento extremo. Cartões de crédito, por exemplo, exigem muito cuidado. Se uma pessoa investisse 1.000 euros ao mês e recebesse como juros as mesmas taxas cobradas pelo cartão de crédito, seria possível ficar milionário em poucos anos em Portugal.

Como investir a poupança

Investir é fazer o dinheiro trabalhar para você. Costumo dizer que há três regras de ouro para o investimento. A primeiro é só investir no que você conhece. A maioria dos brasileiros e portugueses gosta muito de produtos de renda fixa. Eu não vejo problema nenhum nisso. Só gostaria de chamar a atenção para o fato de que um produto de renda fixa como a caderneta de poupança vai perder para a inflação em determinados anos. Isso quer dizer que a pessoa que investe em poupança não apenas não está ficando mais rica como terá seu poder de compra corroído nesses períodos. Então acho que as pessoas também devem aprender mais sobre o funcionamento das bolsas e colocar ao menos parte do patrimônio em ações.

A segunda regra dos investimentos é saber diversificar. O dinheiro deve ser distribuído entre diversos fundos, ações ou commodities para que o risco da aplicação seja reduzido. Na bolsa, por exemplo, se a diversificação não for bem-feita, a perda com uma única empresa pode prejudicar o desempenho de uma carteira de tal forma que o próprio investimento em bolsa se torne menos rentável que o na renda fixa. Além de conhecer bem as empresas onde está investindo, eu recomendo que as pessoas escolham apenas algumas grandes companhias porque o risco é menor.

Por último, acho que as pessoas devem adotar algum modelo de gestão de risco. Em minha opinião, se uma pessoa perde mais de 10% com alguma ação, deve parar de investir. Quando estamos falando em ativos de risco, é necessário ter disciplina. A melhor forma de fazer isso é definir um valor máximo de perda e programar a venda automática caso esse limite seja atingido. As corretoras oferecem esse recurso de “stop loss”. Recomendo que ele seja sempre usado.

Em relação às minhas preferências, costumo investir em ações, fundos e matérias-primas apenas com o dinheiro que não será usado nos próximos seis meses ou mais. Para operações de curtíssimo prazo, gosto de contratos futuros, mas alerto que eles exigem muita dedicação e conhecimento do investidor.

Costumo chamar a atenção das pessoas para o fato de que sempre há oportunidades no mercado financeiro. O momento atual é muito perigoso devido às incertezas fiscais que pariam sobre a Europa e os Estados Unidos. Especificamente neste momento, acho que o ouro é uma boa opção. O problema é que a onça valia 200 dólares no começo da década passada e hoje custa mais de 1.800 dólares. É preciso ser bem cuidadoso.

Em Portugal, há excelentes oportunidades no mercado imobiliário. Os preços caíram muito devido à crise e ficaram interessantes. Más é sempre importante diversificar. O ideal é ter dinheiro em diversos países. Os portugueses só conseguem investir nas empresas brasileiras que estão listadas na Bolsa de Nova York porque não há uma integração direta das corretoras com a Bovespa, mas acredito que há boas oportunidades no Brasil.

O Ibovespa caiu muito nos últimos meses, em linha com outras bolsas internacionais. A volatilidade anda muito alta no mercado, o que dificulta ainda mais a tarefa de entrar e sair da bolsa na hora certa. Eu já ouvi que há tempos de estar comprado em bolsa, há épocas em que é melhor estar vendido e também há a hora certa de ir pescar. Não acho que agora seja hora de ir pescar. Acho que é tempo de comprar algumas ações, ainda que de forma moderada.

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